Estava
revendo aqui alguns escritos e me deparei com uma citação de Thomas Helwys (1550-1616),
um advogado inglês que consideramos como um dos fundadores do que hoje chamamos
de Igreja Batista.
... men’s religion to God is between God and themselves. The king shall
not answer for it. Neither may the king be judge between God and man. Let them
be heretics, Turks [that is, Muslims], Jews, or whatsoever, it appertains not
to the earthly power to punish them in the least measure.
... a religião do
homem está entre Deus e ele. O rei não
tem que responder por ela e nem pode o rei ser juiz entre Deus e o homem. Que
haja, pois, heréticos, turcos ou judeus, ou outros mais, não cabe ao poder
terreno puni-los de maneira nenhuma.
Essas palavras escritas no livro "A
short Declaration of the mystery of iniquity" (publicado em
1612) expressam o posicionamento de Helwys contra a Igreja estatal na Inglaterra
e o consequente poder do rei sobre a fé de seus súditos.
Na época esse era um problema sério a ser
enfrentado e o texto sobre o Mistério da Iniquidade foi um dos primeiros
a advogar: (1) liberdade religiosa; (2) liberdade de consciência e (3)
separação Igreja/Estado – princípios que depois seriam adotados como
fundamentais pelos batistas mundo afora.
Realmente minha pesquisa inicial – a que me levou
a citação de Helwys – tinha como mote a relação atual da Igreja na Inglaterra
com a mudança na coroa britânica depois de sete décadas. Ora, o mundo agora é outro, as mentalidades e
demandas são diferentes, mas tradição inglesa ...
E uma coisa leva a outra.
Então comecei a tentar dialogar com Helwys,
trazendo-o do seu século XVII inglês para nosso Brasil do século XXI.
Citei inicialmente a ele que, sob sua inspiração
inicial, nós batistas “compramos essa briga” e conseguimos incutir o conceito
que hoje pertence ao mundo civilizado.
Eu me vi expondo a ele que depois de tanto tempo e
tanta luta para fincar a bandeira da separação Igreja/Estado como causa pétrea
das democracias modernas (inclusive o Brasil) ainda há tanta escaramuça.
Acho que ele ficou abismado quando lhe falei a que
ponto chegamos!
Mas ele, como advogado, me trouxe a argumentação a
partir de sua convicção.
A fé de um homem é questão exclusiva dele e
ninguem, nem o Estado, nem o Congresso, nem o presidente, nem fundamentalismo de
direita ou esquerda cristã, nem patrulha ideológica podem determinar o que eu
devo crer ou confessar.
Que haja heréticos, blasfemos, apóstatas entre os
cidadãos. Mas que ninguem seja julgado
pela fé – nem pela minha fé. Pois
a nenhum poder dessa terra foi dado o direito de julgar a doutrina e o culto alheio.
Foi assim que Helwys observou que ele encaminhou
uma cópia de sua obra sobre o Mistério da Iniquidade ao Rei James I – com
dedicatória e tudo – mas, mesmo assim, acabou preso por suas convicções.
É sempre assim: “o profeta nunca ceia na mesa
do rei!”
Para então finalmente trazer a memória o que pode
dar esperança. E nas palavras do Mestre
Jesus:
Se o Filho libertar
vocês, só assim vocês vão experimentar liberdade verdadeira.
(Jo
8:36)
Na imagem lá em
cima,
o frontispício da obra
A
short Declaration of the mystery of iniquity de 1612.
Fonte: wikipedia.org
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