Semanas atrás, sentado numa cadeira de acompanhante de paciente, noite adentro numa sala de acolhimento hospitalar, enquanto observava meu pai sendo cuidado por profissionais e o sono parecia algo fora de cogitação, comecei a fazer um rápido inventário de ideias e observações.
Mas não fui adiante a ponto de construir um texto. Cheguei a colocar algumas frases no tablet, que ficaram apenas num alinhavo (até porque os cuidados requeriam minha atenção). Então resolvi fechar a tela.
Como disse, isso foi semanas atrás. Depois, alternei entre intenções de concluir a tarefa e incertezas quanto ao conteúdo (esse tempo é assim!).
— É verdade! Tem texto que é desse jeito. Difícil de fluir!
Agora decidi retomar aquelas linhas para compartilhar finalmente algo que está lá no inventário de ideias e observações.
Assim, aceite meu convite para caminhar um pouco comigo nesse meu edifício mental e visitar alguns diferentes cômodos.
Logo de entrada percebo que ansiedade e aperreio são bem marcas que caracterizam esse tempo e momento.
Antes. Estou lembrando de já ter postado aqui no Escrevinhando vários textos que contornam esse tema. Depois vou procurar fazer uma relação do que já escrevi. Por hora, vamos continuar observando.
A modernidade, com suas teorias, ciências e engenhocas tinha prometido estabilidade, segurança, controle e um progresso de tranquilidade e prosperidade. Tudo falácia!
E esse tempo de pandemia só escancarou o problema.
No mundo moderno, não restaram nem estabilidade, nem segurança e muito menos controle da vida e da existência. Logo não há nem progresso, nem tranquilidade e nem prosperidade.
— E se tudo der errado?
Então para os consultórios de psique não faltam pacientes. Nos hospitais, a angústia da incerteza é somatizada. E acrescente-se os leitos cheios com doentes de síndromes respiratórias.
Já perdi as contas de quantos eu conheço que, de alguma maneira, estão carecendo de apoio e cuidados por sofrerem com a mente e alma quebrados. Além dos que realmente se viram contagiados por um vírus pandêmico.
E o pior são aqueles que sofrem com os dois: o pulmão infectado e a alma abafada. Falta ar e falta anima.
Caminhemos mais.
As crises se sucedem e, às vezes, se atropelam. As famílias se esfarelam. O emprego e a economia não dão sinais de melhora. A saúde está sucumbindo diante da morte. A violência e seus defensores se sobressaem. A injustiça e insanidade parecem triunfar. O desgoverno assumiu o caos.
— Como manter a esperança e continuar?
— E se tudo der errado?
Também há as querelas e queixumes de comunidades de fé. Mas como sei que não tenho nem o direito nem o cabedal para julgar ninguém, então não vou abrir essa porta do meu edifício mental.
Decididamente vou passar adiante.
Corredor adiante, quero ir direto para o cômodo onde sei que posso encontrar resposta para a questão inicial (até porque já estou achando pesada demais essa caminhada).
Venha comigo abrir a porta certa. A porta que me abre à palavra do Altíssimo.
No meu edifício mental há um canto especial onde os textos sagrados são referência e fornecem a necessária estabilidade a toda a minha construção existencial.
É aqui o tear onde as linhas se fazem tecidos, onde a carência encontra aconchego, a incerteza conhece a garantia, a ansiedade se desfaz e a vida aporta como um barco num seguro cais.
— Não se turbe o vosso coração (gosto do palavreado mais tradicional dessa citação de Jo 14:1 – traz uma certa familiaridade ao texto sem perder significado).
— Mas, e se tudo der errado?
Diante da ansiedade e aperreio, da incerteza, do desgoverno e do caos, da falta ar e de ânimo; se a perspectiva é tudo dar errado, tudo muda quando eu revejo a carta aos exilados:
Porque eu sei o que estou arquitetando para você – é o que diz o Eterno.
Planejo paz e não calamidade – para lhe dar futuro e esperança.
(a carta está transcrita em Jr 29).
E como citei lá em cima, aí vai a relação de alguns links que tangenciaram esse tema aqui no Escrevinhando:
O Reino - ansiedade, divisão e soma - link
Até quando? - uma leitura do Salmo 74 - link