As tradições referentes aos livros considerados sagrados e que constam nas relações canônicas judaicas e cristãs são variadas e diversas. O que, algumas vezes, causa disputas e querelas.
Deixe-me expor rapidamente a situação.
Com a destruição do Templo em Jerusalém no ano 70 pelo comandante romano Tito e o avanço da "Seita do Nazareno", o judaísmo tradicional sentiu a necessidade de estabelecer um marco (cânon) dos seus textos sagrados.
Assim, no final do primeiro século cristão (chamado EC – Era comum), um concílio rabínico-judeu se reuniu na cidade de Jâmnia (sudoeste da Palestina – atualmente Yavne – יבנה – na planta lá em cima a localização no Google Maps) e separou as tradições.
Os rabinos reunidos em Jâmnia decidiram que somente seriam considerados sagrados os textos escritos em língua hebraica e em Israel até o período de Esdras (obs. a crítica bíblica moderna questiona esses critérios, mas na época eles não tinham elementos para uma avaliação mais acurada!).
Por esses critérios ficaram de fora vários outros textos já bastante conhecidos por terem sido escritos em grego ou por serem mais recentes.
Dessa distinção surgiram os livros que ficaram conhecidos como Deuterocanônicos. Esse termo foi cunhado em 1566 por Sixtus Senensis – um judeu convertido ao catolicismo – e vem do grego, significando literalmente: Δευτεροκανονικά = δευτερός + κανών = segunda + regra. Ele se referiu a tais livros como tendo chegado ao cânon apenas num segundo momento.
As primeiras gerações de cristãos seguiram a linha dos rabinos de Jâmnia e desconsideraram os escritos gregos (LXX), porém, gradativamente estes textos foram se incorporando às tradições cristãs do ocidente, sendo finalmente aceitos como oficiais no Concílio de Trento em 1545.
As tradições protestantes – partindo de Lutero – tendem a rejeitar tais livros como sagrados ou inspirados, embora não desconsiderem seu valor histórico. O argumento principal para sua rejeição está no fato de estes textos terem surgido no período interbíblico, quando a profecia e a voz de Deus haviam cessado em Israel, sendo retomadas apenas com João, o Batista.
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