Considerando os versos de Gn 1:27 e 2:7 onde
o texto sagrado narra a criação do ser humano, quero destacar três expressões
que se encontram aqui, para no fim comentar.
Antes, veja como a NVI traduz para o português
esses versos:
Então disse Deus: "Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar,
sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os
pequenos animais que se movem rente ao chão".
Então o Senhor Deus formou o homem do pó da
terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser
vivente.
1. Pó da
terra (hebraico - האדמה עפר) - uma boa opção de tradução seria poeira do chão. Pv 8:26 cita o pó como obra da criação de
Deus com o qual formou o mundo e Ec 12:7 lembra que nosso destino físico é
voltar ao pó de onde viemos.
2. Fôlego
da vida (hebraico - חיים נשמת) - ou respiração
e sopro de vida. O Sl 150:6 instrui a todo ser que tem vida /
fôlego / respira louve ao Senhor. Interessante
também observar que na narração do dilúvio, em Gn 7:22, o texto usa essa
palavra para se referir a todo ser vivo que pereceu nas águas.
3. Alma
vivente (hebraico - חיה לנפש - aqui acrescido de preposição) - a opção
da NVI é boa: ser vivente. Essa mesma palavra pode ser lida no verso 19
adiante quando Deus atribui ao homem (אדם) a função de dar nomes
a todos os seres vivos (חיה נפש). Também no relato do dilúvio
em Gn 9:10-16 o texto narra que Deus fez uma aliança com todos os seres vivos
(mesma expressão hebraica).
Permita-me então comentar. É claro que é possível se aprofundar na
análise desses termos, mas nessa leitura inicial já dá para perceber que as três
expressões são usadas na Bíblia hebraica indistintamente para os seres humanos
e para o animais brutos. Ou seja: pó, fôlego
e alma pertencem tanto a uns como aos
outros.
Um parêntese. Só mais uma palavra para ir
além no estudo. O termo hebraico רוח (que traduzimos como Espírito - no grego πνεῦμα) aparece aqui
nos capítulos 1 e 2 apenas citado no verso 1:2 como o Espírito de Deus. Fechando o parêntese.
Então quero destacar duas verdades bíblicas
que posso extrair aqui. Primeiro que
claramente no ato da criação em nada somos diferentes dos brutos pois com eles
compartilhamos os mesmos elementos. Mas
aqui começamos a perceber um embrião da doutrina da graça que será tão
importante para nós cristãos: não há nada no ser humano que mereça termos em nós
impresso a imagem de Deus, mas ele, por sua livre e bondosa graça decidiu nos
fazer assim.
E isso nos leva a segunda verdade. Se somos a imagem refletida de Deus e a verdade
bíblica é que Deus é uno, então nós também devemos ser assim, indivisíveis. Só somos imagem quando somos pó, fôlego
e alma - e um nunca existe sem o
outro.
Quando fomos criados, fomos feitos pó, fôlego
e alma. Quando pecamos, decaímos no pó, fôlego
e alma. Quando somos restaurados em Cristo, somos
refeitos pó, fôlego e alma.
É por isso que nossa confissão de fé insiste:
creio na ressurreição do corpo.
Nesse ponto, já que citei a imagem de Deus,
é bom lembrar a declaração de fé em Dt 6:4 - אחד יהוה אלהינו יהוה.
Por refletirmos a imagem de um Deus único, não deve haver particionamento
em nosso ser.
Que eu possa louvá-lo também por inteiro.
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