terça-feira, 18 de novembro de 2014

A Crença no Monoteísmo e a Integridade do Ser

O ser humano tem consciência de si, e nisto está a sua incerteza quanto à sua própria existência.  Quem seu eu?  Qual a minha função?  Qual o meu destino?  São questões que precisam ser respondidas para que a existência humana possa se mostrar íntegra; integridade que, segundo sugestão de Freud, está indissoluvelmente ligada as suas crenças.  Ao passar do pai primevo ao totem e daí ao politeísmo, vindo depois a aceitar o monoteísmo, o ser humano forjou uma identidade íntegra que é capaz de lhe fornecer as respostas necessárias para que sua existência faça sentido.
Quem sou eu é respondido pela crença num único Deus, que se revelou em Jesus Cristo, explicitando que o ser humano é alguém criado para se relacionar com o divino que ao mesmo tempo transcende e está imanente a este ser humano.  Qual a minha função encontra resposta na certeza dogmática oriunda da afirmação de um Deus trinitário: que sendo um, também pode ser três.  Qual o meu destino deve ser respondido na esperança cristã escatológica de que o Reino de Deus se realizará na história e a despeito dela, rompendo-lhe todas as limitações, reconstruindo o paraíso.
Aqui a afirmação de Paul Tillich de que Deus deve ser a preocupação última do ser humano demonstra-se como a chave que une todos os pontos em questão.  Qualquer preocupação relativa que queira usurpar o status da ultimicidade se configura como idolatria, ou seja, algo que pretenda ocupar o lugar que cabe exclusivamente a Deus.  E, exatamente por isto, esta absolutização idolátrica do finito decompõe o ser fazendo-o fragmentário e sujeito ao domínio do não-ser.  Por ser criatura, o ser humano vive constantemente entre o limite do ser e do não-ser e somente o apego incondicional a Deus, como realidade última, é que poderá fazer com que o não-ser seja finalmente dominado pela essência do ser – Deus – dando assim sentido a existência humana.
A integridade do ser está ligada à pureza de coração – que é querer uma só coisa – e, desdobrando daí, ao sumum bonum – o centro da lealdade humana.  Quem está com o centro divido pela deposição na crença em mais de uma divindade não pode ter pureza de coração, logo não vive uma existência íntegra.  Por outro lado, então, e certamente, a crença exclusiva em um único Deus coloca a existência humana centrada em um único leal objetivo.  Um único Deus faz a vida humana íntegra.  Esta conclusão faz das palavras de Jesus serem portadoras de significados existenciais bem mais profundos:

“Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”
(Mt 6:33)

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