O ser
humano tem consciência de si, e nisto está a sua incerteza quanto à sua própria
existência. Quem seu eu? Qual a minha função? Qual o meu destino? São questões que precisam ser respondidas
para que a existência humana possa se mostrar íntegra; integridade que, segundo
sugestão de Freud, está indissoluvelmente ligada as suas crenças. Ao passar do pai primevo ao totem e daí ao
politeísmo, vindo depois a aceitar o monoteísmo, o ser humano forjou uma
identidade íntegra que é capaz de lhe fornecer as respostas necessárias para
que sua existência faça sentido.
Quem sou eu é
respondido pela crença num único Deus, que se revelou em Jesus Cristo,
explicitando que o ser humano é alguém criado para se relacionar com o divino
que ao mesmo tempo transcende e está imanente a este ser humano. Qual a
minha função encontra resposta na certeza dogmática oriunda da afirmação de
um Deus trinitário: que sendo um, também pode ser três. Qual o
meu destino deve ser respondido na esperança cristã escatológica de que o
Reino de Deus se realizará na história e a despeito dela, rompendo-lhe todas as
limitações, reconstruindo o paraíso.
Aqui a
afirmação de Paul Tillich de que Deus deve ser a preocupação última do ser
humano demonstra-se como a chave que une todos os pontos em questão. Qualquer preocupação relativa que queira
usurpar o status da ultimicidade se configura como idolatria, ou seja, algo que
pretenda ocupar o lugar que cabe exclusivamente a Deus. E, exatamente por isto, esta absolutização
idolátrica do finito decompõe o ser fazendo-o fragmentário e sujeito ao domínio
do não-ser. Por ser criatura, o ser humano
vive constantemente entre o limite do ser e do não-ser e somente o apego
incondicional a Deus, como realidade última, é que poderá fazer com que o
não-ser seja finalmente dominado pela essência do ser – Deus – dando assim
sentido a existência humana.
A integridade
do ser está ligada à pureza de coração – que é querer uma só coisa – e,
desdobrando daí, ao sumum bonum – o
centro da lealdade humana. Quem está com
o centro divido pela deposição na crença em mais de uma divindade não pode ter
pureza de coração, logo não vive uma existência íntegra. Por outro lado, então, e certamente, a crença
exclusiva em um único Deus coloca a existência humana centrada em um único leal
objetivo. Um único Deus faz a vida
humana íntegra. Esta conclusão faz das
palavras de Jesus serem portadoras de significados existenciais bem mais
profundos:
“Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas
coisas vos serão acrescentadas”
(Mt 6:33)
(Mt 6:33)
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