Notadamente Jerônimo teve problemas para traduzir a palavra grega agápe quando produziu a Vulgata. Em vez de amor (em latim é assim mesmo), que na época já tinha a conotação sensual de hoje. Ele preferiu caritas. Muitas edições modernas o seguiram (em português veio a ser caridade). Contudo isto não é inflexível. Em português e espanhol já é comum ler em Gl 5:22 o amor como fruto do Espírito. Igualmente Lutero preferiu a forma liebe em alemão, bem como a versão do Rei Tiago em inglês optou por love. E se o seu caso for curiosidade, aí vai: em italiano amore, em francês amour, em holandês liefde, em sueco kärlek e mais longe em romeno dragostea.
Todo este parágrafo introdutório é apenas para dizer que mais que uma expressão poética ou uma experiência sensorial, o primeiro bago da jaca do Espírito é a essência de Deus em minha vida. Veja que na primeira carta de João eu leio explicitamente: Deus é amor (em 1Jo 4:8). Assim posso compreender que a primeira coisa a me tomar e me envolver quando frutifico no Espírito é o cheiro e visgo essencial do próprio Deus.
Sim, e como identificar este amor divino em minha vida? Como me impregnar dele de modo a contagiar outros como faz a jaca? Baseado na resposta de Jesus sobre os dois grandes mandamentos (leia Mt 22:37-39), entendo que para dar respostas às questões seja preciso apontar nas duas direções.
O mandamento primordial é o amor a Deus com o fundamento do meu ser – coração, alma e entendimento. Isto quer dizer que não somente o meu lado espiritual (confesso que acho esta expressão ambígua e curiosa!), mas toda minha razão e emoções têm que ser colocadas no altar de Deus. E lembro que o Mestre falou em renúncia e cruz como marca do discipulado (veja em Mt 18:24 e Lc 9:23).
Somente quando sou capaz de colocar o Senhor como minha prioridade absoluta (anterior inclusive que minha própria vida, futuro e conforto) é que posso dizer que a jaca do Espírito está amadurecendo em minha vida.
Semelhante a este, o segundo grande mandamento fala em dispensar aos outros um amor similar. Neste caso meus olhos se voltam novamente à carta de João: como posso dizer que amo a Deus que não vejo se não sou capaz de demonstrá-lo ao meu irmão que vejo e toco? (confira em 1Jo 4:20). É indispensável a quem vive no Espírito que suas atitudes para com o próximo demonstrem reproduzir o amor, acolhimento e doação voluntária próprias de Deus.
O cheiro e o visgo da jaca do Espírito só começam a efetivamente serem reais em minha vida quando ela está tomada de ações concretas de amor que alcancem e influenciem a vida de outros (não se esqueça da parábola do bom samaritano em Lc 10:30-37).
Este é o primeiro bago da jaca do Espírito. Que eu possa começar com ele para que toda a fruta seja real em minha vida.
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