Repetir dois ou três compassos com
pouquíssima ou nenhuma variação por quase quinze minutos não parece ser a
melhor ideia para uma composição, principalmente de sucesso. Mas este é o caso do Bolero de Ravel. Em tom quase monótono, a música se estende
repetindo o tema. Quando parece que vai
acabar, ela simplesmente se repete... se repete... se repete... e se repete...
Em linhas gerais, só para
identificar do que estou falando, o francês Maurice Ravel compôs seu Bolero em
1928 a pedido da dançarina Ida Rubinstein, que a encenou na sua avant
premiere. De lá para cá a obra já foi executada em
diversas variações, inclusive no desfile cívico-militar do Sete de
Setembro deste ano pela tropa da Polícia Militar da Paraíba, que desfilou ao som
do Bolero de Ravel, adaptado pela Banda de Música da PMPB.
Sei
que, com certeza, outros detalhes técnicos e partituras, bem como diversas
curiosidades sobre a obra, podem ser encontrados na própria internet, é só
procurar. Então não vou me deter neles.
A verdade
é que não sei exatamente porque, mas eu gosto deste Bolero. Já fiquei minutos intermináveis parado no
trânsito engarrafado ouvindo seus acordes repetidos. E talvez aqui esteja o segredo: a sua
interminável sequência se repetições parecem transmitir uma sensação de
equilíbrio e continuidade. É como se
quisesse me dizer que sempre haverá algo mais e, de certo modo, a vida
continua.
Sim, é
gostoso ouvir o Bolero também porque não somente é repetitivo, mas é
alegre. Não sei se esta era a intenção
original de Ravel, mas a música parece me dizer que a monotonia e padronização
forçada da vida moderna (lembre que a obra é do século XX) não precisa ser
necessariamente um tédio ou uma chatice: pode ser alegre, vibrante,
exuberante. E até com um pouco de atenção
e ouvido acurado, dá para perceber as pequenas variações da vida lhe trazem um
colorido diferenciado.
É bom
ouvi-la. Mas imagino que para os músicos
deva ser cansativo executá-la. Só que
esta não é minha questão. Não sou músico
profissional e nem tenho a obrigação de fazê-lo. Então que eu aprecie a obra, e isto me basta.
E para
terminar, permita-me uma sugestão que vai ajudar a ver o Bolero de Ravel de
maneira mais divertida. Achei na
internet uma animação do pessoal da Escola de Belas Artes da UFMG que faz as
notas brincarem na pauta ao som da música.
É muito legal!
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