Em silêncio toda a carne,
com temor e devoção
abandone, reverente,
todo o pensamento vão.
Nosso Deus à terra desce:
tributai-lhe adoração!
Cantei pela primeira vez a canção "Em silêncio toda carne" em 1986. Tinha acabado de me incorporar ao grupo do Coral Sinfônico do Seminário do Norte em Recife e conheci o arranjo do Prof. Ralf Manuel ainda em manuscrito. Se há experiências que ficam impregnadas na alma, essa canção me foi uma delas.
(A versão que foi para o HCC nº 89 talvez seja menos trabalhada e menos coral que a do Prof. Ralf, mas conserva ainda a linha sublime da música.)
A sua melodia original é francesa do século XVII e consegue me transmitir a sensação de contemplação e transcendência das antigas catedrais cristãs.
A sequência em tom menor inicia suavemente - em linguagem musical: piano - como se nos convidasse a humildemente entrar na presença do sagrado, e em silêncio reverente tributar a ele a adoração exclusiva.
Deus está ali. E eu me devoto reverente a ele.
Rei dos reis, da virgem Filho,
entre nós ele habitou.
Deus, em corpo e sangue humano,
Deus, Senhor que se humilhou
os seus filhos alimenta.
Ele disse: “O Pão Eu sou.”
A segunda estrofe começa com um mezzo forte e vai crescendo como quem já se ambientou na presença do sagrado e agora vai adiante com ousadia buscando o clímax.
Em geral essa música está relacionada aos cantos natalinos (a versão de 1986 fez parte da Coleção Natalina do Coral Sinfônico e no HCC ela está incluída entre este tema).
A sua letra, porém, remete à Liturgia Grega de São Tiago no século V e conheceu sua primeira versão em português na década de 1960 através do trabalho do Pr. João Wilson Faustini.
Mas ela vai além das celebrações do nascimento de Jesus. É a afirmação básica de nossa fé que declara e reconhece um Deus que, em sua realeza, humilhou-se para se tornar corpo e sangue humano e assim se oferecer como o Pão Vivo que alimenta seus filhos.
Vigilantes anjos voam
ao redor do Criador
e, cobrindo as suas faces,
cantam o eternal louvor:
“Aleluia, aleluia!
Ao supremo Deus, Senhor!”
Estamos agora já cantando em uma dinâmica forte. Mas a música ainda tem o que nos dizer. Ou melhor, ainda há profissão de fé e reconhecimento dos atributos divinos a serem cantados. Diante dele fomos trazidos nessa catedral espiritual e o hino nos conduziu no canto àquele que é digno de receber todo o eternal louvor.
E o crescendo nos leva ao fortíssimo. Aqui nossa canção se soma ao coro dos anjos.
Assim, começamos silenciosa e reverentemente entrando na presença do Augusto Sagrado e por fim, com nossa alma saciada, irrompemos em adoração:
"Aleluia, aleluia! Ao supremo Deus, Senhor!"
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