terça-feira, 25 de novembro de 2014

CIDADEZINHA QUALQUER

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond de Andrade
Do livro "Alguma poesia" (1930)

Encontrei este poema por acaso.  Folheando alguns livros na biblioteca da Faculdade, na tentativa de estudar Teoria Literária, eu me deparei com este versinhos – sem nenhum menosprezo – do poetinha mineiro Carlos Drummond de Andrade.  O autor da gramática o colocou no livro com o intuito de exemplificar qualquer coisa da tal Teoria.
Veja o que aconteceu...  Mas, antes, deixe me justificar.  Não vou comentar nada sobre o inigualável Drummond – é desnecessário.  Lembro apenas que o meu professor se referia a ele como o segundo maior poeta da história do Brasil (o primeiro foi Gregório de Matos).  Também não sou crítico literário, e nem pretendo ser para fazer análise teórica da poesia.  Tem gente que já faz isso.
Então, veja o que aconteceu.  Passados anos do meu primeiro contato com o poema, não tenho a mínima lembrança daquele livro onde o encontrei, e nem sequer a qual aspecto da teorização o autor se referia – isso o tempo me fez o favor de deletar da memória.  Mas as palavras do poema estão ainda bem vivas. 
Nem fiz questão de decorá-lo na hora, mas ainda hoje sou capaz de repeti-lo.  Não sei exatamente por que, mas ficaram gravadas.  Talvez por ter dado uma boa risada quando o li pela primeira vez. 
Isso sim é poesia.  E não precisa de teoria para entendê-la ou defini-la.  As palavras fazem seu trabalho: do título ao ritmo preguiçoso de cada verso.  E para terminar, a quebra do último verso: Eta vida besta, meu Deus.  Pronto.  Completo.
Ora, não tenho como saber qual era a intenção principal de Drummond ao escrever, mas eu sei que estes versos têm poder de provocar em mim aquela gostosa sensação da vida do interior – com toda a nostalgia que inclui.  E para mim isso é saudável!

(Na imagem lá em cima, a reprodução do quadro "Entre morros e roda d'água" pintado por Anita Malfatti, na década de 1950)

Nenhum comentário:

Postar um comentário