terça-feira, 29 de março de 2022
sexta-feira, 25 de março de 2022
ADORANDO UM DEUS SANTO
Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos,
a terra inteira está cheia da sua glória.
(Is 6:3)
Toda a Bíblia aponta para
o fato de que Deus é único e assim precisa ser reverenciado na adoração dos
santos.
Assim, refletindo sobre o
Deus com o qual nos deparamos em nossa adoração, vemos que a Bíblia relata
vários encontros de Deus com o ser humano; em todos eles há sempre um caráter
surpreendente neste contato.
Deus é o radicalmente
outro e por isso sempre nos surpreende quando nos faz sentir a sua presença.
Desta admiração
surpreendida que advém da presença de Deus, duas constatações são destacadas
toda vez no texto Bíblico: 1. Deus é Santo em sua essência. Isso significa que é único em seus atributos
e completamente distinto do ser humano que o adora.
A presença de Deus na
celebração do culto deve produzir em nós a certeza de que estamos contemplando
o Senhor tremendo, augusto e inefável.
O Culto não pode ser um
evento qualquer na vida do povo de Deus.
Tem que ser o momento sublime quando eu contemplo a face do sagrado e
ele me toca.
2. Desta constatação da
santidade de Deus expressa no culto, deve brotar um sentimento de temor e
reconhecimento de nossas faltas e pecados.
Sendo Deus absolutamente
santo e eu pecador, como posso estar na presença dele e não perecer ali
mesmo?
O culto tem que ser um
momento de contrição e confissão na busca do perdão e da nossa aceitação por
parte de Deus.
Que tenhamos esta
consciência sublime da santidade de Deus e o espírito de quebrantamento diante
da nossa realidade.
Cultuemos pois assim.
(A partir do livro "No Baú da
Adoração", publicado em 2004)
terça-feira, 22 de março de 2022
As obras do único Deus verdadeiro
E, para começar a percorrer as
obras do único Deus verdadeiro, digamos: Nós adoramos a Deus
que às naturezas, de que é
criador, fixou o começo e o fim, quer da sua existência, quer da sua atividade;
que detém, conhece e ordena as
causas dos seres;
que conferiu às sementes a sua
virtualidade;
que comunica aos vivos, que ele
próprio escolheu,
uma alma racional, chamada
espírito;
que dotou os homens da faculdade
e uso da palavra;
que concedeu aos espíritos, como
lhe aprouve, o dom
de anunciar o futuro e que ele
próprio prediz por intermédio de quem lhe apraz, como, por intermédio de quem lhe
apraz, cura os doentes;
que governa os inícios, desenvolvimentos
e termos das próprias guerras, quando desta forma o género humano merece ser
corrigido e castigado;
que cria e rege o fogo tão
violento e tão impetuoso deste mundo, como convém à imensidade da natureza;
que cria e governa todas as
águas;
que fez o Sol, a mais brilhante
das luzes materiais, ao qual deu força e movimentos convenientes;
que mesmo dos Infernos não retira
o seu poder e domínio;
que fornece aos mortais sementes
e alimentos secos e líquidos, apropriando-os às suas naturezas;
que sustém a Terra e a toma
fecunda:
que dá com largueza os frutos
dela aos animais e aos homens;
que conhece e ordena as causas
principais e as que destas dependem;
que fixou o curso da Lua,
acomodou os caminhos do Céu e da Terra às mudanças de lugar;
que às inteligências humanas,
criaturas suas, concedeu também o conhecimento das diversas artes para ajudar a
vida e a natureza;
que estabeleceu a união do macho
e da fêmea para ajudar a propagar a vida;
que aos agregados humanos, para
se aquecerem e iluminarem, dotou de um fogo terreno próprio para todos os usos.
Agostinho de Hipona. Cidade de Deus – Livro
VII – capítulo XXX
sexta-feira, 18 de março de 2022
TRIBUTO A YEHOVAH
Das primeiras vezes que ouvi e cantei a canção TRIBUTO A YEHOVAH,
realmente não consegui entender o fraseado do refrão. O texto como um todo, eu entendi de saída,
expressa a gratidão por tudo que Jesus tem feito e que isso é o tesouro maior desse
mundo. Mas, a vocalização do refrão
estava complicada!
Passado algum tempo, tive a oportunidade de estar com nossos irmãos da
Bahia. E no cardápio do louvor daquela
tarde estava o Tributo a Yehovah.
E eles acrescentaram um bom tempero baiano à canção.
Foi então que algo como um flash fez acender uma compreensão do que
estava cantando: era o reconhecimento do Nome Sagrado, a quem eu estava
dirigindo o meu tributo.
É verdade que já se passaram alguns anos desde que aquele episódio
aconteceu, mas, por esses dias, ouvindo novamente a gravação da celebração dos 30
anos de Adhemar de Campos, o estalo teológico daquela tarde me retornou à
mente.
E aproveitei para relembrar algumas pegadas deixadas nessa trilha
teológica: Celebramos e declaramos o
nosso tributo ao nome que está sobre todo nome (Fl 2:9-10).
Caminhe comigo um pouco.
O terceiro dos 10 Mandamentos proíbe explicitamente tomar o nome de Deus
em vão (Êx 20:7). E, em atenção à
observância exagerada desse mandamento, os judeus passaram a não mais
pronunciar o tetragrama sagrado (YHWH).
Perdida a pronúncia original, muito de teoria e hipótese passou-se a
usar para chegar ao que seria o nome exato daquele que se revelou no
Sinai. E o Nome em si ganhou uma áurea
mística, independente da Pessoa Divina.
Então não sei qual era realmente a pronúncia original do nome que se camuflou
impronunciável na adoração do Antigo Testamento – embora homens como Davi o
tenham declarado em diversos e majestosos Salmos.
Mas o que eu sei é que esse nome chegou para nós como uma referência
própria ao Pai de Jesus – esse sim, o nome a quem agora dirigimos unicamente
nossa adoração.
(Já escrevi sobre isso – veja os links aqui e aqui – e não
quero me estender por agora.)
Voltando a canção de Adhemar de Campos (para citação: TRIBUTO A
YEHOVAH foi gravada originalmente no álbum Tempos de Celebração de 1993).
O nome eterno de Deus, a quem eu devo tributar toda reverência, tem que
ser o refrão da minha adoração. Mas essa
adoração me faz reconhecer que, embora tenha alegria, amigos e irmãos, a maior
prova do amor tão profundo de Yehovah para comigo foi ele ter me dado a vida e
a salvação em Jesus Cristo, minha herança eterna.
Por isso eu canto meu tributo e gratidão:
Louvarei
Ao Senhor
Em todo tempo
Seu louvor
Estará
Continuamente
Em meus lábios
E também
No coração
Jesus Cristo
Será sempre
Minha canção.
terça-feira, 15 de março de 2022
EL SHADDAY – O TODO-PODEROSO
– Boa tarde!
– Eu estou com uma dúvida: está
correta a tradução de El Shadday como Deus que amamenta?
Boa tarde querida
Vamos tentar!
O termo original em Hebraico é שדי – Shadday. Aparece pela primeira vez em Gn 17:1 quando
Deus se apresenta a Abrão.
Quanto a etimologia do termo, não se tem um consenso. O mais aceitável é
significar: Aquele que tudo pode, daí: Todo-Poderoso.
Alguns pesquisadores querem ligar essa palavra ao sentido de que Deus é
aquele que pode tudo, logo tudo supre a partir de si mesmo. Daí a ideia da
figura da mãe que supre seus filhos a partir de seus próprios seios (amamenta).
Mas essa é uma interpretação um tanto sem base linguística e que tem
pouca aceitação.
O mais correto mesmo é Todo-Poderoso. Essa é a interpretação dos antigos (inclusive
no Novo Testamento – Lc 1:49).
Para comparar: o verbo amamentar no Hebraico é ינק – yanaq
– que aparece por exemplo em 1Rs 3:21.
– Entendi.
– Tinha encontrado algo sobre
isso. Fazia referência ao pedacinho da palavra: shad como sendo seios.
– Como eu nunca ouvi falar dessa
interpretação, fiquei desconfiada.
Realmente a palavra para seio em Hebraico é שד – shad
(como em Gn 49:25). Mas, embora tenham
consoantes semelhanças, esta pertence a uma outra raiz linguística.
Continue com a interpretação dos antigos. Nesse caso é a melhor: Eu
sou o Deus Todo-Poderoso; ande segundo a minha vontade e seja íntegro (Gn
17:1).
– Realmente, não encaixaria a
outra interpretação nesse contexto.
🙏🤝
sexta-feira, 11 de março de 2022
A REFORMA DE JOSIAS – aplicando as lições
Quando analisamos o contexto das reformas implementadas por Josias
(reveja nesse link) observamos que ela não trouxe
nenhuma grande novidade em termos de culto e adoração. Talvez seja essa exatamente a importância de
seu projeto: renovar e restabelecer aquilo que o pecado tinha desfeito (no NT
lemos uma advertência séria quanto a isso lá em Ap 2:4).
O pecado, quando entra na vida do crente, vai minando sua vivência espiritual
e sua comunhão com Deus até que por fim a morte que distancia o adorador do seu
Senhor se abate sobre ele (veja a sequência desastrosa do mal em Tg 1:14-15).
Em situações assim, antes de buscar novas experiências sobrenaturais, é
preciso derrubar os altares idólatras que deixamos ser construídos ao longo de
nossas vidas.
Deus exige adoração exclusiva (na lei em Êx 20:3 e Dt 6:4 e Jesus em Mt
4:10). E somente assim nossa adoração e
culto resultará em aceitação e bênção.
Só agora então deve começar a reforma do templo. Mesmo entendendo que possa haver uma dimensão
predial neste conceito como local de adoração, mas o importante é compreender
que quando o altar da minha vida, reservado para a adoração ao Senhor, está profanado
é preciso purificá-lo e refazê-lo.
Não existe reavivamento espiritual sem que o templo onde ocorre a adoração
esteja refeito e purificado. Não existe
manifestação do Espírito de Deus sem que a vida do cristão esteja dedicada
exclusivamente ao Senhor.
Neste processo de reforma e renovação é que a Palavra de Deus precisa
voltar a ser lembrada (achada).
A Bíblia tem que ocupar um lugar de destaque em qualquer movimento de renovação
espiritual que possamos levar a efeito.
Aplicando as palavras de Jesus, na sua crítica aos saduceus (veja Mt 22:29),
devemos acrescentar que a simples posse do texto sagrado não é garantia pura de
sucesso espiritual.
Além de conhecer as Escrituras é preciso também reconhecer o poder de Deus.
Como no caso da reforma de Josias, há a
necessidade de aprofundar o conhecimento e ouvir o que os verdadeiros profetas
– homens e mulheres que desfrutam de um relacionamento pessoal e mais íntimo com
o Senhor – têm a dizer sobre as palavras escritas.
Um culto relevante e renovado perante o Senhor tem que estar
biblicamente centrado e profeticamente instruído.
Só então a aliança poderá ser refeita e a adoração expressar a verdadeira
celebração do renovo que Cristo dá.
terça-feira, 8 de março de 2022
A REFORMA DE JOSIAS – compreendendo o contexto
Para compreendermos melhor a abrangência da reforma espiritual proposta
pelo rei Josias (2Rs 22-23 / 2Cr 34-35) é preciso retomar um pouco a história
de Israel.
Deus escolheu Abraão e com ele – e sua descendência – fez uma aliança. Através de Moisés estabeleceu leis que regulariam
a vida do povo e a sua adoração. Com o
rei Davi, o culto no templo foi organizado e as promessas refeitas.
Após a morte de Davi e de seu filho Salomão sucessiva e repetidamente Israel
e Judá abandonaram a aliança e seguiram após outros deuses.
A nação que deveria ser alvo das bênçãos divinas conheceu derrotas e calamidades.
Isso é o que acontece quando o povo de
Deus abandona a aliança (leia a promessa de bênção pela obediência em Lv
26:1-12 e o castigo previsto pelo abandono ao Senhor em Lv 26:14-35).
Essa era a situação de Israel quando Josias subiu ao trono (século VII
a.C.). O povo tinha abandonado o Senhor
e sua aliança e estava sofrendo as consequências.
Tudo então começou a mudar quando o rei começou a buscar ao Senhor
(2Cr 34:3).
Com este intento, o rei Josias iniciou o processo de purificação de Judá
derrubando altares idólatras com suas imagens esculpidas por toda a nação.
Mas faltava o foco principal: Jerusalém e o seu templo. Dois anos depois de iniciar seu projeto de
reforma, o rei baixou uma ordem para que os tesouros do templo fossem
restituídos e que uma obra de restauração profunda tivesse início.
Antes de prosseguir na leitura dos desdobramentos desta decisão real, uma
expressão chama a atenção: o texto bíblico relata que os homens que foram
incumbidos da tarefa fizeram o trabalho com fidelidade (2Cr 34:12).
Aqui está um segredo do sucesso da empreitada: sem trabalho com
fidelidade ao Senhor não se faz reforma, nem restauração de aliança.
Voltando à compreensão da reforma de Josias, lemos que dois acontecimentos
são fundamentais para os seus destinos, um vinculado ao outro: na obra de
reconstrução, o Livro da Lei foi achado e a profetiza Hulda foi consultada.
Enquanto avaliavam a prataria trazida ao templo para a obra de reforma,
um tesouro muito mais valioso foi encontrado, o texto diz que o sacerdote
Hilquias encontrou o Livro da Lei que havia sido dado por meio de Moisés
(2Cr 34:14).
Se por um lado este fato leva-nos a entender que a causa da ruína
nacional estava no abandono do Livro da Lei, por outro, ao encontrar o rolo,
claramente abriram-se novas perspectivas espirituais para o povo.
O culto é o momento em que o encontro entre o Deus adorado e o ser humano
adorador se faz real e é a partir das verdades encontradas no texto sagrado que
tal encontro se mostra efetivo e significativo.
Contudo, somente o fato de o rolo ter sido encontrado não garante o sucesso
da reforma.
Ao saber do livro, o rei prontamente determinou que o Senhor fosse
consultado a respeito do que estava escrito ali. É neste ponto da história que entrou a
profetiza Hulda.
A palavra de Hulda iniciou-se com a fórmula clássica: assim diz o
Senhor (2Cr 34:23). A partir da
leitura do texto encontrado, e de sua interpretação profética, o pecado do povo
foi apontado, lembrando dos castigos impostos, mas principalmente Deus anunciou
que ouviu o rei.
Diante deste anúncio, Josias tomou uma determinação:
Ele tomou o
seu lugar no templo do Senhor,
fez uma aliança, comprometendo-se a seguir o Senhor
e obedecer de todo coração e de toda alma aos seus mandamentos,
aos seus testemunhos e aos seus decretos,
cumprindo as palavras da aliança escritas naquele livro.
(2Cr 34:31)
A consequência é que toda estrutura de adoração foi recomposta em
Jerusalém, iniciando-se com a celebração da Páscoa, a principal ocasião do
calendário das festas de Israel e símbolo da passagem de uma antiga era para
uma nova aliança.
Utilizando-se das instruções contidas no Livro da Lei e das palavras
proféticas, uma nova aliança foi estabelecida e o culto foi restaurado.
O próprio texto bíblico apresenta a conclusão desta renovação:
Assim,
naquele dia, todo o serviço do Senhor foi executado
para a celebração da Páscoa
e para a apresentação de holocaustos no altar do Senhor,
conforme o rei Josias havia ordenado.
(2Cr 35:16).
(Na imagem
lá em cima: Uma bulla – impressão de selo – e um selo de 2.600 anos,
trazendo referência ao Rei Josias. Descoberto
em Jerusalém. Crédito: abiblica.org)
sexta-feira, 4 de março de 2022
TEMPO DE QUARESMA
Em nossa tradição Batista, o tempo da Quaresma não é guardado com os
rigores rituais, como em outras tradições cristãs. Na verdade, seguimos poucas – quase nenhuma –
anotações litúrgicas em nossas vivências eclesiásticas.
Mas, a saudável convivência com cristãos de outras matizes não nos
permite ficar alheio a esse tempo.
Então, para conversar sobre esse tema, entendendo-o melhor, creio que
preciso voltar um pouco às origens.
No início, os seguidores de Cristo guardaram com atenção a lembrança dos
eventos pascais, mas não deram muita atenção ao calendário. Assim, nos primeiros séculos tal guarda não
era padronizada.
Foi somente no ano 325, em Niceia, que decidiram essa questão. Ficou estabelecido que os cristãos deveriam
celebrar sua Páscoa no domingo que segue a primeira lua cheia da primavera
(estavam no hemisfério norte), sendo precedido das liturgias da Semana Santa –
em especial a Sexta-feira da Paixão.
Assim se ajustou a mais importante data de celebração de todo o
Calendário Cristã: a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
Como um tempo de preparação para a Páscoa, ficou demarcado um período de
40 dias, quando as práticas de orações, jejuns, penitências e outras disciplinas
cristãs deveriam ser praticadas como prioridade: a QUARESMA.
A estipulação do número 40 é significativo porque nas narrativas
bíblicas ele representa um tempo de expectativa, teste e aprovação divina. Por 40 anos o povo peregrinou no deserto (Nm
32:13), 40 dias e noites Moisés ficou no monte para receber as leis (Ex 26:21),
também Elias caminhou até Horebe (1Rs 19:8) e após seu batismo Jesus permaneceu
por 40 dias no deserto sendo tentado (Mc 1:13).
E, abrindo esse tempo espiritual, tudo deve começar com as cinzas da
quarta-feira como símbolo de arrependimento, tristeza pelo pecado e de
consagrado e quebrantamento (entendo que Jó 42:6 relata bem essa vivência).
Assim, depois de rascunhada essa resenha histórico-espiritual devemos
nos achegar a Quaresma como quem busca dar significado à jornada cristã.
Os eventos do Calvário têm de ser o ponto focal de nossa fé. E à medida que nos aproximamos de sua
celebração, nossa agenda e calendário devem apontar nessa direção e nos atrair
a ele.
Independente da marcação litúrgica e dos paramentos que acompanham, o
tempo da Quaresma deve nos levar das cinzas à Paixão, da culpa ao perdão, da
solidão ao abraço, da guerra à paz, do deserto ao jardim, da morte para a vida.
Assim, nesse tempo da Quaresma nos somamos a irmãos e irmãs cristãos –
essa tão grande nuvem de testemunhas – que, ao redor do mundo, agora buscam
deixar o embaraço e o pecado e se voltam olhando unicamente para Jesus, o autor
e consumador de nossa fé (considere o fraseado de Hb 12:1-3).