Para compreendermos melhor a abrangência da reforma espiritual proposta
pelo rei Josias (2Rs 22-23 / 2Cr 34-35) é preciso retomar um pouco a história
de Israel.
Deus escolheu Abraão e com ele – e sua descendência – fez uma aliança. Através de Moisés estabeleceu leis que regulariam
a vida do povo e a sua adoração. Com o
rei Davi, o culto no templo foi organizado e as promessas refeitas.
Após a morte de Davi e de seu filho Salomão sucessiva e repetidamente Israel
e Judá abandonaram a aliança e seguiram após outros deuses.
A nação que deveria ser alvo das bênçãos divinas conheceu derrotas e calamidades.
Isso é o que acontece quando o povo de
Deus abandona a aliança (leia a promessa de bênção pela obediência em Lv
26:1-12 e o castigo previsto pelo abandono ao Senhor em Lv 26:14-35).
Essa era a situação de Israel quando Josias subiu ao trono (século VII
a.C.). O povo tinha abandonado o Senhor
e sua aliança e estava sofrendo as consequências.
Tudo então começou a mudar quando o rei começou a buscar ao Senhor
(2Cr 34:3).
Com este intento, o rei Josias iniciou o processo de purificação de Judá
derrubando altares idólatras com suas imagens esculpidas por toda a nação.
Mas faltava o foco principal: Jerusalém e o seu templo. Dois anos depois de iniciar seu projeto de
reforma, o rei baixou uma ordem para que os tesouros do templo fossem
restituídos e que uma obra de restauração profunda tivesse início.
Antes de prosseguir na leitura dos desdobramentos desta decisão real, uma
expressão chama a atenção: o texto bíblico relata que os homens que foram
incumbidos da tarefa fizeram o trabalho com fidelidade (2Cr 34:12).
Aqui está um segredo do sucesso da empreitada: sem trabalho com
fidelidade ao Senhor não se faz reforma, nem restauração de aliança.
Voltando à compreensão da reforma de Josias, lemos que dois acontecimentos
são fundamentais para os seus destinos, um vinculado ao outro: na obra de
reconstrução, o Livro da Lei foi achado e a profetiza Hulda foi consultada.
Enquanto avaliavam a prataria trazida ao templo para a obra de reforma,
um tesouro muito mais valioso foi encontrado, o texto diz que o sacerdote
Hilquias encontrou o Livro da Lei que havia sido dado por meio de Moisés
(2Cr 34:14).
Se por um lado este fato leva-nos a entender que a causa da ruína
nacional estava no abandono do Livro da Lei, por outro, ao encontrar o rolo,
claramente abriram-se novas perspectivas espirituais para o povo.
O culto é o momento em que o encontro entre o Deus adorado e o ser humano
adorador se faz real e é a partir das verdades encontradas no texto sagrado que
tal encontro se mostra efetivo e significativo.
Contudo, somente o fato de o rolo ter sido encontrado não garante o sucesso
da reforma.
Ao saber do livro, o rei prontamente determinou que o Senhor fosse
consultado a respeito do que estava escrito ali. É neste ponto da história que entrou a
profetiza Hulda.
A palavra de Hulda iniciou-se com a fórmula clássica: assim diz o
Senhor (2Cr 34:23). A partir da
leitura do texto encontrado, e de sua interpretação profética, o pecado do povo
foi apontado, lembrando dos castigos impostos, mas principalmente Deus anunciou
que ouviu o rei.
Diante deste anúncio, Josias tomou uma determinação:
Ele tomou o
seu lugar no templo do Senhor,
fez uma aliança, comprometendo-se a seguir o Senhor
e obedecer de todo coração e de toda alma aos seus mandamentos,
aos seus testemunhos e aos seus decretos,
cumprindo as palavras da aliança escritas naquele livro.
(2Cr 34:31)
A consequência é que toda estrutura de adoração foi recomposta em
Jerusalém, iniciando-se com a celebração da Páscoa, a principal ocasião do
calendário das festas de Israel e símbolo da passagem de uma antiga era para
uma nova aliança.
Utilizando-se das instruções contidas no Livro da Lei e das palavras
proféticas, uma nova aliança foi estabelecida e o culto foi restaurado.
O próprio texto bíblico apresenta a conclusão desta renovação:
Assim,
naquele dia, todo o serviço do Senhor foi executado
para a celebração da Páscoa
e para a apresentação de holocaustos no altar do Senhor,
conforme o rei Josias havia ordenado.
(2Cr 35:16).
(Na imagem
lá em cima: Uma bulla – impressão de selo – e um selo de 2.600 anos,
trazendo referência ao Rei Josias. Descoberto
em Jerusalém. Crédito: abiblica.org)
Gostaria de entender uma coisa, Josias era rei de Judá e este episódio está relacionado com a profecia do altar de Jeroboão que era rei de Israel, qual a conexão?
ResponderExcluirRealmente, embora os episódios seja distintos, até pela distância histórica (Jeroboão viveu no século IX e reinou no Norte e Josias viveu no século VII e reinou no sul), a fé e as tradições proféticas de ambos os reinos tinham um herança em comum: as leis e a revelação do Sinai por um lado e o ministério carismático profético dos profetas
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