Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu
Deus.
Carlos Drummond de Andrade
Do livro
"Alguma poesia" (1930)
Encontrei
este poema por acaso. Folheando alguns
livros na biblioteca da Faculdade, na tentativa de estudar Teoria Literária, eu
me deparei com este versinhos – sem nenhum menosprezo – do poetinha mineiro
Carlos Drummond de Andrade. O autor da
gramática o colocou no livro com o intuito de exemplificar qualquer coisa da
tal Teoria.
Veja o
que aconteceu... Mas, antes, deixe me
justificar. Não vou comentar nada sobre
o inigualável Drummond – é desnecessário.
Lembro apenas que o meu professor se referia a ele como o segundo maior
poeta da história do Brasil (o primeiro foi Gregório de Matos). Também não sou crítico literário, e nem
pretendo ser para fazer análise teórica da poesia. Tem gente que já faz isso.
Então,
veja o que aconteceu. Passados anos do
meu primeiro contato com o poema, não tenho a mínima lembrança daquele livro
onde o encontrei, e nem sequer a qual aspecto da teorização o autor se referia
– isso o tempo me fez o favor de deletar da memória. Mas as palavras do poema estão ainda bem
vivas.
Nem fiz
questão de decorá-lo na hora, mas ainda hoje sou capaz de repeti-lo. Não sei exatamente por que, mas ficaram
gravadas. Talvez por ter dado uma boa
risada quando o li pela primeira vez.
Isso
sim é poesia. E não precisa de teoria
para entendê-la ou defini-la. As
palavras fazem seu trabalho: do título ao ritmo preguiçoso de cada verso. E para terminar, a quebra do último verso: Eta vida besta, meu Deus. Pronto.
Completo.
Ora,
não tenho como saber qual era a intenção principal de Drummond ao escrever, mas
eu sei que estes versos têm poder de provocar em mim aquela gostosa sensação da
vida do interior – com toda a nostalgia que inclui. E para mim isso é saudável!
(Na
imagem lá em cima, a reprodução do quadro "Entre morros e roda d'água" pintado por Anita Malfatti, na década de 1950)
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