E, para começar a percorrer as
obras do único Deus verdadeiro, digamos: Nós adoramos a Deus
que às naturezas, de que é
criador, fixou o começo e o fim, quer da sua existência, quer da sua atividade;
que detém, conhece e ordena as
causas dos seres;
que conferiu às sementes a sua
virtualidade;
que comunica aos vivos, que ele
próprio escolheu,
uma alma racional, chamada
espírito;
que dotou os homens da faculdade
e uso da palavra;
que concedeu aos espíritos, como
lhe aprouve, o dom
de anunciar o futuro e que ele
próprio prediz por intermédio de quem lhe apraz, como, por intermédio de quem lhe
apraz, cura os doentes;
que governa os inícios, desenvolvimentos
e termos das próprias guerras, quando desta forma o género humano merece ser
corrigido e castigado;
que cria e rege o fogo tão
violento e tão impetuoso deste mundo, como convém à imensidade da natureza;
que cria e governa todas as
águas;
que fez o Sol, a mais brilhante
das luzes materiais, ao qual deu força e movimentos convenientes;
que mesmo dos Infernos não retira
o seu poder e domínio;
que fornece aos mortais sementes
e alimentos secos e líquidos, apropriando-os às suas naturezas;
que sustém a Terra e a toma
fecunda:
que dá com largueza os frutos
dela aos animais e aos homens;
que conhece e ordena as causas
principais e as que destas dependem;
que fixou o curso da Lua,
acomodou os caminhos do Céu e da Terra às mudanças de lugar;
que às inteligências humanas,
criaturas suas, concedeu também o conhecimento das diversas artes para ajudar a
vida e a natureza;
que estabeleceu a união do macho
e da fêmea para ajudar a propagar a vida;
que aos agregados humanos, para
se aquecerem e iluminarem, dotou de um fogo terreno próprio para todos os usos.
Agostinho de Hipona. Cidade de Deus – Livro
VII – capítulo XXX
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