sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A SOBRA DO MILAGRE


O evangelista João termina a narração do milagre da primeira multiplicação de pães observando que, depois de todos receberem o suficiente para comer e ficarem saciados, Jesus disse aos seus discípulos: "Ajuntem os pedaços que sobraram.  Que nada seja desperdiçado" (em Jo 6:12).
A experiência do milagre é sempre surpreendente: cinco pães de cevada e dois peixes pequenos alimentarem uma verdadeira multidão não se vê todo dia!  Tal fato por si só nos fala do poder e cuidado de Jesus.  Mas o núcleo miraculoso do episódio não deve impedir de prestar a atenção devida aos contornos da narração; eles estão no texto sagrado e com certeza também podem trazer lições importantes. 
Assim é que quero me deter um pouco no por que Jesus ter atenção em que seus discípulos recolhessem a sobra do milagre.  Nesta reflexão procurarei apontar pelo menos três razões pelas quais, depois de ter vivenciado o milagre, devo ainda me ocupar com o que restou daquilo que Deus faz por mim.
Até a sobra do milagre que acontece comigo é importante porque tudo o que me vem como resultado da ação direta de Deus em minha vida tem muito valor.  O Senhor é grandioso e majestoso, logo toda vez ao dele me toca – mesmo que seja apenas uma fagulha – é de valor inestimável.  Ou seja, mesmo parecendo apenas sobra ou resto de algo, mais ainda assim o seu valor intrínseco vale o cuidado.
Sobre isso é preciso lembrar que o próprio Cristo asseverou que se até pais humanos com inclinações más são capazes de dar boas dádivas aos seus filhos, quanto mais o Pai Celestial também não galardoa seus filhos com boas dádivas (leia em Mt 7:11).
Outra razão a se considerar a cerca do cuidado requerido pela sobra do milagre é por que tudo o que Deus me dá a mais – e ele sempre dá além do que pedimos ou pensamos (considere Ef 3:20) – não pode ser desperdiçado, pois ainda serve para abençoar outros.
Em relação a este ponto específico, deixe-me ir numa pequena digressão.  Em nenhum lugar o texto sagrado dá margem a que o cristão tenha uma vida de opulência, ostentação ou regalias.  Pelo contrário, a indicação é sempre ter como meta a vida simples, mesmo que diante da experiência de ter todas as necessidades supridas (como exemplo veja Mt 6:25-27).
Voltando à sobra do milagre e a importância de ajuntá-la.  A sobra da bênção e do milagre é importante porque ela sempre se configura em minha vida como uma oportunidade de serviço.  Em outras palavras: depois de saciado com aquilo que Deus me concedeu então devo trabalhar para que a abundância do favor divino não seja descartada, mas ainda possa continuar abençoando a outros.
É como se Jesus estivesse me dizendo que depois de ter me servido do milagre devo juntar o que sobrou, fazer alguma coisa.  O milagre só ele faz, mas os resultados, ou desdobramentos, deste tenho que cuidar conforme minha capacidade de administração (o sábio já falava sobre isso em Ec 9:10).
Ainda hoje Deus tem feito milagres em minha vida – isso é inconteste.  Ele tem derramado bênçãos sem conta, e como elas têm sobrado!  É por isso que a instrução do Mestre de dar a atenção devida às sobras do milagre é também ainda pertinente, para que nada se perca daquilo de valor que Deus tem me dado abundantemente.  Que eu continue trabalhando para encher cestos dos pedaços que sobram do milagre em minha vida.

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