Sacramento
é o ato religioso que santifica ou confere graça a quem o recebe. Ordenança é o reconhecimento de quem uma
determinada ordem foi atribuída a alguém.
Há uma diferença muito grande entre os dois. A idéia do batismo e da ceia do Senhor como
sacramentos data do quarto século. E veio
um desdobramento: por serem ritos mágicos, eles necessitam de uma classe
especial de pessoas. Por isso, com o
sacramento veio logo o surgimento de um clero.
Para a Igreja Católica, os sacramentos são sete: batismo, confirmação,
eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio. São elementos que conferem graças.
Os
batistas entendem que Jesus deixou duas celebrações que as igrejas devem
observar: o batismo e a ceia. Não
transmitem graça, mas são atos de celebração da fé. O batismo celebra e testemunha nossa
conversão a Cristo e proclama a disposição de uma vida com ele. A ceia celebra a morte vicária de Cristo e
anuncia sua volta. Alguns outros
pequenos grupos batistas adotam, ainda o lava-pés. Mas são poucos.
Já
falei um pouco sobre batismo. Abordamo-lo
aqui apenas pelo ângulo de não ser um sacramento. Falo, então, da ceia. A postura católica é a da transubstanciação:
o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo. Isso se dá quando do ofertório, na missa,
quando o padre oferece os elementos a Deus.
Eles são transformados. Por isso,
não chame o momento de dízimos e ofertas de “ofertório”. A menos que haja lá algum padre que esteja
transformando os elementos no corpo e sangue de Cristo. Os batistas não têm “ofertório”. Têm “devolução dos dízimos”. “Devolução” porque dízimo não se paga nem se
dá. Devolve-se. Não é nosso, é de Deus e veio à nossa mão por
algum momento.
Lutero
adotou a consubstanciação: o pão e o vinho não se transformam no corpo e
sangue de Cristo, mas Cristo está com a substância. Zuínglio defendia a presença espiritual de
Cristo quando da celebração da ceia. Os
batistas não aceitam nenhuma destas posições.
Entendem ser um memorial. Baseam-se
nas palavras de Jesus: “fazei isto em memória de mim”. Batismo e ceia não conferem graças, mas
testemunham de nossa fé. Por isso que
não chamamos a ceia de “santa ceia”. Não
chamamos o batismo de “santo batismo”. O
valor da cerimônia não está na sua possível santidade, mas no seu sentido.
É
preciso reafirmar nossa posição anti-sacramentalista, porque vemos hoje o
regresso desta prática, metamorfoseada pelo neopentecostalismo, no meio das
igrejas evangélicas. O cenário
evangélico atual apresenta um cenário com elementos mágicos e sagrados
presentes. Há igrejas distribuindo sal
do mar Morto para “abrir caminho”, azeite que teria vindo do monte das
Oliveiras sendo usado para ungir as pessoas (há alguma usina de beneficiamento
de azeitonas lá?) e até crucifixos feitos da cruz de Jesus (pastores
evangélicos, sim!). Generaliza-se a
prática de beber água de um copo devidamente benzido pela oração do pastor, tão
supersticiosa como a água benta do padre.
Uma pessoa alegou que se sentiu bem depois de beber daquela água. É a figura sacramental: o sentimentalismo e a
sensação ocupam o lugar da Bíblia. Há um
fetichismo em nosso meio: terra santa, areia santa, água santa, sal santo,
folha de oliveira santa, etc. No
cristianismo as pessoas são santas, e não as coisas. No cristianismo não há lugares e objetos
santos.
Considerar
objetos como sagrados leva a santificá-los.
Aí surgem duas irmãs gêmeas: a idolatria e a superstição. Por isso reafirmemos: não temos sacramentos e
repudiamos a espiritualização de símbolos e de gestos. O transmissor de graça é o Espírito Santo. Ele habita em nós, se somos convertidos. Se alguém não é, pode se afogar nas águas do
Jordão, ficar com barriga d’água de tanto beber água ungida pela oração do
pastor, que isso não adiantará nada. A
fé deve ser posta em Deus e não em coisas nem em gestos nem em ritos. Um batista que preze sua identidade não se
envolverá com o fetichismo neo-sacramentalismo pentecostal.
Extraído de uma palestra preparada pelo
Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013)
para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.
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