terça-feira, 11 de março de 2025

A BÍBLIA E A MULHER – 1ª parte



Na perspectiva bíblica, logo no seu capítulo inicial pode ser lido que ao criar o ser humano Deus os moldou à sua imagem e semelhança.  E essa imagem e semelhança divina foi dada igualmente a ambos – macho e fêmea (em Gn 1:27).  Dessa forma, fica claro que no projeto inicial de Deus para a humanidade, embora fisicamente diferenciados em sexos, não deveria haver distinção em relação a sua dignidade pois ambos refletiriam a beleza da imagem e semelhança do Criador.

E embora o capítulo dois de Gênesis se ocupe em descrever de maneira diferenciada a criação de cada um dos gêneros humanos, isso não pode desconsiderar – ou sequer conflitar – com a verdade já exposta em Gn 1:27.  E entendo que aqui está inclusive a força da imagem de Deus na humanidade.  Aqui é dito que “não é bom que o homem esteja só” (no verso de 2:18), por isso o homem precisaria de “uma ajudadora que lhe seja idônea” (no mesmo verso); para que ambos e juntos possam refletir igualmente uma imagem melhor (duplamente boa!) de Deus.

Um detalhe: no texto em sua língua original, o termo para se referir aqui à mulher como ajudadora (ou auxiliadora no Gênesis) é a mesma que o Salmo usa para se referir a Deus como nosso auxiliador e protetor (confira o Sl 33:20).  Ou seja, não há, na expressão, nenhuma conotação de preconceito, rebaixamento, misoginia ou desprestígio da mulher em seu lugar na ordem criada.  Ela tem seu lugar e valor, e deve sempre ser assim tratada.  Ainda que eventualmente esteja colocada em papel diferente do masculino, mas para Deus a mulher nunca será inferior, subalterna ou menosprezada.

Com o pecado, porém, isso foi alterado.  A consequência da desobediência original foi o desarranjo total de tudo o que Deus planejou para sua criação.  Então é certo compreender que qualquer posicionamento e atitude que desqualifique a mulher é pecado – e resultado deste – pois vai contra o plano e vontade de Deus.

 

Voltando às narrativas bíblicas, é possível observar que, mesmo em contextos de pecado e decadência, o Senhor nunca abandonou sua visão da mulher nem a relegou a uma posição de irrelevância, nem de alienação.  Veja alguns exemplos:

 

Antes do reinado em Israel, o único nome que acumulou as funções de líder espiritual e chefe político-militar foi a juíza Débora (Jz 4).  Também, em um tempo quando homens como Jeremias já exerciam seu ministério, Hulda foi a profetiza escolhida para interpretar corretamente o texto encontrado (em 2Rs 22:14 e 2Cr 34:22).  E no Novo Testamento, o Evangelho de Lucas registra pelo nome três mulheres que acompanhavam o ministério de Jesus: Maria de Magdala, Joana mulher de Cuza e Suzana (Lc 8:2-3).  Além de constar em Hb 11 os nomes de Sara e Raabe no rol de heróis da fé.

Importante também destacar que foi às mulheres que Jesus se mostrou em primeiro lugar quando de sua ressurreição (confira Lc 24 e Jo 20).

 

Certamente, contudo, no Antigo Testamento, é na narração da mulher virtuosa onde o texto apresenta o reconhecimento do valor da mulher – acima de rubis (confira toda a exposição a partir de Pv 31:10).  Pela descrição do texto, o valor da mulher está em fazer o bem, cuidar da família e dos filhos, mas também – e principalmente – abastecer de provisões sua casa, administrar com lucro os negócios dentro e fora de casa, gerenciar as propriedades, falar com sabedoria e ser um referencial para seus filhos. 

Uma mulher assim – como percebida no projeto de Deus – o texto reconhece que força e a credibilidade lhe são como vestido; e ela já celebra o dia de amanhã (Pv 31:25).