terça-feira, 22 de março de 2022

As obras do único Deus verdadeiro

 


E, para começar a percorrer as obras do único Deus verdadeiro, digamos: Nós adoramos a Deus

 

que às naturezas, de que é criador, fixou o começo e o fim, quer da sua existência, quer da sua atividade;

que detém, conhece e ordena as causas dos seres;

que conferiu às sementes a sua virtualidade;

que comunica aos vivos, que ele próprio escolheu,

uma alma racional, chamada espírito;

que dotou os homens da faculdade e uso da palavra;

que concedeu aos espíritos, como lhe aprouve, o dom

de anunciar o futuro e que ele próprio prediz por intermédio de quem lhe apraz, como, por intermédio de quem lhe apraz, cura os doentes;

que governa os inícios, desenvolvimentos e termos das próprias guerras, quando desta forma o género humano merece ser corrigido e castigado;

que cria e rege o fogo tão violento e tão impetuoso deste mundo, como convém à imensidade da natureza;

que cria e governa todas as águas;

que fez o Sol, a mais brilhante das luzes materiais, ao qual deu força e movimentos convenientes;

que mesmo dos Infernos não retira o seu poder e domínio;

que fornece aos mortais sementes e alimentos secos e líquidos, apropriando-os às suas naturezas;

que sustém a Terra e a toma fecunda:

que dá com largueza os frutos dela aos animais e aos homens;

que conhece e ordena as causas principais e as que destas dependem;

que fixou o curso da Lua, acomodou os caminhos do Céu e da Terra às mudanças de lugar;

que às inteligências humanas, criaturas suas, concedeu também o conhecimento das diversas artes para ajudar a vida e a natureza;

que estabeleceu a união do macho e da fêmea para ajudar a propagar a vida;

que aos agregados humanos, para se aquecerem e iluminarem, dotou de um fogo terreno próprio para todos os usos.

 

Agostinho de Hipona. Cidade de Deus – Livro VII – capítulo XXX

 

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