terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO PELOS DISCÍPULOS

 


 

Depois da primeira ênfase na oração, Jesus passou a interceder pelo grupo de discípulos mais achegados a ele.  Ele tinha convivido com aqueles homens durante os três anos de seu ministério e agora estava partindo.  Era preciso pedir em especial por eles.

Enquanto os discípulos poderam contar com a presença física de Jesus entre eles, estavam amparados (confira Jo 17:12).  Só que este tempo estava se findando.  Então, para que a alegria de Cristo estivesse completa – como ele mesmo diz –, ele pediu basicamente três coisas em relação àquele grupo:

Primeiro.  Mantenha-os unidos (v. 11).  Somente na força do amor que brotasse da união entre eles é que poderiam enfrentar e vencer os embates que viriam pela frente.

Sobre esta união e fraternidade, Jesus já tinha sido bastante enfático.  Mas ele sabia que o amor entre os cristãos não pode ser algo resultado do simples esforço humano – é sobrenatural e ação divina.

Segundo.  Guarda-os (v.  15).  Por viverem fisicamente em meio a um mundo hostil, aqueles discípulos precisavam ser guardados do mal.

O mesmo mundo que tinha se voltado contra Jesus, agora se voltaria contra seus seguidores, então, somente pelo poder de Deus é que eles poderiam enfrentar e vencer o mundo.

Terceiro.  Santifica-os (v.  17).  Isto foi o que Jesus se empenhou em fazer durante todo o seu ministério, agora o Pai completaria a obra.

Para Jesus Cristo, santidade não era apenas um conjunto de regras ou atitudes a serem seguidas.  Era o conhecimento da verdade que conduz a salvação.  Somente a graça e ação divina proporcionam uma santidade assim.


Leia mais sobre a "Oração Sacerdotal de Jesus" em suas ênfases nos seguintes links:

Intercessão de Jesus – introduzindo o temalink

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO POR SI MESMOlink

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO POR TODOS OS CRENTESlink

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

SOBRE A AUTORIDADE NO BATISMO

 


Vamos considerar a questão: o batismo como prática no NT.

 

Você citou dois textos:

 

Mt 28:19 onde Jesus comissiona seus discípulos a fazer outros discípulos para darem continuidade à missão.

E como marca e testemunho, o Mestre estabelece o batismo.

 

At 2:38 quando o apóstolo Pedro responde à multidão sobre o que fazer diante da manifestação do Espírito Santo.

Ele afirma que seria indispensável haver arrependimento e que isso fosse testemunhado através do batismo.

 

Quanto a questão da autoridade em nome de quem se oficiaria o batismo:

 

Da leitura dos textos, o que parece demonstrar é que ambos se referem a uma prática comum.  Somente que enquanto um o faz de modo mais extenso, o outro de forma resumida.

 

Ainda.  Os textos de Mateus e Atos não indicam padrão na prática do batismo.  Tudo leva a crer que no tempo do NT (Igreja Primitiva) eles adotavam tanto as fórmulas trinitárias quanto apenas citando o Filho, sem que houvesse uma regra explícita para isso.

 

Mais sobre a prática na Igreja Primitiva:  No Didaqué (um escrito cristão anônimo do final do século I e início do II) está instruído explicitamente: “batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente” (VII.1).

 

E para nossa prática hoje?

 

É importante antes destacar que a nossa fé cristã reconhece na Doutrina da Trindade que nas três Pessoas Divinas não há distinção alguma; logo falar no Pai, Filho e Espírito Santo ou citar apenas o Filho em nada muda a essência.

 

Ou seja, na prática, realizar o batismo em nome dos Três ou em nome de Um é mais uma questão litúrgica que teológica ou doutrinária.

 

Deixe-me acrescentar Gl 3:27 onde o apóstolo Paulo afirma que nós – cristãos – fomos revestidos de Cristo, uma vez que nele fomos batizados.

 

Importante.  O batismo não é sacramento – apenas ordenança – conforme nós Batistas cremos.  Então as falas rituais pouco diferenciam no seu propósito.

A graça não está nas águas nem nas fórmulas litúrgicas.  A graça está em Cristo.

Não são as palavras ali proferidas que conferem graça à cerimônia, mas o testemunho daquilo que Jesus (por sua obra vicária e pela ação do Espírito) já fez na vida do fiel: "o castigo que nos traz a paz estava sobre ele" (Is 53:5).

 

Aproveitando, aí vão dois links com textos que já escrevi sobre o tema do batismo:

INDO E BATIZANDOlink

EU VOS BATIZO EM ÁGUAlink

 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO POR SI MESMO

 


Na sua Oração Sacerdotal, inicialmente Jesus se concentrou na sua própria pessoa e ministério, seu relacionamento com o Pai e na glorificação dele.

Jesus começou orando fazendo uma espécie de relatório resumido de seu ministério.  Ele recebeu autoridade diretamente do Pai e cumpriu de maneira fiel todo o plano traçado.  Com o seu ministério, Jesus ofereceu oportunidade de vida eterna a todos os homens dando a conhecer o Pai (leia Jo 17:2-3).

Também citou que guardou e protegeu os escolhidos que pertenciam ao próprio Pai e que a ele foram confiados de maneira cuidadosa e pessoal (em Jo 17:6), e o mais importante: ocupou-se em glorificar o Pai (dito no v. 4).

Então, tendo consciência de que o caminho da cruz havia chegado, Jesus rogou que o suplício que o aguardava não fosse a demonstração ou marca de dor, perda e derrota, mas sim um momento e situação de exaltação e glorificação do Filho.

Assim, Jesus pediu que, naquilo tudo, ele pudesse retomar a sua glória original e que a morte não a ofuscasse (leia Jo 17:5 e compare com Jo 1:14).

 

Leia mais sobre a "Oração Sacerdotal de Jesus" em suas ênfases nos seguintes links:

Intercessão de Jesus – introduzindo o temalink

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO PELOS DISCÍPULOSlink

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO POR TODOS OS CRENTESlink

 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

ORDENAMENTO E VONTADE DE DEUS

 


Em primeiro lugar deixe-me dizer que sempre que precisar conversar ou tirar dúvidas sobre a Bíblia e o estudo teológico pode contar comigo.  Fale sempre.

 

Vamos a sua questão:

 

Realmente há uma instrução e um ordenamento para que os seguidores de Jesus fossem pelo mundo e levassem a mensagem do evangelho a toda criatura em todos os cantos do mundo.  Isso é um mandato geral para a igreja enquanto aguardamos a sua vinda aqui (Mt 28:19-20 / Mc 16:15 / At 1:8).

Mas temos que considerar ainda que a vontade de Deus também se manifesta de maneira particular.  Ou seja, para situações e circunstâncias específicas o Senhor dá orientações também específicas.

Considere textos como Ec 11:5; Is 55:9 e Rm 12:1-2 entre outros em que vontade e o direcionamento divino se mostram superiores ao nosso conhecimento e as nossas vontades pessoais.

Então em alguns casos, como os relatados no Livro de Atos e citados por você, Deus estabeleceu uma condução específica para seus discípulos a fim de que o direcionamento da missão fosse dado pelo Senhor da obra – e não pelos projetos humanos.  Deus tinha outros planos para os apóstolos e era necessário que eles se submetessem ao que o Espírito estava apontando.

 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

INTERCESSÃO DE JESUS – introduzindo o tema

 

Considere o Evangelho de João, capítulo 17

 

Ao concluir as palavras dirigidas aos discípulos, após a ceia e ainda no mesmo ambiente do cenáculo, Jesus fez uma oração final, como que encerrando aquele momento.

Veja no verso primeiro do capítulo 17 que João não dá detalhes de como foi aquela oração.  Teria sido em pé? ou de joelhos? impostando a voz alta? Ou sussurrando? Ele impôs as mãos? chamou os discípulos para orarem juntos?

Nenhum destes detalhes parece ser importante para João em seu Evangelho.  No mesmo verso um é apenas dito que Jesus levantou os olhos ao céu e começou reconhecendo que a hora havia chegado.

Mais do que a forma, nesta oração que ficou conhecida como "Oração Sacerdotal de Jesus" o que lemos é a demonstração de uma paixão, zelo e cuidado valorosos de Cristo pelos seus. 

Aqui fica evidenciado por completo o Bom Pastor que se preocupa com suas ovelhas e está a ponto de dar a vida por elas (relembre Jo 10:11).

 

Mas, antes de ler as palavras da Oração em si, eu penso que é importante me deter um pouco para compreender melhor o conceito de mundo expresso aqui. 

Durante todo o seu ministério, Jesus esteve em oposição ao mundo, embora para ele tenha vindo e por ele tenha até demonstrado amor.  Então é o cenário deste mundo que, de certo modo, motiva a Oração Sacerdotal.

Quanto a palavra em si, o termo grego que João usa para mundo (κόσμος) é de uso bastante genérico e, dependendo do contexto em que é usado, pode indicar significados diferentes.

 

Parêntese: Já fiz uma análise desse termo e de como ele é usado no Novo Testamento Grego aqui no Escrevinhando vá nesse link e amplie seu estudo.  Fechando.

 

Na Oração, fica claro que mundo é mais que lugar físico, apesar da associação com verbos como enviar a (em Jo 17:18) e estar no (no v. 11).

O mundo é o estado de coisas e situação que se opõe deliberadamente a Jesus Cristo e a seus seguidores e isso é demonstrado através de atitudes de ódio (v. 14) e completa falta de conhecimento do Deus-Pai (v. 25) que os afasta da verdade.

Foi neste mundo que Jesus desenvolveu seu ministério e também será aí que os cristãos precisarão viver.  Por isso Jesus sente a necessidade de rogar por eles.

 

Quanto a Oração em si, ela pode ser dividida em três ênfases ou diferentes direcionamentos: a) Jesus orou por si mesmo; b) pelos discípulos mais próximos; e c) por todos os crentes.

 

 

Vou comentar sobre a “Oração Sacerdotal de Jesus” em suas ênfases e convido você a acompanhar comigo – siga nos links:

 

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO POR SI MESMOlink

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO PELOS DISCÍPULOSlink

Intercessão de Jesus – ORAÇÃO POR TODOS OS CRENTESlink

 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

NO TANQUE DE BETESDA

 


 Em sua narração do Evangelho, João acompanha Jesus mais uma vez a Jerusalém por ocasião de uma festa (a partir de 5:1 – aqui o evangelista não especifica qual festa). 

Mas neste dia Jesus não entrou pela porta principal, ali ele não estava buscando as pompas da religião oficial do templo.  Ele entrou pela Porta das Ovelhas.

 

Antes de continuar a narrativa, deixe-me localizar a narrativa.  A Porta das Ovelhas era uma entrada secundária destinada aos animais a serem sacrificados e onde se poderia encontrar um grande número de pessoas necessitadas que aguardavam por qualquer tipo de auxílio (conforme é dito em 5:3).

Também por ali se tinha acesso ao Tanque de Betesda (em hebraico: בית חסדא – casa das azeitonas), um reservatório destinado às lavagens rituais e onde, pela tradição, se cria que um determinado anjo descia e agitava as águas promovendo cura.

 

Continuando a história, João conta que à beira do tanque Jesus encontrou um homem que jazia há trinta e oito anos aguardando para ser curado.  E a atenção de Mestre foi chamada para aquele homem. 

Após um diálogo rápido, Jesus lhe dá uma palavra direta: toma teu leito e anda (5:8).  E João diz que o homem imediatamente se viu curado. 

 

Mesmo tendo uma missão voltada a todo aquele que crer – uma visão ampla e geral – Jesus nunca se descuidou daqueles que individualmente careciam de seus cuidados.

 

Acontece que o ocorrido se deu num sábado.  Ora, isso causou indignação nos líderes judeus que questionaram: por que o homem estava trabalhando naquele dia – levando seu leito (confira o verso 10).

A resposta do homem é significativa: o mesmo que me curou me disse: toma o teu leito (5:11).

Assim, mesmo sem saber direito quem era Jesus, aquele homem reconheceu que alguém que detinha tamanho poder deveria ser certamente maior que o sábado e suas restrições apontadas pelos judeus.

 

(Na imagem lá em cima:
 detalhe da Porta das Ovelhas como pode ser visto ainda hoje em Jerusalém.
A foto foi registrada pela minha irmã Emília)

 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

SOBRE O AMOR

 

Vamos tentar entender as questões que você colocou a partir de alguns parâmetros:

 

#1. Começando entendendo que os títulos (no caso: "em negrito") que aparecem em nossas Bíblias atuais são de responsabilidade dos editores modernos.  Ou seja, não foram escritos, nem adotados, pelos autores originais.
Então a frase: A suprema excelência do amor não é do autógrafo do apóstolo Paulo.  Logo, se não concordar, descarte.
As palavras a partir de "Ainda que eu falasse...", essas sim são bíblicas e sagradas.

 

#2. O amor é fruto do Espírito conforme Gl 5:22.  Mas isso, em hipótese alguma, conflita com o texto de 1Co 13.  Seria melhor dizer que os textos se completam e ampliam o sentido.
Atente para que o apóstolo antecipa a citação (em 1Co 12:31) indicando que é preciso desejar os dons (χάρισμα
) maiores – no original no plural.
Depois segue apontando um caminho mais excelente.  E vem os versos sobre o amor ...
Ainda sobre o fruto de Gl 5:22, ali a palavra que o apóstolo usa para fruto está no singular (καρπός).  Ou seja, as diferentes características listadas apontam para um único fruto que o Espírito produz na vida do cristão.

 

Compreendendo assim, o amor, no argumento paulino, é uma dádiva que o próprio Espírito faz frutificar naqueles que ele quer manifestar sua graça.  E sem tal manifestação da graça e amor espiritual, qualquer outra atividade, disciplina ou piedade cristã é infrutífera.

 

#3. Sobre a definição de amor na Bíblia, vamos começar separando o uso do termo no AT e no NT.

No AT o conceito de amor é mais amplo e disperso do que o uso que damos em nosso idioma.  Acompanhe:

Em geral a palavra em hebraico para amor/amar é אהבה (ahabah – substantivo) e אהב (aheb verbo).

O termo ocorre pouco mais de quatro dezenas de vezes no texto original e pode ser lido em textos como Dt 6:5 que determina o amor a Deus sobre todas as coisas; e Lv 19:18 que legisla sobre amar o próximo.

Também aparece no livro dos Cânticos de Salomão, quando o poema reconhece que águas não podem afogar o amor (Ct 8:7).

 

0 NT foi escrito originalmente em grego.  A língua grega tem um vocabulário rico para traduzir o que usamos como amor – cada um com um significado ou implicação mais específica, mas, em geral os autores do NT optaram por ἀγάπη / ἀγαπάω (agape / agapao).  Esse termo aparece mais de 130 vezes como substantivo e cerca de 160 como verbo no texto.

João em sua primeira carta afirma que "Deus é amor" (1Jo 4:8).

Paulo reconhece a prova do amor de Deus para conosco em ele nos ter dado seu único Filho (Rm 5:8).

Os evangelistas usaram esse amor para versarem a citação de Jesus dos mandamentos antigos (Mt 22:37-40 / Mc 12:29-31).

 

Em geral a expressão amor (do grego ἀγάπη e do hebraico אהבה) indica mais que um sentimento – ou sensação ou paixão.  Amor é uma disposição de alguém em agir em favor do outro: estar pronto para servir, ajudar e atender as necessidades e carências.  Amor é atitude concreta e não comiseração e dó.

Outra palavra que talvez ajude a entender como os antigos usavam o termo (principalmente no AT) seria misericórdia e cuidado – como no Sl 146:8.

 

#4. Voltando ao poema de 1Co 13.  Na minha leitura pessoal (mais inspiração espiritual que técnica exegética) eu penso que Paulo inseriu os versos desse capítulo entre os dispositivos dos capítulos 12 e 14 para suavizar o peso da argumentação ou para oferecer um contraponto.  Ou seja, sem amor qualquer discurso, prática ou alegação de dom espiritual é pura balela ou fingimento.
Quanto a exortação.  Eu não usaria essa definição, mas não acho que é de todo errado.
No mais, os versos de 1Co parecem estar completos em si mesmo.

 

#5. Por que é usada em casamento?
Olhando do ponto de vista do texto bíblico.  As palavras sagradas são sempre infinitamente ricas que podem ser aplicadas em diferentes contextos e múltiplas leituras sem perder seu caractere de verdade essencial.
Pelo lado do casamento (acho que você se refere à cerimônia).  Em geral as celebrações que os casais são festas sociais e as prédicas proferidas nessas ocasiões estão recheadas de linguagem poética e textos como o 1Co são bem propícios para ilustrar.
Não vejo problema algum em somar a riqueza bíblica textual ao gosto poético dos nubentes.

 

 

Aproveitando: vou indicar alguns links para enriquecer o assunto –

 

Fruto do Espírito – AMORlink

Uma reflexão sobre o AMOR enquanto fruto do Espírito comparando com uma jaca como exemplo de fruto.

 

FRUTO DO ESPÍRITO – listalink

Tabela com relação das palavras usadas pelo apóstolo Paulo no texto de Gl 5:22-23.

Amor em gregolink

Uma tabela linguística com os principais termos usado pelos gregos para descrever (traduzir) o amor.