terça-feira, 11 de novembro de 2014

MAR IMENSO

Gente como eu teve o privilégio de nascer em uma cidade de frente para o mar.  Mas sei que muitos nunca sequer colocaram os olhos numa praia – e para não fugir do jargão comum: não sabem o que estão perdendo! E mais: é preciso ver para crer!
Estou bem ciente que João no final de seu Apocalipse observa que diante da Jerusalém escatológica o mar já não existe (confira em Ap 21:1).  Mas tal palavreado técnico se refere a outro assunto.  Penso depois, em outro momento, falar também sobre ele.
Então, voltemos ao mar imenso.  E como ele é fascinante!
Estou me lembrando agora de um garoto de nossa igreja lá em Dracena – interior de São Paulo onde tive a oportunidade de também pastorear, cidade distante mais de meio dia de viagem do mar.  Ele jamais tinha visto uma praia e vivia me dizendo que se morasse numa cidade como Aracaju ia a praia todo dia.  Eu achava interessante sua disposição e geralmente lhe respondia:
— Isto é na primeira semana.  Depois você se acostuma e arruma mais o que fazer.  E a vida simplesmente segue...
Eh! Talvez este seja exatamente o problema: nasci aqui e com certeza já fui a praia incontáveis vezes.  Já fui de manhã cedo ver o sol nascer.  Já fui com o sol a pino.  Já vi o dia se findar olhando o mar.  Já fui com calor e frio (e nem sei se isso acontece mesmo por aqui).  Já fui também em dia com chuva.  Já fui apenas tomar banho, ou conversar.  Já fui jogar bola na areia.  E sei lá quantas outras vezes e sob quais outras circunstâncias.  Então, a gente se acostuma e arruma mais o que fazer.  E a vida simplesmente segue...
Então acaba guardando o fascínio pelo mar em alguma gaveta esquecida da alma.  O brilho nos olhos fica fosco.  E o seu som perde eco e se esvazia.
Mas de vez em quando o mar imenso insiste em se mostrar.  Futuca quem esteve quieto.  Quebra suas ondas no espírito adormecido.  Acaricia a face com o toque suave de sua brisa.  Traz à tona impressões longínquas.  E insiste misturar tudo num caldeirão de memórias e ideias.  O mar tem destas coisas!
Então me pego mais uma vez embevecido pelo fascínio do mar.  Ele não é apenas grande.  Ele é imenso.  É desafiante.  Tem contornos de mistério – mas é maravilhoso.
Sim, é claro que alguns argumentarão que o mar pode causar medo e arrepios.  Também impõe perdas e separações, e por vezes irreparáveis.  Mas nada embaça seu fascínio.  Pois pense bem a partir daqui:
— Você sabe que na praia de Atalaia, olhando bem de frente, do outro lado está a África!  Mas meus olhos não alcançam.
Pois então, com os olhos dispersos no mar imenso, como diria o Chico Buarque, meio até remoçando, me pego cantando sem mais nem porque...

E que mais posso dizer? Se o mar imenso é assim, imagine quem o criou!

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