Decidi que esta semana não vou
falar sobre o onze de setembro. Talvez
esteja perdendo o momento histórico, ou me tornando irrelevante. Mas não quero falar sobre isso. Não quero falar sobre os que se foram, ou
sobre os que se deixaram levar. Também
não quero abordar sobre a prepotência dos fracos e injustiçados, ou sobre a
covardia dos poderosos. Nem me interessa
hoje discorrer sobre a curva da história, ou sobre a reconstrução dos
povos. Assim, estamos acertados: o tema
será outro.
Como simples amante da Bíblia,
quero lhe convidar a apenas abrir o texto sagrado no Sl 61 para refletir comigo
um pouco. Deixe um pouco de lado a
história – eu sei que ela é importante e é nela que nossa fé acontece – mas eu
insisto: há verdades mais sublimes que o tempo, e delas dependem toda a nossa
existência, inclusive o calendário e a agenda.
Com estes olhos quero ler o texto com você.
O Sl 61 é um salmo davídico
escrito para ser executado no culto sob a regência de um mestre musical com acompanhamento
de instrumentos de cordas. Com apenas
uma marcação de pausa (em nossas versões modernas, no verso 4), o poema segue o
estilo formal da poética hebraica com cada verso oferecendo uma correlação de
ideias.
Mas espere aí! Se for para fazer uma análise fria da
estrutura linguística do salmo – também reconheço que tem sua importância – mas
ainda insisto: se for só para isso, não justifica dar as costas ao onze de
setembro. Então vamos ao que interessa: vamos
fazer nossa a canção bíblica.
Ouve o meu clamor, ó Deus. Esta é a primeira
expressão do salmo. Seja qual for a circunstância
que Davi estivesse passando, ele sabia que o único a quem sua prece deveria ser
dirigida seria ao Deus que atenta para as orações dos seus servos. Jesus também tinha a mesma certeza convicção
e diante do túmulo de Lázaro ele afirmou tal crença (confira em Jo 11:42). Somente quem tem a confiança de estar diante
de um Deus que é ao mesmo tempo poderoso e atencioso com os seus é que podemos
nos lançar à inaudita prática da oração.
Vamos dividir o segundo verso em
duas partes. Na primeira, o salmista
reconheceu que seu clamor provinha de um coração abatido como um som sussurrado
em uma terra longínqua. Penso que foi um
filete de prece assim que Paulo fez erguer aos céus quando obteve como resposta
a certeza de que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza (constate em
2Co 12:8-9). Certamente um coração
ferido não pode ser impedimento para nossas preces.
Ainda no verso segundo, Davi começou
a expor o conteúdo de seu clamor: põe-me
a salvo. Foi afirmação da confiança
de que o Senhor o podia colocar numa rocha segura. É a rocha
mais alta que eu o motivo da minha confiança. Na carta de Pedro esta rocha preciosa e
segura é interpretada como o próprio Cristo (em 1Pe 2:4-8). Não há lugar melhor para alicerçar minha
confiança.
O verso três me fala em
especial. Tu és ... uma torre forte. Em
tempos de conflito, embate e desafio, o Senhor Deus é a torre e o abrigo forte
e seguro onde eu posso encontrar segurança e conforto. Sobre isso as palavras de Jesus são
conclusivas quando afirma que ninguém pode arrebatar de suas mãos aqueles que
ele guarda (leia em Jo 10:28). Usando
outra figura para expressar a mesma verdade: Cristo é o porto onde atracar a
nau da minha vida.
E chegando ao verso quarto, Davi
escancarou seu coração: anseio habitar na
tua tenda, e mais: refugiar-me no
abrigo das tuas asas. Porque o
rei-poeta abriu seu coração em clamor e confiou na rocha e na torre forte – e
encontrou respostas – ele então almejou mais que qualquer coisa continuar
desfrutando desta segurança. Lembre-se
que este tema é recorrente nos salmos (como por exemplo o Sl 23:6 e o Sl
122:1).
Aqui a composição do salmo indica
uma pausa. É como se dissesse: se você é
capaz de fazer suas as palavras sagradas, então pode respirar fundo, encher os
pulmões e descansar por que nada o poderá atingir ou implodir. Confie e descanse. E que assim me faça o Senhor.
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