Prefiro
este termo à batismo de adultos, porque batizamos crianças e adolescentes. Não batizamos bebês. A idéia de que o batismo tinha poder salvador
se arraigou lentamente na igreja. Pelo
quarto século, o sacramentalismo impôs a ceia e o batismo como sacramentos que
deviam ser ministrados para trazerem graça espiritual. O batismo passou a ser algo praticado para se
alcançar a salvação. Mas desde o segundo
século que a prática de batizar crianças se institucionalizara na igreja. Segundo O Didaquê, obra ainda do
primeiro século, a igreja primitiva usava a imersão e a afusão como métodos de
batismo. Parece que as crianças (não no
Novo Testamento, pois não temos notícia de batismo infantil neste período) eram
submetidas à afusão e, mais tarde, à aspersão.
A idéia
do batismo como sacramento deve nos alertar.
Com muita facilidade as pessoas transferem para objetos, gestos e ritos,
alguns poderes especiais (no seu entendimento).
Muitas vezes sacramentamos formas e ritos. Já ouvi gente dizer que o Cantor Cristão é
inspirado e que nunca deveríamos ter um novo hinário, que não é inspirado. Inspirado, para nós, é só a Bíblia. Nenhum material pode ser visto como sagrado. Isto traz problemas, pelos desdobramentos
posteriores. O Cantor Cristão é bom, e
mais seguro que uma multidão de corinhos aguados, bobinhos, e sem conteúdo que
nos empurram em nossos cultos, mas não é inspirado.
Os
separatistas se esforçaram para haver uma igreja composta apenas de crentes
regenerados. Só se pode ser membro da
igreja pelo batismo e este só pode ser aplicado a pessoas conscientes do que
fazem. Ninguém pode impor o batismo a
outro. E a única motivação é a conversão
a Jesus. Batizei uma pessoa que fora
batizada na Universal. Antes de fazê-lo,
quando questionei o porquê de seu batismo, a resposta veio mais ou menos nestes
termos: “Eu recebi uma bênção lá na igreja.
Aí me disseram que se eu quisesse continuar sendo abençoada eu deveria
ser da igreja e para isso teria que me batizar.
Então fui batizada para continuar sendo abençoada”. Não é esta a motivação para o batismo. A motivação é a fé em Jesus. Os textos bíblicos são claros: “quem crer e
for batizado” (Mc 16.16) e “Que impede que eu seja batizado? É lícito se crês…”
(At 8.36-37).
A
adoção do cristianismo pelo poder civil levou muita gente a se batizar, mas sem
nenhuma convicção religiosa. A igreja
recebeu membros incrédulos, não regenerados, mas submetidos a um ritual chamado
batismo. Este é um problema quando as
linhas entre o poder civil e a igreja são tênues ou são apagadas. A igreja deixa de ser igreja.
A concepção
mágica do batismo também produziu muitos membros da igreja incrédulos. Há informes da crise teológica de jesuítas
que vieram para o Brasil. Acreditavam
que batizando o índio, este se converteria, pois o batismo tinha um poder
sacramental, mágico-mítico. Mas
batizava-se o índio e este continuava antropófago e idólatra. O batismo não regenera. Deve testemunhar a regeneração. O batismo consciente de adultos faz com que a
igreja se componha de convertidos. Se
hoje, batizando apenas adultos, temos uma quantidade enorme de gente encostada
em nosso meio, imagine-se batizando-se bebês recém-nascidos e considerando-os
membros da igreja!
Esta
insistência no batismo somente de crentes fez com que o rótulo de “anabatistas”
fosse aplicado a muita gente que nada em comum tinha com os anabatistas. E algumas pessoas o aplicam aos primeiros
batistas. Mas este era um termo
genérico, como é hoje o termo “evangélico” que para nossa “bem informada” mídia
engloba todo mundo que não seja católico.
Mas os anabatistas remontam a 1490, sendo Conrado Grebel, um
ex-cooperador de Zuínglio, seu fundador.
Discordou de Zuínglio por não aceitar o batismo infantil. Com os anabatistas, os batistas tinham em
comum o batismo apenas de regenerados, uma Igreja composta apenas de regenerados,
a supremacia das Escrituras e a liberdade civil e religiosa. Mas discordavam deles no seu pacifismo
radical, sua omissão como cidadãos (alguns anabatistas viam o Estado como
demoníaco) e sua proibição de juramentos, inclusive em tribunais, além de
pontos de vista teológicos sobre encarnação e hipnose da alma e a necessidade
da sucessão apostólica para o batismo. Mas
voltemos à visão sobre o batismo consciente de crentes.
Neste
aspecto do batismo, os batistas devem aos menonitas. De 1609 até 1638, os batistas praticavam
apenas a afusão. No contato com os
menonitas aprenderam o batismo por imersão.
Em 1638, a Igreja de Spilsbury declarou que só aceitaria o batismo por
imersão. Em 1644, sete igrejas batistas
assumiram uma declaração doutrinária, chamada de “Confissão de Londres”, em que
a forma de batismo era por imersão, aceitando a declaração da Igreja de
Spilsbury. Desde então, esta vem sendo a
prática dominante em nosso meio.
Extraído de uma palestra preparada pelo
Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013)
para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.
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