A fé e
a doutrina abraçadas pelos cristãos do primeiro século e expressas nas páginas
do Novo Testamento atesta que era ponto inquestionável que em Jesus Cristo “habita corporalmente toda a plenitude da
divindade” (Cl 1:2). Para a igreja
primitiva, Jesus de Nazaré é a encarnação do Deus vivo que conduziu o povo de
Israel, se revelou a ele e agora completa a sua obra, tornando-a
definitiva. Ao ler nos lábios de Jesus a
frase: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30), na verdade o evangelista está
afirmando categoricamente que há não apenas uma relação de continuidade entre
Jesus e o Deus do antigo pacto mas que os dois compartilham da mesma
essência. E sendo assim, todos os
atributos e predicados que podessem ser reconhecidos como de Deus, deveriam
igualmente ser atribuídos a Jesus Cristo.
Alguns
aspectos deste reconhecimento divino da pessoa de Jesus podem ser compreendidos
a partir da análise dos nomes atribuídos a Deus e a Jesus. A palavra grega Θεός que se traduz Deus é
usada como termo genérico e, em relação às citações do A.T., traduz Elohim.
Já a palavra Κύριος – Senhor –
traduz o Tetragrama Sagrado e igualmente é usada como uma referência a
Jesus. Mas é do mesmo evangelista João
a expressão mais significativa de reconhecimento da divindade de Cristo: no
verso 8:58 Jesus diz que antes de Abraão “Eu sou” – Έγώ είμί – e, compreendendo como verdadeira a relação
entre o nome de Deus revelado no Sinai e o verbo ser, como propõe Êx 3:14,
então na verdade Jesus está se declarando como o Javé encarnado. Os judeus devem ter compreendido esta
relação, assumida por Jesus ao se apresentar como Javé, pois o acusam de
blasfêmia e procuram apedrejá-lo.
Teologicamente
é compreensível a implicação soteriológica presente pouco antes no verso 24:
“... se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.” A única possibilidade de não se morrer nos
pecados, e alcançar a salvação, é crendo que Jesus é o “Eu sou” – Έγώ είμί /
יהוה. Paulo escrevendo aos
Romanos atrela definitivamente a soteriologia à invocação, ao reconhecimento e
à confissão do nome do Senhor: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo” (10:13), afinal “se com tua boca confessares a Jesus como Senhor (...)
serás salvo” (10:9). E aqui novamente a
palavra grega – Κύριος – que deve ser confessada em relação a Cristo é a mesma
que no verso 16, pouco abaixo, é usada para traduzir o Tetragrama citado em Is
53:1.
Ainda é
bom lembrar que o nome que o anjo anunciou a Maria que deveria ser colocado no
filho que estava sendo gerado em seu ventre pelo Espírito Santo era Jesus (Lc
1:31) – em hebraico יהושע que pode ser traduzido: Javé é Salvação/Salvador. E
a José o anjo explica a razão do nome: “porque ele salvará o seu povo dos seus
pecados” (Mt 1:21). O nome de Jesus já
anuncia a sua missão. Mantendo a maneira
oriental de compreender o nome como uma expressão exata do ser que o possui,
então aquela criança ser chamada de Jesus, desde a sua concepção, é um atestado
de que ele seria o instrumento no projeto de Deus para salvar a humanidade.
Deus se
apresentou a Abrão como o El Shadday,
o Deus Todo-Poderoso. No N.T. Jesus
reivindica para si todo o poder (Mt 28:18), e é no seu nome que este poder se
faz manifesto. Ao voltarem de sua
missão, os setenta reconhecem a Jesus: “Senhor, em teu nome, até os demônio se
nos submetem” (Lc 10:17). Também é
através do poder contido no nome de Jesus Cristo que Pedro e João fazem o coxo
se levantar na porta do templo (At 3:1-10 e 4:10). No nome de Jesus há poder suficiente para
submeter os demônios e para curar os males humanos. Todo o poder expresso no nome Sagrado revelado
agora está disponível no nome de Jesus; nome pelo qual os cristãos oram e em
quem depositam confiança.
Finalmente,
no hino cristológico, o apóstolo Paulo reconhece que Deus está convergindo
todas as coisas para a glorificação do nome de Cristo Jesus. Deus entregou o seu próprio Filho à
humilhação da cruz e no fim “Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome
que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que
estão nos céus, na terra, e debaixo da terra” (Fl 2:9-10). Todo o culto e toda a adoração, por toda a
eternidade, está destinada ao nome Jesus – o verdadeiro Filho do verdadeiro
Deus. E é exatamente este o canto
triunfal que João testemunha no céu:
Grandes e fascinantes são as tuas obras,
ó Todo-Poderoso Senhor Deus.
Justos e verdadeiros são os teus caminhos,
ó Reis dos povos.
Quem não vai te temor, ó Senhor,
e quem não vai glorificar teu nome?
Pois tu és o unicamente santo.
(Ap 15:3-4)
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