terça-feira, 2 de junho de 2020

Teólogos Escolásticos

Costumamos chamar de Idade das Trevas os anos da Idade Média européia – principalmente os primeiros anos – quando a produção e o fomento de cultura e conhecimento ficaram mais escassos e seriamente restritos e dominados pelos círculos religiosos.

Mas esse período não foi de completa ausência reflexão e debate, e em geral, damos o título de ESCOLÁSTICOS aos pensadores deste período.  O termo vem lá do grego: σχολαστικός – aquele que pertence a uma escola, daí instruído, sábio.

O principal teólogo deste período foi Tomás do Aquino (Itália, 1225-1274), cuja obra mais proeminente – Summa Teologicæ – balizou o corpo doutrinário católico e sua dogmática.

Na lista abaixo, procurei apontar alguns dos pensadores cristãos que contribuíram com a reflexão teológica nesse período escolástico, mas que não estão entre os mais conhecidos hoje em dia. 

 

João Scoto Erígena (Irlanda, 810-877) –

ü      Existe uma predestinação benévola em relação à criação pois tudo é controlado por Deus.

ü      A natureza é a totalidade das coisas, existentes e não existentes, daí se dividir em quatro partes: 1. a natureza não criada, 2. a natureza que foi criada e que cria, 3. a natureza que foi criada mas não cria, 4. A natureza que nem foi criada nem cria.

ü      O homem é o microcosmo e Deus é o macrocosmo do universo.

ü      Universalista, afirmava que todo homem caído no pecado seria redimido pelo Logos em sua encarnação quando o homem – pela força iluminadora do Logos divino – sendo reabsorvido em sua essência divina.

Avicena (Pérsia, 980-1037) –

ü      Opunha-se a atomismo afirmando que nada existe de absoluto dentro do mundo finito.

ü      Deus é um ser perfeito e necessário, completo e absoluto.

ü      A criação se fez necessária e o mal é um acidente da existência.

ü      Os profetas adquiriram a capacidade de entrar em contato com a inteligência superior – Deus, recebendo o conhecimento de verdades específicas.

Salomão Ibn Gabirol, conhecido como Avicebron (Espanha, 1021-1058) –

ü      Todas as substâncias terrenas e espirituais combinam força e matéria.

ü      O mundo procede da unidade divina por meio de uma série de emanações mediadas pela própria vontade divina.

ü      Deus, em sua verdadeira natureza, permanece acima da compreensão humana.

ü      A vida humana não faz sentido sem que se relacione com Deus mediante o conhecimento e a devoção, o que conduz a dominação da natureza animal voltada para a sensualidade e aproxima da natureza divina.

Anselmo de Cantuária (Itália, 1033-1109) –

ü      Criou o argumento ontológico em duas formas: 1. Deus é a realidade maior que podemos conceber, 2. A não existência de Deus é uma contradição de termos.

ü      Há uma diferença entre o pensamento e a realidade pensada pois o que existe é apenas o conceito do ser último.

ü      O ser humano não chega a Deus por meio de especulações mentais, mas pela iluminação divina e pela experiência mística que comunica ao homem a verdade.

ü      Ao morrer pelos homens, Cristo proveu  uma satisfação proporcional à culpa humana, uma dádiva de si mesmo, que requer uma recompensa proporcional: a salvação do homem.

ü      Defendeu o realismo metafísico em dois mundos: a realidade material do mundo físico e a realidade espiritual do mundo metafísico.

ü      A ética deve der fundamentada no amor.

Pedro Abelardo (França, 1079-1142) –

ü      Procurou desenvolver vários conceitos fora do cotidiano da teologia dogmática.

ü      Introduziu o método dialético na Teologia tentando combinar autoridade e razão, fé e erudição.

ü      Fé e razão não podem contradizer-se pois partem da mesma fonte – a verdade divina.

ü      Ocupou-se da questão das fontes cristãs afirmando que a Bíblia é infalível, enquanto que os pais eclesiásticos podem errar.

Maimônides (Espanha, 1138-1204) –

ü      Mesmo sendo judeu influenciou bastante a teologia cristã, tentando conciliar o pensamento judeu com a filosofia aristotélica.

ü      O mundo foi criado a partir de uma agência divina e por isso não é uma matéria eterna.

ü      Deus é radicalmente diferente do mundo e por isso só podemos afirmar – pela razão – o que Deus não é.

Boaventura de Bagnoregio (Itália, 1221-1274) –

ü      A filosofia culmina no misticismo, que se constitui sua mais elevada expressão, logo, razão sem fé sempre cai no erro.

ü      Todas as pessoas, por mais simples que sejam têm uma consciência e nesta consciência está implícito um conhecimento de Deus.

ü      Para provar a existência de Deus seguiu os argumentos de Anselmo.

ü      Há no ser humano um elemento ético que deve ser cultivado pelo busca da felicidade.

ü      As constantes alterações do mundo material não nos permitem encontrar a verdade pela simples observação.

João Duns Scotus (Escócia, 1266-1308) –

ü      Não deixou obra escrita, mas suas idéias foram compiladas pelos seus alunos.

ü      O amor de Deus ocupa o lugar central da teologia.

ü      O homem tem intelecto, porém este intelecto é inferior ao de Deus por está limitado pela natureza biológica;

ü      Ao nascer o ser humano é uma tabula nuta (placa nua) na qual serão escritos os conhecimentos acumulados ao longo da vida.

ü      Aceitou a autoridade da igreja, mas somente no campo das doutrinas.

Guilherme de Ockham (Inglaterra 1288-1347) –

ü      A partir de uma leitura própria de Aristóteles, tentou simplificar a filosofia  escolástica negando a existência de essências intencionais, a distinção de essência e existência e entre intelecto ativo e intelecto passivo.

ü      No campo da ética afirmou que a noção de certo e errado depende da vontade de Deus.

ü      Acreditou na realidade e confiabilidade das funções intuitivas humanas.

ü      Deus não pode ser conhecido por razões ontológicas, somente pela revelação.

ü      Foi um precursor da democracia afirmando a liberdade da vontade humana.

2 comentários:

  1. Bom texto, mas entendo que apesar de ter influenciado os escolásticos Avicena não deveria ser categorizado como autor cristão. Era muçulmano.

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    1. Concordo com sua objeção. Realmente hesitei em incluir Avicena na lista mas acabei em deixá-lo pela sua influência e por que na época, cristãos, judeus e muçulmanos mantinham um diálogo amigável, respeitoso e profícuo.
      Abr.

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