Novamente
recebido nas redes sociais:
Compartilho a resposta:
Oi querida, a paz.
Li seu questionamento sobre a vara
o seu uso na disciplina e me ocupei um pouco pensando nele. Sei que já se passaram alguns dias, mas creio
que ainda podemos refletir sobre ele – a Palavra de Deus é sempre atual e
relevante.
E é exatamente deste ponto de
partida que quero começar: atual e relevante.
Muito se tem falado e discutido
sobre o tema da vara e da disciplina.
Alguns ignoram o texto sagrado, enquanto outros citam a Bíblia de
maneira simplista e literal – o que penso não ajudar em nada. Mas ela – a Bíblia – é necessariamente nossa
única regra de fé e prática. E como
Palavra Revelada continua "atual e relevante".
Vamos às considerações:
Você citou os textos de Pv 13:14
(acho que deveria ser o verso 24); 22:15 e 23:13-14. Eles não são os únicos que tratam do tema,
mas vamos trabalhá-los um pouco.
A palavra que costumeiramente
traduzimos como vara nestes textos é o hebraico שבט (sebet), que
o dicionário traduz como: vara, cajado,
bordão, bastão ou ainda cetro. O objeto em questão pode indicar tanto o
cajado que um pastor usa no seu trabalho de pastoreio (e aqui teremos diversas
aplicações – voltarei a elas) como o símbolo régio (acho que não é o caso aqui).
Ainda sobre a palavra em si: ela é
a mesma que encontramos no Sl 23:4 – a
tua vara e teu cajado me consolam.
Volto depois a caminhar com o
Salmo 23.
Por ora, vamos considerar o ato de
disciplina corretiva necessária, conforme indicado no contexto bíblico.
A primeira verdade a enfatizar é
que, sempre no texto bíblico, Deus e suas atitudes são o nosso padrão. E o que lemos em Hb 12:6 é que o Senhor
corrige quem ama e traz açoite a quem recebe por filho.
Eu sei que o contexto
sócio-histórico era outro e por isso não adianta buscar palavras literais na
intenção de encontrar uma compreensão adequada para o texto.
Olhando para o texto aos Hebreus,
a argumentação é sobre a relação entre filiação humana e paternidade
divina. O exemplo é do próprio Cristo
que pelo gozo que lhe estava proposto
suportou a cruz. Este é o nosso
modelo. Então a ênfase do texto não está
na punição, mas em suportar a correção – já que herdamos a filiação – para que
finalmente alcancemos um fruto pacífico
de justiça (recomendo a leitura de todo o texto: Hb 12:1-11).
Sei que o tema é complexo e talvez
tenha que me alongar mais um pouco, vamos lá:
Tem ainda a citação de Pv 19:18
que traz uma instrução categórica sobre corrigir com castigo o filho, mas nunca
a ponto de feri-lo. À isto acrescente a
recomendação paulina de Ef 6:4 de não provocar a ira dos filhos. Este é um caminho de exegese.
Entendo que já dá para perceber
que o contexto geral da Palavra de Deus é sobre corrigir, inclusive com ações
físicas, se necessárias, mas que todas estas ações sejam motivadas pelo amor
paternal – como é o exemplo divino – e que sempre se mantenham um limite.
Sobre a prática da punição,
aproveito uma citação do John Piper, que, se não for conclusiva, pelo menos é
bastante elucidativa:
“Bater é uma aplicação controlada de um ato não danoso de dor branda
que faz a criança ver a seriedade do que ela fez”. Além do mais, é
importantíssimo ressaltar que a base da educação de filhos cristã não está na
disciplina corretiva (vara), mas formativa (ensino e diálogo):
“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único
SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno
estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao
levantar-te.” (Dt 6:4-7).
Mas, e a vara em si? Aqui quero chegar no que jugo ser o principal
na compreensão do tema. E para isso
volto ao Salmo 23.
A vara com a qual o meu Pastor
Sublime me conduz (acho que tange seria apropriado!) é a demonstração
palpável de seu cuidado. É o pastoreio
que me toca, indica o caminho das águas tranquilas, serve de referência
enquanto ando pelo vale da sombra da morte e, quando indispensável, ela é usada
para me trazer de volta, ainda que para isso tenha que me puxar com força!
Ora se o objetivo primário
motivado pelo amor pastoral é trazer a ovelha para o redil, então trazer dor
física, moral ou espiritual e deixar sequelas está completamente fora de
questão – seria um contra-senso!
Ou seja, a vara é indispensável na
formação de nossas crianças, mas que ela seja como a do Pastor Eterno.
Sugiro aqui considerar novamente Hb
12:6 e mais ainda Pv 3:12.
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