sexta-feira, 9 de setembro de 2011

NÃO VOU FALAR SOBRE O ONZE DE SETEMBRO


Decidi que esta semana não vou falar sobre o onze de setembro.  Talvez esteja perdendo o momento histórico, ou me tornando irrelevante.  Mas não quero falar sobre isso.  Não quero falar sobre os que se foram, ou sobre os que se deixaram levar.  Também não quero abordar sobre a prepotência dos fracos e injustiçados, ou sobre a covardia dos poderosos.  Nem me interessa hoje discorrer sobre a curva da história, ou sobre a reconstrução dos povos.  Assim, estamos acertados: o tema será outro.
Como simples amante da Bíblia, quero lhe convidar a apenas abrir o texto sagrado no Sl 61 para refletir comigo um pouco.  Deixe um pouco de lado a história – eu sei que ela é importante e é nela que nossa fé acontece – mas eu insisto: há verdades mais sublimes que o tempo, e delas dependem toda a nossa existência, inclusive o calendário e a agenda.  Com estes olhos quero ler o texto com você.
O Sl 61 é um salmo davídico escrito para ser executado no culto sob a regência de um mestre musical com acompanhamento de instrumentos de cordas.  Com apenas uma marcação de pausa (em nossas versões modernas, no verso 4), o poema segue o estilo formal da poética hebraica com cada verso oferecendo uma correlação de ideias.
Mas espere aí!  Se for para fazer uma análise fria da estrutura linguística do salmo – também reconheço que tem sua importância – mas ainda insisto: se for só para isso, não justifica dar as costas ao onze de setembro.  Então vamos ao que interessa: vamos fazer nossa a canção bíblica.
Ouve o meu clamor, ó Deus.  Esta é a primeira expressão do salmo.  Seja qual for a circunstância que Davi estivesse passando, ele sabia que o único a quem sua prece deveria ser dirigida seria ao Deus que atenta para as orações dos seus servos.  Jesus também tinha a mesma certeza convicção e diante do túmulo de Lázaro ele afirmou tal crença (confira em Jo 11:42).  Somente quem tem a confiança de estar diante de um Deus que é ao mesmo tempo poderoso e atencioso com os seus é que podemos nos lançar à inaudita prática da oração.
Vamos dividir o segundo verso em duas partes.  Na primeira, o salmista reconheceu que seu clamor provinha de um coração abatido como um som sussurrado em uma terra longínqua.  Penso que foi um filete de prece assim que Paulo fez erguer aos céus quando obteve como resposta a certeza de que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza (constate em 2Co 12:8-9).  Certamente um coração ferido não pode ser impedimento para nossas preces.
Ainda no verso segundo, Davi começou a expor o conteúdo de seu clamor: põe-me a salvo.  Foi afirmação da confiança de que o Senhor o podia colocar numa rocha segura.  É a rocha mais alta que eu o motivo da minha confiança.  Na carta de Pedro esta rocha preciosa e segura é interpretada como o próprio Cristo (em 1Pe 2:4-8).  Não há lugar melhor para alicerçar minha confiança.
O verso três me fala em especial.  Tu és ... uma torre forte.  Em tempos de conflito, embate e desafio, o Senhor Deus é a torre e o abrigo forte e seguro onde eu posso encontrar segurança e conforto.  Sobre isso as palavras de Jesus são conclusivas quando afirma que ninguém pode arrebatar de suas mãos aqueles que ele guarda (leia em Jo 10:28).  Usando outra figura para expressar a mesma verdade: Cristo é o porto onde atracar a nau da minha vida.
E chegando ao verso quarto, Davi escancarou seu coração: anseio habitar na tua tenda, e mais: refugiar-me no abrigo das tuas asas.  Porque o rei-poeta abriu seu coração em clamor e confiou na rocha e na torre forte – e encontrou respostas – ele então almejou mais que qualquer coisa continuar desfrutando desta segurança.  Lembre-se que este tema é recorrente nos salmos (como por exemplo o Sl 23:6 e o Sl 122:1).
Aqui a composição do salmo indica uma pausa.  É como se dissesse: se você é capaz de fazer suas as palavras sagradas, então pode respirar fundo, encher os pulmões e descansar por que nada o poderá atingir ou implodir.  Confie e descanse.  E que assim me faça o Senhor.

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