terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Os Grandes Princípios Batistas – A AUTONOMIA DA IGREJA LOCAL

Este é outro princípio batista inegociável.  E é onde devo contextualizar um pouco mais porque temos problemas sérios nesta área.  Entendo que vivemos um tempo bem diferente do vivido há 20 anos.  As estruturas denominacionais passam por um processo de desgaste junto às igrejas.  Sua imagem está afetada.  Isto é conseqüência até mesmo de um dado cultural, a pós-modernidade, momento social em que vivemos e em que as estruturas são questionadas e deixadas de lado, e o individualismo é cada vez mais acentuado.  Para piorar, em algumas de nossas instituições denominacionais houve má gerência, e isto atingiu as demais.  Em outras, houve açodamento de pessoas que confundiram as coisas e conseguiram, com suas atitudes, criar uma postura refratária por parte das igrejas.  Zelosas pelo seu trabalho, algumas pessoas começaram a pressionar as igrejas e a reclamar das não colaboradoras, muitas vezes insinuando não serem batistas ou serem desengajadas da doutrina batista por não contribuírem financeiramente para a instituição.  Em outras vezes, a luta por poder, nos bastidores, em nada difere da luta que se vê no mundo.  Esta confusão, para mim, se deu porque se ignorou o fato de que a estrutura é serva das igrejas e existe em função delas e não o oposto.  Nem mesmo chamo nossas instituições de denominação porque denominação, no meu entendimento, são as igrejas e as doutrinas que elas sustentam.  Chamo de estrutura e as vejo como para-eclesiásticas, ou seja, elas existem para caminharem ao lado das igrejas.  Por isso, entendo que as estruturas precisam rever seus métodos e seu discurso.  Não devem cobrar das igrejas, mas mostrar sua competência, sua administração com lisura, e como estão levando a obra das igrejas à frente.  Parece-me surrealista que alguns vejam as igrejas como adversárias da denominação.  Elas são a denominação!
As igrejas têm diminuído sua colaboração para a estrutura, tanto em finanças como em envolvimento.  Por isso, vez por outra se lêem artigos em que alguém reclama da autonomia da igreja local e critica as que não estão cerrando fileiras com a estrutura.  Seria bom fazer com que as igrejas todas assumissem o programa da estrutura e bem como os ônus decorrentes da funcionalização do programa.
A autonomia leva à pulverização, mas a centralização leva à uniformidade nos erros.  Cito um trecho de um batista insuspeito, José dos Reis Pereira.  Poucos batistas foram tão engajados na obra como ele.  Certa vez, em uma carta, ele me disse que estava com 24 atribuições denominacionais.  Reis Pereira foi uma vela que se gastou dos dois lados.  Eis o texto: “Os Batistas Gerais decaíram à proporção em que uma forte tendência centralizadora triunfava entre eles.  Vitoriosa essa tendência a autonomia das igrejas locais foi sacrificada.  E é um outro princípio batista, esse da autonomia da igreja local” (Breve História dos Batistas, p.  81).  Centralizar o poder e fortalecer o centro não melhorará a situação.  Reis diz que a história já provou isso.  Deve-se fortalecer e melhorar a base, que são as igrejas.  Se estas forem fortes e sadias, a denominação será forte e sadia.
Não se pode negar a autonomia da igreja local, até mesmo porque o Novo Testamento só mostra uma instituição, que é ela, e desconhece as que criamos.  O que criamos não é antibíblico, mas é abíblico.  Não é errado, mas existe para funcionalizar e vitalizar a igreja local.  O que devemos fazer é mostrar que as igrejas do Novo Testamento viviam em cooperação, que se ajudavam, como Paulo mostra em suas cartas.  Autonomia e cooperação não são antônimos.  As igrejas se engajavam em projetos comuns, mas tudo partia delas.  Até mesmo o envio de missionários.  Os missionários eram enviados pelas igrejas e eram missionários das igrejas e nunca enviados por uma instituição.  Sei que os tempos são outros, as circunstâncias culturais são outras, mas me parece que muitas vezes olhamos pelo lado errado do binóculo.  A pedra de toque do processo batista é a igreja local.  Somos congregacionais desde nossa origem: o governo pertence à congregação local e ela não está sujeita a nenhuma outra instância.  E cooperação, sim.  Mas sacrifício ou abandono da autonomia da igreja local, nunca!
Esta doutrina nos permite declarar que a maior e mais rica igreja batista vale tanto quanto a menor e mais pobre.  E o que se faz em nome dos batistas precisa do aval moral das igrejas para ter credibilidade entre elas.  Não se trata apenas de autonomia da igreja local, mas de sua soberania.  As estruturas precisam se compatibilizar com as igrejas.  Até mesmo por um fator muito simples: precisam delas para sobreviver.

Extraído de uma palestra preparada pelo Pr.  Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013) para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.

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