Nos meados do século IX a.C. Jeú, chefe do exército de Israel, tomou o trono de Samaria e numa ação sangrenta exterminou com a casa de Omri e extirpou o culto a Baal. Javé ficou, pelo menos oficialmente, o Deus de Israel. E mesmo Jeú estabelecendo uma dinastia secular, a quebra dos acordos com seus vizinhos e a falta de lideranças nacionais fez com que seu reinado não fosse tão próspero.
Chegando ao século VIII a.C. aconteceu uma reviravolta no quadro internacional o qual foi bem aproveitado pelos regentes de Samaria e de Jerusalém. O ressurgimento de Israel começou com Joás, neto de Jeú, que começou a reconquista das cidades perdidas. Contudo, só veio a conhecer seu esplendor com Jeroboão II (em Israel) e Azarias (em Judá). Nesse período a extensão somada dos dois reinos parece ter atingido os limites da época de Salomão, de modo que houve uma prosperidade desconhecida desde a dinastia davídico-salomônica. Foi esse luxo e esplendor da elite de Israel que Amós conheceu.
Esse quadro brilhante, porém, precisa ser confrontado com a decadência social, moral e religiosa. Havia flagrantes injustiças e um grande contraste entre extremos de riqueza e de pobreza. A ganância dos ricos – que recorriam a práticas ilícitas – e a falta de juízes justos pioravam a situação. A antiga aliança tribal baseada na solidariedade e no pacto com Javé estava gradativamente sendo esquecida, inclusive pela absorção de canaanitas e a introdução das práticas comerciais com eles. Nesse tempo, a religião passou a acompanhar a desintegração social, entrando consequentemente em decadência. O culto a Baal voltou a se infiltrar, e os profetas – profissionais – mantinham-se calados.
Foi nesse ponto da história que nasceu o profetismo clássico em Israel com o conhecemos hoje. E nasce com Amós. Fortemente influenciado pelo passado, os profetas passaram a renunciar suas credenciais profissionais para poderem denunciar os erros de Israel e pregarem o monoteísmo ético, anunciarem a sentença de Javé. Mas também apontarem esperanças futuras em novas dimensões.
Com Amós começou uma nova fase no profetismo em Israel – o chamado profetismo clássico – mas essa nova fase não foi marcada por uma ruptura com as tradições proféticas de Israel, mas por uma releitura e reaplicação dessas tradições. Assim, o que liga Amós a Moisés, Samuel e Elias que o antecederam e a Isaías, Jeremias e Ezequiel que o sucederam foi a relação pessoal deles com Javé, o Deus de Israel, e o apego às tradições da nação.
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