terça-feira, 8 de março de 2022

A REFORMA DE JOSIAS – compreendendo o contexto

 

Para compreendermos melhor a abrangência da reforma espiritual proposta pelo rei Josias (2Rs 22-23 / 2Cr 34-35) é preciso retomar um pouco a história de Israel.

Deus escolheu Abraão e com ele – e sua descendência – fez uma aliança.  Através de Moisés estabeleceu leis que regulariam a vida do povo e a sua adoração.  Com o rei Davi, o culto no templo foi organizado e as promessas refeitas.  

Após a morte de Davi e de seu filho Salomão sucessiva e repetidamente Israel e Judá abandonaram a aliança e seguiram após outros deuses.

A nação que deveria ser alvo das bênçãos divinas conheceu derrotas e calamidades.  Isso é o que acontece quando o povo de Deus abandona a aliança (leia a promessa de bênção pela obediência em Lv 26:1-12 e o castigo previsto pelo abandono ao Senhor em Lv 26:14-35).

Essa era a situação de Israel quando Josias subiu ao trono (século VII a.C.).  O povo tinha abandonado o Senhor e sua aliança e estava sofrendo as consequências.

Tudo então começou a mudar quando o rei começou a buscar ao Senhor (2Cr 34:3).  

Com este intento, o rei Josias iniciou o processo de purificação de Judá derrubando altares idólatras com suas imagens esculpidas por toda a nação.

Mas faltava o foco principal: Jerusalém e o seu templo.  Dois anos depois de iniciar seu projeto de reforma, o rei baixou uma ordem para que os tesouros do templo fossem restituídos e que uma obra de restauração profunda tivesse início.

Antes de prosseguir na leitura dos desdobramentos desta decisão real, uma expressão chama a atenção: o texto bíblico relata que os homens que foram incumbidos da tarefa fizeram o trabalho com fidelidade (2Cr 34:12).

Aqui está um segredo do sucesso da empreitada: sem trabalho com fidelidade ao Senhor não se faz reforma, nem restauração de aliança.

Voltando à compreensão da reforma de Josias, lemos que dois acontecimentos são fundamentais para os seus destinos, um vinculado ao outro: na obra de reconstrução, o Livro da Lei foi achado e a profetiza Hulda foi consultada.

Enquanto avaliavam a prataria trazida ao templo para a obra de reforma, um tesouro muito mais valioso foi encontrado, o texto diz que o sacerdote Hilquias encontrou o Livro da Lei que havia sido dado por meio de Moisés (2Cr 34:14).

Se por um lado este fato leva-nos a entender que a causa da ruína nacional estava no abandono do Livro da Lei, por outro, ao encontrar o rolo, claramente abriram-se novas perspectivas espirituais para o povo.

O culto é o momento em que o encontro entre o Deus adorado e o ser humano adorador se faz real e é a partir das verdades encontradas no texto sagrado que tal encontro se mostra efetivo e significativo.

Contudo, somente o fato de o rolo ter sido encontrado não garante o sucesso da reforma.

Ao saber do livro, o rei prontamente determinou que o Senhor fosse consultado a respeito do que estava escrito ali.  É neste ponto da história que entrou a profetiza Hulda.

A palavra de Hulda iniciou-se com a fórmula clássica: assim diz o Senhor (2Cr 34:23).  A partir da leitura do texto encontrado, e de sua interpretação profética, o pecado do povo foi apontado, lembrando dos castigos impostos, mas principalmente Deus anunciou que ouviu o rei.

Diante deste anúncio, Josias tomou uma determinação:

 

Ele tomou o seu lugar no templo do Senhor,
fez uma aliança, comprometendo-se a seguir o Senhor
e obedecer de todo coração e de toda alma aos seus mandamentos,
aos seus testemunhos e aos seus decretos,
cumprindo as palavras da aliança escritas naquele livro.
(2Cr 34:31)

 

A consequência é que toda estrutura de adoração foi recomposta em Jerusalém, iniciando-se com a celebração da Páscoa, a principal ocasião do calendário das festas de Israel e símbolo da passagem de uma antiga era para uma nova aliança.

Utilizando-se das instruções contidas no Livro da Lei e das palavras proféticas, uma nova aliança foi estabelecida e o culto foi restaurado.

O próprio texto bíblico apresenta a conclusão desta renovação:

 

Assim, naquele dia, todo o serviço do Senhor foi executado
para a celebração da Páscoa
e para a apresentação de holocaustos no altar do Senhor,
 conforme o rei Josias havia ordenado.
(2Cr 35:16).

 

(Na imagem lá em cima: Uma bulla – impressão de selo – e um selo de 2.600 anos, trazendo referência ao Rei Josias.  Descoberto em Jerusalém.  Crédito: abiblica.org)

 

2 comentários:

  1. Gostaria de entender uma coisa, Josias era rei de Judá e este episódio está relacionado com a profecia do altar de Jeroboão que era rei de Israel, qual a conexão?

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    1. Realmente, embora os episódios seja distintos, até pela distância histórica (Jeroboão viveu no século IX e reinou no Norte e Josias viveu no século VII e reinou no sul), a fé e as tradições proféticas de ambos os reinos tinham um herança em comum: as leis e a revelação do Sinai por um lado e o ministério carismático profético dos profetas

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