segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A VARA E A DISCIPLINA

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Oi querida, a paz.

Li seu questionamento sobre a vara o seu uso na disciplina e me ocupei um pouco pensando nele.  Sei que já se passaram alguns dias, mas creio que ainda podemos refletir sobre ele – a Palavra de Deus é sempre atual e relevante.
E é exatamente deste ponto de partida que quero começar: atual e relevante.
Muito se tem falado e discutido sobre o tema da vara e da disciplina.  Alguns ignoram o texto sagrado, enquanto outros citam a Bíblia de maneira simplista e literal – o que penso não ajudar em nada.  Mas ela – a Bíblia – é necessariamente nossa única regra de fé e prática.  E como Palavra Revelada continua "atual e relevante".
Vamos às considerações:
Você citou os textos de Pv 13:14 (acho que deveria ser o verso 24); 22:15 e 23:13-14.  Eles não são os únicos que tratam do tema, mas vamos trabalhá-los um pouco.
A palavra que costumeiramente traduzimos como vara nestes textos é o hebraico שבט (sebet), que o dicionário traduz como: vara, cajado, bordão, bastão ou ainda cetro.  O objeto em questão pode indicar tanto o cajado que um pastor usa no seu trabalho de pastoreio (e aqui teremos diversas aplicações – voltarei a elas) como o símbolo régio (acho que não é o caso aqui).
Ainda sobre a palavra em si: ela é a mesma que encontramos no Sl 23:4 – a tua vara e teu cajado me consolam.
Volto depois a caminhar com o Salmo 23.
Por ora, vamos considerar o ato de disciplina corretiva necessária, conforme indicado no contexto bíblico. 
A primeira verdade a enfatizar é que, sempre no texto bíblico, Deus e suas atitudes são o nosso padrão.  E o que lemos em Hb 12:6 é que o Senhor corrige quem ama e traz açoite a quem recebe por filho.
Eu sei que o contexto sócio-histórico era outro e por isso não adianta buscar palavras literais na intenção de encontrar uma compreensão adequada para o texto.
Olhando para o texto aos Hebreus, a argumentação é sobre a relação entre filiação humana e paternidade divina.  O exemplo é do próprio Cristo que pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz.  Este é o nosso modelo.  Então a ênfase do texto não está na punição, mas em suportar a correção – já que herdamos a filiação – para que finalmente alcancemos um fruto pacífico de justiça (recomendo a leitura de todo o texto: Hb 12:1-11).
Sei que o tema é complexo e talvez tenha que me alongar mais um pouco, vamos lá:
Tem ainda a citação de Pv 19:18 que traz uma instrução categórica sobre corrigir com castigo o filho, mas nunca a ponto de feri-lo.  À isto acrescente a recomendação paulina de Ef 6:4 de não provocar a ira dos filhos.  Este é um caminho de exegese.
Entendo que já dá para perceber que o contexto geral da Palavra de Deus é sobre corrigir, inclusive com ações físicas, se necessárias, mas que todas estas ações sejam motivadas pelo amor paternal – como é o exemplo divino – e que sempre se mantenham um limite.
Sobre a prática da punição, aproveito uma citação do John Piper, que, se não for conclusiva, pelo menos é bastante elucidativa:

“Bater é uma aplicação controlada de um ato não danoso de dor branda que faz a criança ver a seriedade do que ela fez”. Além do mais, é importantíssimo ressaltar que a base da educação de filhos cristã não está na disciplina corretiva (vara), mas formativa (ensino e diálogo):
“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.  Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (Dt 6:4-7).

Mas, e a vara em si?  Aqui quero chegar no que jugo ser o principal na compreensão do tema.  E para isso volto ao Salmo 23.
A vara com a qual o meu Pastor Sublime me conduz (acho que tange seria apropriado!) é a demonstração palpável de seu cuidado.  É o pastoreio que me toca, indica o caminho das águas tranquilas, serve de referência enquanto ando pelo vale da sombra da morte e, quando indispensável, ela é usada para me trazer de volta, ainda que para isso tenha que me puxar com força!
Ora se o objetivo primário motivado pelo amor pastoral é trazer a ovelha para o redil, então trazer dor física, moral ou espiritual e deixar sequelas está completamente fora de questão – seria um contra-senso!
Ou seja, a vara é indispensável na formação de nossas crianças, mas que ela seja como a do Pastor Eterno.
Sugiro aqui considerar novamente Hb 12:6 e mais ainda Pv 3:12.

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