terça-feira, 22 de novembro de 2016

Os Grandes Princípios Batistas – BATISMO E CEIA COMO ORDENANÇAS E NÃO COMO SACRAMENTOS

Sacramento é o ato religioso que santifica ou confere graça a quem o recebe.  Ordenança é o reconhecimento de quem uma determinada ordem foi atribuída a alguém.  Há uma diferença muito grande entre os dois.  A idéia do batismo e da ceia do Senhor como sacramentos data do quarto século.  E veio um desdobramento: por serem ritos mágicos, eles necessitam de uma classe especial de pessoas.  Por isso, com o sacramento veio logo o surgimento de um clero.  Para a Igreja Católica, os sacramentos são sete: batismo, confirmação, eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio.  São elementos que conferem graças.
Os batistas entendem que Jesus deixou duas celebrações que as igrejas devem observar: o batismo e a ceia.  Não transmitem graça, mas são atos de celebração da fé.  O batismo celebra e testemunha nossa conversão a Cristo e proclama a disposição de uma vida com ele.  A ceia celebra a morte vicária de Cristo e anuncia sua volta.  Alguns outros pequenos grupos batistas adotam, ainda o lava-pés.  Mas são poucos.
Já falei um pouco sobre batismo.  Abordamo-lo aqui apenas pelo ângulo de não ser um sacramento.  Falo, então, da ceia.  A postura católica é a da transubstanciação: o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo.  Isso se dá quando do ofertório, na missa, quando o padre oferece os elementos a Deus.  Eles são transformados.  Por isso, não chame o momento de dízimos e ofertas de “ofertório”.  A menos que haja lá algum padre que esteja transformando os elementos no corpo e sangue de Cristo.  Os batistas não têm “ofertório”.  Têm “devolução dos dízimos”.  “Devolução” porque dízimo não se paga nem se dá.  Devolve-se.  Não é nosso, é de Deus e veio à nossa mão por algum momento.
Lutero adotou a consubstanciação: o pão e o vinho não se transformam no corpo e sangue de Cristo, mas Cristo está com a substância.  Zuínglio defendia a presença espiritual de Cristo quando da celebração da ceia.  Os batistas não aceitam nenhuma destas posições.  Entendem ser um memorial.  Baseam-se nas palavras de Jesus: “fazei isto em memória de mim”.  Batismo e ceia não conferem graças, mas testemunham de nossa fé.  Por isso que não chamamos a ceia de “santa ceia”.  Não chamamos o batismo de “santo batismo”.  O valor da cerimônia não está na sua possível santidade, mas no seu sentido.
É preciso reafirmar nossa posição anti-sacramentalista, porque vemos hoje o regresso desta prática, metamorfoseada pelo neopentecostalismo, no meio das igrejas evangélicas.  O cenário evangélico atual apresenta um cenário com elementos mágicos e sagrados presentes.  Há igrejas distribuindo sal do mar Morto para “abrir caminho”, azeite que teria vindo do monte das Oliveiras sendo usado para ungir as pessoas (há alguma usina de beneficiamento de azeitonas lá?) e até crucifixos feitos da cruz de Jesus (pastores evangélicos, sim!).  Generaliza-se a prática de beber água de um copo devidamente benzido pela oração do pastor, tão supersticiosa como a água benta do padre.  Uma pessoa alegou que se sentiu bem depois de beber daquela água.  É a figura sacramental: o sentimentalismo e a sensação ocupam o lugar da Bíblia.  Há um fetichismo em nosso meio: terra santa, areia santa, água santa, sal santo, folha de oliveira santa, etc.  No cristianismo as pessoas são santas, e não as coisas.  No cristianismo não há lugares e objetos santos.
Considerar objetos como sagrados leva a santificá-los.  Aí surgem duas irmãs gêmeas: a idolatria e a superstição.  Por isso reafirmemos: não temos sacramentos e repudiamos a espiritualização de símbolos e de gestos.  O transmissor de graça é o Espírito Santo.  Ele habita em nós, se somos convertidos.  Se alguém não é, pode se afogar nas águas do Jordão, ficar com barriga d’água de tanto beber água ungida pela oração do pastor, que isso não adiantará nada.  A fé deve ser posta em Deus e não em coisas nem em gestos nem em ritos.  Um batista que preze sua identidade não se envolverá com o fetichismo neo-sacramentalismo pentecostal.

Extraído de uma palestra preparada pelo Pr.  Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013) para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.

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