sexta-feira, 21 de novembro de 2014

DIAS PROFÉTICOS



Estava ouvindo o radio enquanto dirigia aqui em Aracaju numa estação dita evangélica(!).  Gosto de fazer isso – é interessante, mesmo que sempre me sinta na necessidade de colocar uma exclamação ou algo parecido no adjetivo usado.  Um dia vou falar mais sobre o tema.
Mas, voltando ao que comecei a dizer, estava ouvindo o rádio do carro quando o locutor-apresentador-bispo (sei lá o que ele é) insistiu em repetir que, por estarmos vivendo dias proféticos, o carnê da campanha deveria se quitado.
Duas questões me ocorreram então.  Em primeiro lugar, já em casa enquanto almoçava, conversei sobre qual a relação entre os tais dias proféticos e o carnê quitado da campanha.  Depois de algumas hipóteses, cada uma mais esdrúxula que outra, chegamos à conclusão que só nos restava a ignorância.  Mesmo com todo o tempo de igreja, algumas leituras completas da Bíblia, a ajuda inestimável de mulher e filho na reflexão em casa e a formação acadêmica em Teologia devo confessar que ainda não consigo fazer a ponte entre estes dias, o carnê e a Bíblia.  Então resolvi deixar para lá...
Mas ainda tem a outra questão: o que são dias proféticos? Seriam os dias em que as profecias se cumprem? Ou quando elas são proferidas? E quais profecias? Elas são gerais para a igreja? Ou específicas para alguns cristãos em particular?
Como no caso citado também não tenho respostas, resolvi fazer um inventário de expressões que têm se tornado moda em nosso universo evangélico brasileiro – termos que andei recolhendo na internet, no rádio e principalmente em vários púlpitos por aí.
É comum ouvir falar de: atos proféticos, louvor profético, adoração profética, ritual profético, unção profética, visão profética, palavra profética, intercessão profética, olhar profético, coração profético, choro profético, bênção profética, dança profética, avivamento profético e por aí vai.  Alguns eu até posso desconfiar do que se trata, embora, na sua absoluta maioria, não os veja citados na Bíblia – o que para mim é o mais importante.
Virou padrão acrescentar adjetivos assim às expressões, mesmo que vazios de significados, pois o importante parece ser o efeito de marketing que produz.  E as nossas igrejas vão se contaminando com esse tipo de penduricalhos, mas carentes de vida cristã e compromissos espirituais autênticos, ressequidas sem a água que só pode ser bebida na Palavra.  E acabam comendo areia como se fosse bife.
Repito o que já disse várias vezes e em vários contextos diferentes.  Não tenho nem o direito e nem a propriedade para julgar ninguém; muito menos quem se diz falar em nome do Senhor (afinal isso é profecia), mas não sei se estou ficando ranzinza ou démodé ou se há algo realmente muito errado com isso tudo!
O que posso afirmar com convicção é que profecia mesmo é ter coragem de transformar nosso tempo em dias proféticos clamando que o machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada no fogo (palavras de João Batista em Lc 3:9).  Nem que isso nos custe o pescoço.

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