O texto
final do discurso de Josué, quando ele declara com convicção: "eu e a
minha casa serviremos ao Senhor" (encontra-se em Js 24:15), está entre as
mais conhecidas e citadas passagens sobre família em toda a Bíblia. Talvez seja por isso que sempre que nós nos propomos
a refletir sobre ele corremos o risco de ser repetitivo ou pouco criativo e,
por isso mesmo, desinteressante.
Tudo
bem. Eu estou disposto a correr este
risco. Mas para isso quero lhe convidar
a usar sua imaginação espiritual – esse dom maravilhoso e engenhoso que nos foi
dado pelo próprio Deus – a serviço da compreensão do texto. Então, por favor, queira me acompanhar que eu
vou a Siquém, tentar me juntar ao grupo que estará ali para ouvir o último
discurso de Josué.
Sabendo
que seus dias já se aproximavam do fim (ele disse isso em Js 23:14), o grande
líder nacional Josué convocou todos os chefes de famílias e clãs de Israel para
uma última reunião da confederação das tribos de Israel sob o seu comando (é no
meio dessa gente que eu quero me misturar!).
É claro,
aquela não seria apenas mais uma reunião como tantas outras reuniões
eclesiásticas que enchem nossas agendas – com o velho Josué na liderança nunca
seria assim!
O texto
não fala sobre o horário da reunião – e nem é importante – mas já que estou
usando minha imaginação espiritual, deixe-me compor o cenário, isso ajuda: a
reunião deve ter acontecido logo nas primeira horas do dia, ou talvez já com o
sol a se por (acho melhor! Para alinhar com a viração do dia em Gn 3:8). Não acho que o sol estava a pino.
Juntos,
a liderança de cada casa de Israel se postaria para ouvir o que Josué ainda
tinha para dizer. É verdade que a tarefa
da conquista não tinha sido concluída, mas era inegável que Deus não havia
faltado com nenhuma de suas promessas (compare Js 13:1 com Js 23:14).
Quando então
Josué tomou da palavra, eu conseguiria perceber um silêncio respeitoso na
assembleia. Aquele homem tinha o que
dizer, e valeria a pena ouvi-lo. Não era
apenas um velho remoendo suas memórias gastas pelo passar dos anos. À nossa frente estaria um ancião ainda
vigoroso, cuja idade só lhe serviu como coroamento de virtudes raras e
preciosas.
— Esse momento em Siquém para ouvir o velho
Josué eu não perderia por nada!
As
rugas certamente emolduravam sua face, mas elas me diriam que o espírito do
guerreiro depurou-se. Talvez já não
houvesse o ímpeto juvenil, agora porém transbordavam sabedoria e maturidade. Certamente estas compensavam aquele, e com
vantagem!
Olhando
o filho de Num, da tribo de Efraim, estaríamos diante da prova viva da ação e
intervenção do Senhor em nossa história: nascido em tempos de escravidão no
Egito (dali só restavam agora ele e Calebe de Judá), os anos pelo deserto, os
passos como pupilo de Moisés e a liderança na conquista da terra só atribuíam
credibilidade às suas palavras.
Diante
de nós não estaria um aventureiro da fé ou um oportunista com um discurso
religioso bonito. Era um líder cuja vida
testemunhava a favor de si – a estes valem a pena ouvir.
Tudo
ali era significativo. Até o próprio
local da reunião. Não sei por que não
escolheram Siló, onde estava provisoriamente instalada a Tenda do Encontro e a
Arca da Aliança. Talvez poderia ser a
opção mais lógica. Penso que foi mais
por razões históricas e não espirituais.
O
encontro aconteceu em Siquém, cidade-refúgio dada aos levitas nas montanhas de
Efraim (confira em Js 21:21). Foi
naquele lugar, sob o carvalho de Moré, que o patriarca Abraão ergueu o primeiro
altar em adoração ao Senhor logo que chegou na terra (narrado em Gn 12:6-7). Aquele quinhão de terra tinha história. Toda a atmosfera transpirava aliança e
compromissos antiquíssimos. Além do
mais, ali também era terra santa, onde Deus se habituara a falar com o povo.
Voltemos
ao encontro.
Ao
silêncio respeitoso, do qual já falei lá em cima, seguiriam-se as palavras de
Josué. Primeiro uma excelente, embora resumida,
resenha histórica. Mais que narrativas
alheias, o que se ouviria naquele dia seria um testemunho de fé em primeira
pessoa, de alguém que, pela própria experiência, era capaz de crer em um Deus
que sempre intervém na história, e o faz por amor e aliança.
Então
Josué terminaria desafiando o povo.
Parece que ele entendia que uma coisa deveria levar à outra. Eu sei que estamos acostumados a recitar Js
24:15 como promessa, profecia, herança, declaração de garantia, súplica ou algo
que o valha. Mas naquele dia, em Siquém,
as palavras não me pareceriam ter saído da boca do líder Josué com nenhuma
destas conotações. Era compromisso. Era disposição. Era um projeto de vida que começava pelo
chefe da família e, a partir dele, contagiaria a todos.
Nas
montanhas de Efraim, Josué estaria me desafiando a assumir a responsabilidade
diante do Senhor de conduzir a minha família nesta senda sagrada: a minha casa
servirá ao Senhor na exata medida em que eu assumir o eixo condutor deste
serviço e adoração.
E tendo
à frente um modelo e padrão como o de Josué, em Siquém eu ouviria o povo
responder com convicção ao desafio: "nós também serviremos ao Senhor"
(leia Js 24:18).
Volto a
lembrar o exercício de imaginação espiritual proposto lá no início destas
palavras. Estando você comigo a ouvir o
chamamento de Josué, que resposta daremos a ele? Faremos coro com os líderes de
família de Israel? E na prática, em nossa vida e história, que resposta
daremos?
E que o
Senhor nos dê homens da estirpe de Josué.
Deus abençoe sua vida, sua família e ministério. Abraços fraternos. (Edson Cerqueira)
ResponderExcluirAmém querido.
ResponderExcluirAbs