Desde que a função de veículo prioritário para comunicação à distância foi ocupado pelo celular (os lusitanos preferem chamar o aparelho de telemóvel - eu gosto dessa palavra).
Mas... começando de novo ainda em português brasileiro.
Desde que a função de veículo prioritário para comunicação à distância foi ocupado pelo celular, a forma de trocar informação tem se modificado, não apenas via celular especificamente, mas de um jeito geral.
E nestes tempos de distanciamento necessário, novos hábitos, novas tendências e novos jeitos ganham espaço implacável.
Olhando agora para o aparelho é fácil observar como a comodidade caminhou nas mãos, via celular.
Primeiro se ligava e falava, depois migramos para o hábito de escrever as mensagens e o passo seguinte foi gravar um áudio e enviar (confesso que ainda tenho dificuldades com os áudios em minhas redes sociais).
Mas agora a tendência é fazer live. Uma mistura de tudo isso aí no parágrafo anterior só que ao vivo (acho que no português europeu seria em direto). Ou seja a transmissão é feita simultaneamente.
E, se já não me sinto muito à vontade com áudios, imagine quando me cobram:
— Você precisa fazer live!
Geralmente nesse ponto eu paro e penso antes de responder. Não é que tenha algo contra as mídias modernas - estou nas redes sociais e mantenho ativa uma página na internet. Também não é um problema falar diante de pessoas - como pastor e professor, o desafio do auditório se fez costumeiro.
— Então, por que não faz live?
— Então ...
Para falar bem a verdade, eu gosto da palavra escrita, sempre preferi. Eu me sinto em casa e à vontade com o texto redigido. É só uma questão de preferência pessoal mesmo.
Dizem que escrevendo se perde entonação e sotaque. Além de não se ter o controle completo da mensagem que chega ao leitor pois ele pode atribuir ênfases e significados múltiplos e diversos.
É verdade. É um risco. E por isso, um desafio.
Mas gosto do desafio. Gosto da magia da escrita e do efeito gráfico. Gosto também da briga com a palavra, do garimpo do léxico e das nuances da sintaxe. E isso é coisa que exige tempo, paciência, engenhosidade e revisões intermináveis que só a escrita pode ofertar.
Assim, um texto nunca fica pronto até que um leitor qualquer (ou específico) o tome e o decifre. Por isso, gosto particularmente de oferecer uma possibilidade de caleidoscópio de significados a quem me lê. Acho que é essa alquimia que me mantém escrevendo mesmo num mundo onde gradualmente menos se lê e mais se ouve e vê.
— Será que estou ficando anacrônico?
— Preciso mesmo fazer live?
Nenhum comentário:
Postar um comentário