Este é
outro princípio batista inegociável. E é
onde devo contextualizar um pouco mais porque temos problemas sérios nesta área. Entendo que vivemos um tempo bem diferente do
vivido há 20 anos. As estruturas
denominacionais passam por um processo de desgaste junto às igrejas. Sua imagem está afetada. Isto é conseqüência até mesmo de um dado
cultural, a pós-modernidade, momento social em que vivemos e em que as
estruturas são questionadas e deixadas de lado, e o individualismo é cada vez
mais acentuado. Para piorar, em algumas
de nossas instituições denominacionais houve má gerência, e isto atingiu as
demais. Em outras, houve açodamento de
pessoas que confundiram as coisas e conseguiram, com suas atitudes, criar uma
postura refratária por parte das igrejas.
Zelosas pelo seu trabalho, algumas pessoas começaram a pressionar as
igrejas e a reclamar das não colaboradoras, muitas vezes insinuando não serem
batistas ou serem desengajadas da doutrina batista por não contribuírem
financeiramente para a instituição. Em
outras vezes, a luta por poder, nos bastidores, em nada difere da luta que se
vê no mundo. Esta confusão, para mim, se
deu porque se ignorou o fato de que a estrutura é serva das igrejas e existe em
função delas e não o oposto. Nem mesmo
chamo nossas instituições de denominação porque denominação, no meu
entendimento, são as igrejas e as doutrinas que elas sustentam. Chamo de estrutura e as vejo como para-eclesiásticas,
ou seja, elas existem para caminharem ao lado das igrejas. Por isso, entendo que as estruturas precisam
rever seus métodos e seu discurso. Não
devem cobrar das igrejas, mas mostrar sua competência, sua administração com
lisura, e como estão levando a obra das igrejas à frente. Parece-me surrealista que alguns vejam as
igrejas como adversárias da denominação.
Elas são a denominação!
As
igrejas têm diminuído sua colaboração para a estrutura, tanto em finanças como
em envolvimento. Por isso, vez por outra
se lêem artigos em que alguém reclama da autonomia da igreja local e critica as
que não estão cerrando fileiras com a estrutura. Seria bom fazer com que as igrejas todas
assumissem o programa da estrutura e bem como os ônus decorrentes da
funcionalização do programa.
A
autonomia leva à pulverização, mas a centralização leva à uniformidade nos
erros. Cito um trecho de um batista
insuspeito, José dos Reis Pereira. Poucos
batistas foram tão engajados na obra como ele.
Certa vez, em uma carta, ele me disse que estava com 24 atribuições
denominacionais. Reis Pereira foi uma
vela que se gastou dos dois lados. Eis o
texto: “Os Batistas Gerais decaíram à proporção em que uma forte tendência
centralizadora triunfava entre eles. Vitoriosa
essa tendência a autonomia das igrejas locais foi sacrificada. E é um outro princípio batista, esse da
autonomia da igreja local” (Breve História dos Batistas, p. 81).
Centralizar o poder e fortalecer o centro não melhorará a situação. Reis diz que a história já provou isso. Deve-se fortalecer e melhorar a base, que são
as igrejas. Se estas forem fortes e
sadias, a denominação será forte e sadia.
Não se
pode negar a autonomia da igreja local, até mesmo porque o Novo Testamento só
mostra uma instituição, que é ela, e desconhece as que criamos. O que criamos não é antibíblico, mas é
abíblico. Não é errado, mas existe para
funcionalizar e vitalizar a igreja local.
O que devemos fazer é mostrar que as igrejas do Novo Testamento viviam
em cooperação, que se ajudavam, como Paulo mostra em suas cartas. Autonomia e cooperação não são antônimos. As igrejas se engajavam em projetos comuns,
mas tudo partia delas. Até mesmo o envio
de missionários. Os missionários eram
enviados pelas igrejas e eram missionários das igrejas e nunca enviados por uma
instituição. Sei que os tempos são
outros, as circunstâncias culturais são outras, mas me parece que muitas vezes
olhamos pelo lado errado do binóculo. A
pedra de toque do processo batista é a igreja local. Somos congregacionais desde nossa origem: o
governo pertence à congregação local e ela não está sujeita a nenhuma outra
instância. E cooperação, sim. Mas sacrifício ou abandono da autonomia da
igreja local, nunca!
Esta
doutrina nos permite declarar que a maior e mais rica igreja batista vale tanto
quanto a menor e mais pobre. E o que se
faz em nome dos batistas precisa do aval moral das igrejas para ter
credibilidade entre elas. Não se trata
apenas de autonomia da igreja local, mas de sua soberania. As estruturas precisam se compatibilizar com
as igrejas. Até mesmo por um fator muito
simples: precisam delas para sobreviver.
Extraído de uma palestra preparada pelo
Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013)
para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.
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