quarta-feira, 29 de outubro de 2025

SOBRE OS LAÇOS ENTRE JÔNATAS E DAVI

Eu dei uma busca aqui e não encontrei entre meus escritos nada que já tenha escrito de modo específico sobre a narrativa dos laços entre Jônatas e Davi.  Mas, atendendo seu questionamento, deixe-me olhar para o tema – principalmente sobre o texto – em buscas de respostas.

 

Antes, duas colocações:

→ Sobre relações afetivas – e homoafetivas – no mundo antigo, para se ter uma visão clara é preciso fazer um estudo apurado de como elas funcionavam então.  Sem dúvida, eram completamente diferentes das do mundo de hoje.  A sugestão é buscar pesquisas sérias na área de Sociologia histórica comparativa (aqui vou evitar essa abordagem, embora indique como necessária).

→ Hoje em dia, em tempos de polaridade de internet, a maioria do que se fala – e posta – sobre o tema tem pouca, ou quase nenhuma, base bíblica sólida, nem exegética, nem teológica.  E aqui incluo defensores e detratores. Na maioria das publicações que vejo e leio se usa as citações de maneira enviesada para justificar essa ou aquela postura já pré-definida.  Isso é, no mínimo, desleal ao texto sagrado (aqui também vou ignorar os likes dos homos e héteros web-debatedores).

 

Então vamos ler e tentar entender as palavras bíblicas, porque isso é o que realmente importa – mas se essa abordagem linguística lhe parecer cansativa, passe logo para o final onde eu apresento meu argumento:

 

& Na citação do 1Sm 18:1, a ARC traduz: “a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou”.  Quais sãos os termos no original?

+ Ligar – o termo em hebraico aqui é קשר (lê-se: qashar).  O sentido original é união proposital – que pode ser ilustrado em “respirar junto” ou “conspirar” (como em 1Sm 22:13).

+ Amar – no hebraico: אהב (lê-se: ‘ahab).  Essa palavra aprece mais de 200 vezes no AT e pode indicar um relacionamento profundo entre: a) Deus-homem (Dt 6:1 / Sl 87:2); b) Amigos (Pv 17:17); c) Pai/filho (Gn 25:8); e d) Homem-mulher (Jz 16:4).

 

& No capítulo 20 lemos no verso 16 a fala de Jônatas como “aliança” (traduzida assim tanto pela ARC como pela NVI).  O que diz o original?

+ Aliança – no original hebraico: כרת (lê-se: karath).  Quando Deus se compromete com Abrão (em Gn 15:18) a aliança é selada no sacrifício de um animal (cortado em partes – verso 10) indicando que cada parte se pactuava em dividir/partir algo seu pela manutenção da aliança.

 

& Em 2Sm 1:26, o canto fúnebre de Davi é traduzido pela ARC como: “Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres”.  Vamos destacar o original:

+ Ser maravilhoso – a expressão no original é פלא (lê-se: pala’).  Uma boa compreensão desse verbo pode indicar “ser distinto”, “ser exclusivo”, “ser surpreendente”.  No Sl 139:14 Davi usa esse mesmo termo para descrever o modo distinto, exclusivo e surpreendente como ele foi formado pelo Senhor.

+ Amor – aqui na variação da língua: אהבה (lê-se: ‘ahabah).  Pela sintaxe hebraica, deve funcionar como um adjetivo indicando uma qualidade ou especificidade.  A maneira como Deus é descrito em Dt 7:8 ajuda na compreensão: “por que Deus nos foi amável, ele guardou o juramento...”

 

Como o tema proposto tangencia sexo, penso que vai ajudar no entendimento citar algumas palavras que o hebraico bíblico usa para indicar relações sexuais e estão ausentes nas narrativas de Jônatas e Davi.

+ Conhecer – a palavra em hebraico é ידע (lê-se: yada’).  Esse é um eufemismo da língua hebraica para a própria relação sexual em si.  Foi com esse termo que o Gênesis descreveu a relação do primeiro casal e com isso geraram os seus filhos (em Gn 4:1).  Mateus, mesmo escrevendo em grego, usou o mesmo eufemismo (em Mt 1:25).

+ Deitar – em hebraico o termo é שכב (lê-se: shakab).  A ligação dessa palavra é quase direta entre a posição e a relação daí. As instruções de Levítico usam esse verbo para descrever as relações ilícitas (veja Lv 18:20).  Ainda é dito que Davi se deitou com Bete-Seba e gerou uma criança (em 2Sm 12:24).

+ Nudez – na expressão hebraicaערוה גלה  (lê-se: ’ervah galah) – descobrir a nudez.  Também no Levítico na relação de proibições (veja Lv 18:8).  E o profeta lamenta, referindo-se a queda de Jerusalém, pela vergonha da exposição de sua nudez – um estupro (em Lm 1:8).

Repito: nenhuma dessas expressões são sequer insinuadas nas ligações entre Jônatas e Davi.

 

Agora, as considerações sobre o tema.

 

Como apontei nas colocações iniciais, não vou tratar nem de Sociologia (embora importante!) nem postagens de redes sociais (essas duvidosas!). 

Apenas uma referência histórica.  Tanto Jônatas como Davi eram homens de seu tempo e precisam ser percebidos assim.  Eles viveram num mundo violento em que coragem, honradez e força eram atributos bastante valorizados.  E, por outro lado, relações afetivas e românticas, secundárias.

Olhando já para o texto, observamos que, numa visão geral sobre como a Bíblia trata seus heróis, não é padrão nas narrativas sagradas ter pudor em esconder qualquer deslize ou pecado dos seus heróis.  Ou seja, se tais homens tivessem cometido qualquer falha de caráter ou conduta, a narrativa não as teria escondido.

Posto isso, chegamos à narrativa e vislumbramos um cenário de instabilidade política-militar em Israel e dois homens em posições distintas – um era herdeiro do trono e outro um líder em ascensão.

Nesse contexto, uma possível oposição entre eles é diluída quando o texto apresenta que eles decidiram fazer uma aliança de contornos estratégicos para ambos.  Enquanto um faria as manobras políticas necessárias no palácio, o outro usaria do apoio popular e de táticas militares para se estabelecerem no poder.  E os dois se fortaleciam com essa aliança.

Também, não ocorre no episódio nenhuma indicação de haver qualquer intenção romântica ou sexual entre os postulantes ao poder (nem sequer induzida!), mas sim os laços entre aqueles homens apontam a busca de poder e com isso, juntos, derrubar o rei Saul e compartilhar a sucessão.

Sobre quem depois se assentaria no trono, a sequência de eventos evita ter que responder essa questão uma vez que Jônatas morre num conflito contra os filisteus (confira 1Sm 31:6) e assim libera o caminho para ascensão de Davi.

 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

PADRÃO BÍBLICO DE VALORES

 


Muito mais do que conhecer e apontar compreensões de ética e conduta de base teórica, social ou filosófica, o que importa é identificar o conjunto de valores e ética com base cristã.  A ética cristã deve ser nosso padrão.  E isso deve ser nos implicar em todos os aspectos de nossa vida pessoal e social.

Em um resumo inicial podemos definir a ética cristã com o conjunto de regras e valores baseados na moralidade bíblica e como ela nos apresenta o ser humano, as sociedades e seus diversos relacionamentos.  Bem como as regras e comportamentos e seus estabelecimentos de certo e errado, bom e mal.

Sendo dessa forma, ao estudar a ética cristã devemos reconhecer, sem nenhuma possibilidade de exceção, a Revelação Sagrada expressa no texto bíblico como a nossa única e irrefutável regra de ética e conduta.  E seus valores como sendo os ditamos a serem seguidos e obedecidos por qualquer cristão fiel e sincero.  Como bem frisou K. Barth: “A igreja não vive em arbítrio próprio, por mais bem-intencionado que seja, e sim ela vive em obediência”.

Assim, lendo as páginas de Bíblia, duas citações se destacam: o Decálogo no Antigo Testamento e o Sermão da Montanha no Novo Testamento.

No Antigo Testamento.  Enquanto estavam na travessia do deserto rumo a conquista da terra prometida, Deus entregou aos filhos de Israel um conjunto de leis e regramentos que estabeleceria os padrões de suas vidas, tanto no âmbito pessoal, como familiar, religioso, social e político.

O conjunto dessas regras colocadas pelo próprio Deus pode ser resumido no que ficou conhecido como os 10 Mandamentos.  As palavras da Lei se encontram nos textos de Êxodo 20 e Deuteronômio 5 e são reconhecidos como “estatutos e juízos” (Dt 5:1).  Neles, é a ação primeira de Deus em intervir na história do seu povo quem dá a base para as determinações que virão a seguir: “Eu sou o Senhor teu, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20:2).

O Deus que age e resgata seu povo é o Deus que estabelece normas de conduta e ética a serem obedecidas.

O Decálogo pode ser entendido com um conjunto de regras éticas e morais que implicam em três conjuntos de regras: (a) a importância de adorar e honrar a Deus, (b) o respeito absoluto ao valor da vida e da família, e (c) a necessidade de evitar comportamentos imorais.

No Novo Testamento.  O Evangelista Mateus apresenta um conjunto de normas e instruções dadas pelo próprio Cristo com autoridade (nos capítulos 5 a 7).

O Sermão da Montanha proferido pelo Mestre estabelece os valores e normas que devem reger os cidadãos do Reino que ele veio implantar.  Para isso ele (a) dar nova interpretação à Lei antiga, (b) apontar critérios de vida espiritual e religiosa, e (c) estabelecer prioridades a serem obedecidas.

(Da Revista DIDASKAIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

 

Para ler mais sobre o tema da ética e da conduta cristã, indico os seguintes textos:

A ética e a conduta link

Uma primazia cristã - Bonhoeffer e a Graça preciosalink

Ética e Estética na Teologia Bíblica do Antigo Testamentolink

Ética e aconselhamento pastorallink

De um modo dignolink

 

terça-feira, 14 de outubro de 2025

A ÉTICA E A CONDUTA

 


Segundo o Dicionário Aurélio, ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”.

Por essa compreensão, sabemos que a ética busca estabelecer critérios de conduta que sejam aceitáveis do ponto de vista da moral pessoal e social.  Ou seja, é o conjunto de atitudes que se apresentam como corretas nas relações humanas.

Nesse sentido, o estudo da ética procura oferecer respostas a questões como: o que é certo ou errado?  Bom ou mal? O que fazer em determinadas circunstâncias?  Como tomar decisões?  Qual a conduta adequada?

Assim, quando tratamos de conduta e comportamento ético, precisamos compreender que os padrões de atitudes podem ser distendidos em ética pessoal e ética social. 

Por ética pessoal entendemos o conjunto de condutas que implicam em ações no âmbito de casa pessoa.  As decisões que se originam no individuo, seus deveres pessoais e seus comportamentos morais.

Por ética social tratamos do conjunto de normas e princípios que regem a sociedade, a moralidade pública, os costumes e convenções que buscam o bem-estar social.

Em ambos os casos, a ética e conduta são sempre definidos pelo conjunto das sociedades e buscando estabelecer valores que possam ser compreendidos e compartilhados por todos os seus membros, e nunca pela vontade de um único sujeito.  Nas palavras de C.S. Lewis: “a coisa mais perigosa que podemos fazer é tomar um impulso de nossa natureza com o critério a ser seguido custe o que custar”.

(Da Revista DIDASKAIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

 

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

CULTO CRISTÃO - Aula 01



Nesta primeira aula sobre Culto Cristão, apresentamos uma abordagem informativa e fundamentada sobre o significado, os elementos essenciais e a importância do culto na vida da igreja e do cristão.

Esta aula busca esclarecer conceitos fundamentais, como adoração, liturgia e comunhão, oferecendo bases teológicas e práticas para uma participação consciente e edificante nos cultos cristãos.

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terça-feira, 30 de setembro de 2025

JESUS, A IGREJA E O PLURALISMO RELIGIOSO

 


É importante voltar nossa atenção aos princípios e exemplos que o Mestre Jesus nos deixou e como a primeira comunidade de cristãos se posicionou quanto ao tema do pluralismo religioso.

Jesus afirmou que estabeleceria sua igreja sobre o fundamento da crença de que ele é o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16:16-18).

Ainda respondendo aos líderes religiosos, Jesus reafirmou os dois princípios fundamentais do Reino que ele estava anunciando: o primeiro é amar a Deus e o segundo – semelhante a esse – amar o próximo (Mt 22:36-40); desses princípios haveria de derivar toda a interpretação da sua Palavra e firmar a base doutrinária da igreja.

Na vivência missionária do apóstolo Paulo, porém, observamos com maior clareza como os cristãos primitivos lidaram como pluralismo religioso de seu tempo.  E essa compreensão deve trazer lições para nossa vida hoje.

Em sua segunda viagem missionaria (At 16), Paulo e Silas chegaram à cidade de Filipos e ali encontrou uma jovem que era explorada pela religiosidade de homens que lucravam com as adivinhações dela.  A atitude deles foi libertar a jovem do espírito a afligia.  Eles sabiam que o Cristo que eles anunciavam não pode concordar com a exploração de qualquer forma ou ceder diante da degradação da vida humana.  Porque Jesus ama e morreu por cada ser humano a nossa pregação e diálogo religioso deve trazer vida e dignidade a todos.

Prosseguindo sua viagem, os missionários chegaram a Atenas – a grande e plural cidade grega (At 17).  Ali Paulo observou que o lugar estava cheio de ídolos.  Mas o apóstolo, mesmo indignado com a situação, usou o pluralismo religioso local para apresentar sua mensagem cristã: “Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio” (At 17:23).  Sem negociar seus valores e mensagem, Paulo buscou um diálogo produtivo com aquela manifestação religiosa e afim de que pudesse reafirmar e anunciar sua fé.

E do nosso tempo devemos ouvir as palavras do sul-africano Desmond Tutu “reconhecer que outros credos devem ser respeitados e que obviamente proclamam verdades religiosas profundas, entretanto, não equivale a dizer que todos os credos são iguais.  Está claro que não são iguais”.

(Da Revista DIDASKALIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

SEXTOU – prá casa!

 


Um Congresso Teológico me levou às Minas Gerais na semana passada.  Então chegou a sexta-feira e era momento de voltar para Aracaju – para casa.

 

Vamos à narrativa: sextou – prá casa!

 

Com o fim da programação na noite anterior, ficamos uns poucos para o último sono.  Boas conversas, bons momentos, restinho de fraternidade.

 

Amanheceu e, antes das seis, uma sinfonia canora me acordou (ah! não entendo de pássaros logo, não os identifiquei – sei que eram distintos!).

E não penso que o Criador os colocou ali somente por minha causa – não tenho essa pretensão.

Mas eles me despertaram e pude começar bem antes do burburinho.  É sempre salutar, antes das liturgias e das agendas, deixar a alma vibrar limpa na frequência do Eterno.

 

Descemos para um derradeiro café matinal mineiro: uma fruta, pão com ovo, um pedaço de bolo, biscoito e café quentinho feito na hora.   Simples, mas digno de um príncipe, pois foi feito na nossa intenção.  E vale mais que gastronomia gourmet.   

Deus abençoe as mãos que prepararam.

 

Pegamos a estrada em direção ao aeroporto.  O dia prometia!

 

Antes que esqueça: o Gerson foi comigo.  Além dos laços de sangue e de profissão, sempre enriquece tê-lo junto no caminho.

 

— Sim.  Em direção ao aeroporto.

 

Talvez até desse para antecipar o voo para fazer sem escalas.   Não deu.   Com as passagens marcadas, a previsão seria o dia todo aqui e ali até chegar em casa.   Assim fomos.

 

Sentamos juntos.  A conversa animada – nada de técnico ou específico: apenas fagulhas de lembranças comuns, observações pontuais dos transeuntes, uma ou outra citação e o mais...

Mas, aos poucos, as palavras vão se escasseando e os temas esparsos.  Então o silêncio chega.  Só que isso não é um problema.  Jamais.

 

Na verdade, não vou lhe definir do que se trata.

— Para certas coisas faltam palavras!

Certamente não seria obrigação, nem networking (assim em inglês fica mais ridículo ainda).

Era só a presença.  Era apenas saber que em qualquer aeroporto ou entroncamento da vida, não estávamos sós.  Estivemos ali.  Não eu e tu: nós.

E consegui me ver pensando que o Eterno se sentou na cadeira da frente, no saguão dos Confins, em silêncio, apenas como se quisesse dizer que ELE, mesmo sendo, gosta de estar.

 

Levantamos para comer, a conversa voltou a jorrar como uma fonte de renovo – ou filete da água.  Não havia secado.  Apenas guardada como tesouro que valia a pena usar no tempo certo para o próprio silêncio se revestir de preciosidade.

Nada de importante: a escolha do prato, uma ou outra citação, um diz aí...

Comemos juntos.

 

— Certas coisas têm preço.  Compartilhar uma fatia de pizza numa mesa de aeroporto tem vida e história.

 

Mais um trecho aéreo e já caia a noite quando, em Aracaju, meu filho nos apanhou na porta do aeroporto.

 

Assim: sextou – prá casa!

 

E agora o fim de semana promete.

 

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

TEMPERANDO A AÇÃO DIVINA

 


No livro TU ÉS DIGNO – uma leitura de Apocalipse – que escrevi e publiquei pela AD Santos Editora em 2021, no contexto do toque das sete trombetas do Apocalipse, eu procurei entender e tempero da ação divina na história.

Leia a citação:

 

Nesta perspectiva, permita-me olhar para o texto como quem olha para a feijoada sendo temperada na panela.  Entendo que um pouco de pimenta é indispensável, mas somente mãos hábeis sabem com maestria acertar-lhe o ponto.  De menos se dilui e se torna imperceptível.  De mais, intragável.  Assim a ira divina tempera a história no ponto certo.  Nem de menos para não ser tida como irrelevante.  Nem de mais que ofusque seu amor.  Assim, atada à justiça divina que permeia toda a história humana, deve sempre estar alinhavado o seu amor imensurável que não deseja que, afinal de contas, ninguém se perca (confirme esta verdade no Antigo Testamento em Ez 18:32 e no Novo em 2Pe 3:9).

Volto a Apocalipse com esta convicção lida nas páginas bíblicas citadas aí.  A cena vista com a sexta trombeta reflete exatamente a mesma verdade.  João sabe que o problema é que a humanidade atingida pelas pragas não se arrependeu das obras das suas mãos; e não pararam de adorar os demônios e os ídolos (...) também não se arrependeram dos seus assassinatos e das feitiçarias (Ap 9:20-21).  Entendo que aqui está a chave de compreensão de toda a desgraça liberada.  O objetivo de Deus é sempre claro, e Apocalipse é constante em reafirmar.  O destino de toda a criação é adorar única e exclusivamente ao Criador (anote Is 43:7).  E quando este rumo é perdido, Deus derrama sua ira santa na tentativa de trazer de volta homens e mulheres à posição para a qual foram criados: adoradores. 

Só relembrando: Apocalipse é um livro de adoração!

 

 


Leia todo o livro TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse.  Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada.

Disponível na Amazon.com

terça-feira, 2 de setembro de 2025

EPAFRAS E DIÓTREFES

 


Durante o período do Novo Testamento, muitos líderes se agregaram ao grupo primitivo.  Alguns foram bem referenciados, enquanto outros, mal são citados.

Por exemplo: o Livro de Atos dos Apóstolos nos informa que, em suas viagens missionárias, Paulo contou com a companhia de cristãos como Priscila e Áquila, Barnabé, Silas, Lucas, João Marcos e Timóteo entre outros.

Dentre esses personagens que pouco – ou quase nada – se sabe estão os dois que você citou.  Mas vamos recolher algumas informações que podemos catar nas páginas bíblicas.

 

EPAFRAS (em grego:  Ἐπαφρᾶς – alguns sugerem que seu nome signifique: “aquele que espuma”).  Pela tradição, diz-se que ele deve ter nascido em Colossos, na Anatólia central e foi alcançado para o Evangelho pelo trabalho do Apóstolo Paulo.  Nesse sentido, é bem provável que ele tenha sido um dos fundadores da comunidade cristã ali.

Ele é citado literalmente em três versos do NT:

& Em Cl 1:7 Paulo o cita como um “amado colaborador, servo fiel de Cristo” e também alguém que tinha ajudado o apóstolo em seu trabalho.  E no verso seguinte ele é dito como testemunha do amor que o Espirito tinha dado aos cristãos colossenses.

& Em Cl 4:12 o texto faz referencia a ele como “um de vocês” (o que pode indicar sua origem étnica).  Ele envia saudação à Igreja ali.  E Paulo completa: “Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus”.

& No encaminhamento do bilhete a Filemom, Paulo observa que Epafras era companheiro de prisão em Cristo Jesus (em Fm v. 23).

Essas indicações nos apontam para um líder da igreja, fiel, cooperante, evangelista.  Alguém que foi bastante valoroso para o progresso do Caminho em Colossos, Hierápolis e Laodiceia.  E Paulo o tinha em boa conta.

 

DIÓTREFES (em grego:  Διοτρέφης – seu nome, de origem grega, significa literalmente "nutrido por Zeus").  Um líder da igreja joanina em Éfeso.

& A única citação desse personagem se encontra na terceira carta de João onde é descrito como um líder da comunidade mas que “gosta muito de ser o mais importante” e que usa de sua posição para atrapalhar o contato do apóstolo com a igreja, além de que também “ele se recusa a receber os irmãos, impede os que desejam recebê-los e os expulsa da igreja” (vs. 9-10).

Diante disso, Joao se dispõe a, quando o encontrar, chamar a atenção dele para o que está fazendo com suas palavras maldosas contra os crentes.

 

 

Esses são dois exemplos de homens que se colocam à frente da igreja de Deus, mas que usam de suas prerrogativas de liderança para propósitos bem diferentes.

Epafras era um fiel colaborador do Evangelho, exemplo a ser seguido.  Diótrefes era ambicioso, orgulhoso, desrespeitoso da autoridade apostólica, rebelde e rude.

Enquanto um com certeza, foi canal de bênção para toda a igreja, o outro alguém que se servia da posição hierárquica para proveito próprio, sendo assim bastante prejudicial para o progresso do Evangelho e do Reino de Deus.

 

Oxalá o Senhor da igreja nos dê mais Epafras e menos Diótrefes em nossos ajuntamentos cristãos.

 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

QUANDO PASSAR A LUA NOVA – Amós e a Palavra Profética

 


Dizendo: quando passar a Lua Nova para vendermos o grão?
E o Sábado para abrirmos o celeiro de trigo?

(Am 8:5)

Como última das acusações proféticas, Amós denunciou a usura que estava escondida sob a observância das práticas cultuais.  A lua nova, bem como o sábado, interrompia as transações comerciais.  Os ricos comerciantes fraudulentos seguiam estritamente tais práticas, mas para o profeta isso não adiantava nada se ela – a guarda dos rituais – não fosse capaz de gerar um novo procedimento e uma nova atitude.

O povo tinha abandonado a essência da religião, estava zeloso para conservar a forma exterior: observava os descansos religiosos, mas os empregava para sonhar com mais lucros vis.  Viviam impacientes para começar o expediente de fraude com medidas falsas.  Nas palavras de J.A. Motyer, eles vendiam menos do que prometiam por um valor maior do que declaravam.  E nas transações menores, sempre ajustavam as balanças para seu próprio proveito.

Nesse caso, a falta de justiça no meio do povo sobrepujava o próprio culto.  É nesse sentido que palavra profética de condenação foi buscar na boca de Javé a referência à própria religião: chegaria o dia em que esse cultuantes sentiriam fome, não a fome de pão que eles faziam os pobres sentir, mas sim fome da Palavra de Deus (veja Am 8:11-12).  E o pior é que não encontrariam como se saciar, pois haveria de chegar fatalmente o fim dos dias de glória de Samaria e de opulência do culto narcótico.

 

Leia mais sobre Amós e a Palavra Profética

Assim fala o Eterno (Amós 1:3)link

Vacas de Basã (Amós 4:1)link

Odeiam na porta (Amós 5:10)link

Desprezo suas festas (Amós 5:21)link

 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

DESPREZO SUAS FESTAS – Amós e a Palavra Profética

 


Eu odeio e desprezo suas festas e não saboreio suas reuniões sagradas.”
(Am 5:21)

Chegou o momento em que Javé daria um “basta!” a tudo que estava ocorrendo em Israel.  O povo de Israel mantivera a forma de adoração prescrita na Lei, mas a despojara de seu valor espiritual.  O expurgo de Jeú obrigou a nação a abandonar o culto a Baal e se voltar exclusivamente a Javé, mas isso não foi suficiente para que o povo o fizesse de coração.

O profeta Amós tinha consciência que a desgraça iminente que sobreviria a Israel era consequência dos desvios na prática da justiça social do próprio povo.  Mas ele foi além na busca das reais causas de tanta desgraça em Israel: o culto a Javé havia se resumido a mero formalismo, o povo só lembrava a aliança em sua parte referente às bênçãos de Javé.  E o culto e a aliança já não traziam implicações para a vida diária de Samaria.

A religião perdera o seu valor de comunicação do ser humano com o seu Deus e a função de preservativo da sociedade, paralelamente à prática da opressão pelos ricos, ainda nas palavras de Bonora, eles viam no culto uma droga eficaz que acalmava suas consciências.  Com isso não tinham medo do julgamento divino pois este lhe seria favorável.  Eles criam que, em cumprindo os rituais, estariam longínquos os dias de ruina.  Mas, como denunciado pelo profeta, de fato se apressava o advento da violência devastadora do inimigo (veja Am 6:3).

A rejeição do culto formalístico que não estava mais em conformidade com a práxis social foi taxativa e o apelo foi claro e poético: “corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão como um ribeiro perene” (Am 5:24).

 

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Quando passar a Lua Nova (Amós 8:5)link

 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

ODEIAM NA PORTA – Amós e a Palavra Profética

 


Odeiam aqueles que os repreendem na porta e abominam aqueles que falam corretamente.”
(Am 5:10)

A entrada da cidade era o lugar onde se reuniam os anciãos para tratar de queixas, apelos, comércio, política e lei local.   Mas, por conta da decadência moral de Israel, esse dispositivo básico da justiça e do direito estava deturpado. 

A denúncia do profeta foi contundente, pois não encobriu a injustiça que negava direitos iguais a todos.  Se Israel via a justiça como o critério das relações, e isso como uma necessidade indispensável para a própria sobrevivência do povo, a desigualdade social trazia dentro de si o germe que iria minar e fazer sucumbir toda a sociedade. 

O profeta clamou contra aqueles que aborreciam o juízo nas portas das cidades pois via aí um pecado que traria como consequência a destruição de ricos e pobres e a decadência da nação.

Segundo Antonio Bonora, no tempo de Amós o estado impunha uma determinada quantia que devia ser paga, como taxa, pela aldeia.  Quando ocorria uma assembleia local, os cidadãos se reuniam e dividiam as contribuições com o que cada um deveria pagar.  Como os juízes haviam sido “comprados” pelos ricos comerciantes e latifundiários, essa quantia era dividida de modo desigual fazendo com que a cada dia o abismo crescesse entre ricos e pobres.

Então o castigo seria inevitável: Javé deveria passar e, por conta disso, em toda praça haveria pranto no mesmo lugar onde o juízo foi aborrecido.  Se um dos principais pecados de Israel era a opressão dos pobres, o castigo seria que estes que agora oprimem haveriam de chorar pela destruição de tudo o que construíram com o suor dos oprimidos.

 

Leia mais sobre Amós e a Palavra Profética

Assim fala o Eterno (Amós 1:3)link

Vacas de Basã (Amós 4:1)link

Desprezo suas festas (Amós 5:21)link

Quando passar a Lua Nova (Amós 8:5)link