Desde
muito cedo o texto do Antigo Testamento – AT tem sido usado pela Igreja Cristã
como material sagrado. A Igreja
Primitiva leu o texto do AT como sendo referência sagrada. Os Pais da Igreja deram a ele valor igual aos
escritos provenientes dos apóstolos. E o
Concílio de Trento promulgou solenemente que “... seguindo o exemplo dos padres
ortodoxos, este sínodo recebe e venera com o mesmo piedoso afeto todos os
livros tanto do Novo como do Antigo Testamento, visto que um só Deus é o seu
autor”.
Modernamente
o interesse pela leitura do AT tem sido retomado por biblicistas e cristãos em
geral que buscam no texto verdades reveladas que tanto desvendem algo mais do
que conhecemos acerca de Deus, como indicativos novos de ligação entre ambos os
Testamentos e entre eles e a nossa vida moderna. Contudo todos ainda continuam concordando que
esta tarefa nem é fácil e nem se pode dizer que está concluída. Certamente o AT ainda haverá de
descortinar-se para nós em verdades e belezas que até então permanecem a ser
descobertas.
Na
tentativa de compreender melhor o AT trabalhamos no intuito de conhecer-lhe o
que tem de realmente significativo e central no texto, e que por isto pode se
mostrar como o fio condutor de todo o cânon, que engloba e alinhava todo o
material dando-lhe um sentido unificador.
Assim pretendemos nos enveredar pelos caminhos de uma Teologia que seja
realmente bíblica e por isto fiel a todo o AT, bem como o coloque no seu
verdadeiro lugar dentro das referências sagradas da religião cristã.
R.E.
Clements no seu trabalho O Mundo do
Israel Antigo faz uma análise antropológica da relação entre santidade e
culto. A partir de trabalhos dos
clássicos teóricos da antropologia – como E. Durkheim – ele apresenta a tese de
que, mesmo em seus lugares distintos, no culto no AT todos têm padrões
socialmente aceitos para seguir e é exatamente isto que faz do culto o elemento
unificador do antigo Israel. Este
trabalho sugeriria então um suporte teórico para a observação do culto
vétero-testamentário como constituindo este elemento catalisador de toda a
Teologia Bíblica do AT.
Conclusão –
Percorrendo
as páginas do Antigo Testamento em busca do que ele realmente significaria para
nós cristãos hoje, em busca do seu centro unificador que aponta para dimensões
futuras na Revelação de Deus a nós; fomos levados a observar o culto em Israel
como sendo o elemento que traz para si toda a carga teológica do texto do AT. O culto como realizado e visto teologicamente
no AT expressa-se dialeticamente como manifestação da ética e da estética que
permeiam todo o AT e que reluzem a partir da vida do povo como sendo realmente
o centro de onde parte toda a sua existência.
É assim
que para nós, que continuamos a ler o AT como quem busca inspiração para a suas
vidas, as manifestações cúlticas desafiam-nos a uma relação de compromisso
ético e de fervor estético na nossa liturgia cristã, como expressão do
verdadeiro culto a este Deus que, tendo “antigamente,
por meio dos profetas, falado muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos
antepassados, mas nestes últimos tempos ele nos falou por meio do seu Filho”
(Hb 1:1-2).
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