quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

EM SILÊNCIO

 
 


Em silêncio toda a carne,
com temor e devoção
abandone, reverente,
todo o pensamento vão.
Nosso Deus à terra desce:
tributai-lhe adoração!

 

Cantei pela primeira vez a canção "Em silêncio toda carne" em 1986.  Tinha acabado de me incorporar ao grupo do Coral Sinfônico do Seminário do Norte em Recife e conheci o arranjo do Prof. Ralf Manuel ainda em manuscrito.  Se há experiências que ficam impregnadas na alma, essa canção me foi uma delas.

(A versão que foi para o HCC nº 89 talvez seja menos trabalhada e menos coral que a do Prof. Ralf, mas conserva ainda a linha sublime da música.)

A sua melodia original é francesa do século XVII e consegue me transmitir a sensação de contemplação e transcendência das antigas catedrais cristãs.

A sequência em tom menor inicia suavemente - em linguagem musical: piano - como se nos convidasse a humildemente entrar na presença do sagrado, e em silêncio reverente tributar a ele a adoração exclusiva.

Deus está ali.  E eu me devoto reverente a ele.

 

Rei dos reis, da virgem Filho,
entre nós ele habitou.
Deus, em corpo e sangue humano,
Deus, Senhor que se humilhou
os seus filhos alimenta.
Ele disse: “O Pão Eu sou.”

 

A segunda estrofe começa com um mezzo forte e vai crescendo como quem já se ambientou na presença do sagrado e agora vai adiante com ousadia buscando o clímax.

Em geral essa música está relacionada aos cantos natalinos (a versão de 1986 fez parte da Coleção Natalina do Coral Sinfônico e no HCC ela está incluída entre este tema).

A sua letra, porém, remete à Liturgia Grega de São Tiago no século V e conheceu sua primeira versão em português na década de 1960 através do trabalho do Pr. João Wilson Faustini.

Mas ela vai além das celebrações do nascimento de Jesus.  É a afirmação básica de nossa fé que declara e reconhece um Deus que, em sua realeza, humilhou-se para se tornar corpo e sangue humano e assim se oferecer como o Pão Vivo que alimenta seus filhos.

 

Vigilantes anjos voam
ao redor do Criador
e, cobrindo as suas faces,
cantam o eternal louvor:
“Aleluia, aleluia!
Ao supremo Deus, Senhor!”

 

Estamos agora já cantando em uma dinâmica forte.  Mas a música ainda tem o que nos dizer.  Ou melhor, ainda há profissão de fé e reconhecimento dos atributos divinos a serem cantados.  Diante dele fomos trazidos nessa catedral espiritual e o hino nos conduziu no canto àquele que é digno de receber todo o eternal louvor.

E o crescendo nos leva ao fortíssimo.  Aqui nossa canção se soma ao coro dos anjos.

Assim, começamos silenciosa e reverentemente entrando na presença do Augusto Sagrado e por fim, com nossa alma saciada, irrompemos em adoração:

"Aleluia, aleluia! Ao supremo Deus, Senhor!"

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário