Considerações
sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.
O
texto de Orlando Costas trata de um assunto “velho”, mas não
“ultrapassado” – como chama a atenção o Prof. Bonilla na
apresentação do trabalho. Compromisso e Missão é uma reflexão
sobre a missão da igreja neste mundo de incertezas em que vivemos.
Esta é a proposta do livro que está contida no subtítulo e a
empreitada a que Costas – um teólogo porto-riquenho – se propõe
nesta obra: uma reflexão sobre os desafios e implicações de missão
da igreja no contexto histórico e de vida em que ela vive. Mas o
texto não é simplesmente uma observação, mesmo que criteriosa, de
fatos e contextos; é uma significativa reflexão teológica sobre o
papel que a igreja tem a desempenhar dentro do projeto do Reino de
Deus.
Segundo
o próprio Costas, “o presente tomo surge de experiências
teológico-pastorais em diferentes partes da América Latina” (p.
7). Assim cada capítulo foi originalmente preparado com objetivos
distintos e somente depois foram reunidos neste trabalho. O primeiro
capítulo – preparado para um congresso na Costa Rica em 1977 –
trata da missão cristã na América Latina hoje. Os capítulos
seguintes tratam da missão como atividades a serem desenvolvidas e
vivenciadas pela igreja: proclamação; discipulado; mobilização;
crescimento integral; libertação e celebração. Mas a reflexão
sobre a missão da igreja deve conduzir-nos a uma visão e
reafirmação do compromisso da igreja em missão com aqueles os
quais “o mesmo Jesus Cristo se comprometeu” (Bonilla, p. 13).
Como se
apresenta na América Latina hoje a missão cristã? Como se entende
e que forma toma?
Refletindo
sobre estas questões Costas apresenta duas categorias que ajudam a
compreender como se apresenta hoje a missão da igreja na América
Latina: “tradição” e “reconstrução”. Tradição é o
processo de formulação e reformulação que caracteriza a missão
na sua passagem de geração a geração. Neste aspecto a missão e
a tradição andam de braços dados e conduzem a uma nova reflexão
sobre a igreja e seu papel dentro da história. Por isto mesmo, toda
tradição missional da igreja deve conduzi-la a uma reconstrução –
reconstrução tanto da sociedade que precisa ser alcançada pela
missão cristã como da própria missão em si com seus vários
aspectos.
Na
história da missão cristã protestante na América Latina a
reconstrução sempre se mostrou como a via condutora que conduziu a
igreja. As missões protestantes que chegaram a América Latina
formaram-se, na sua grande maioria, com propostas de modelos
“civilizador” e “evangelizador” (citando J.M. Bonino, p. 17).
Costas comenta:
Estes
dois modelos de reconstrução missional tinham, certamente, seus
pontos de contato. Ambos procediam de mesmo ambiente
geográfico-cultural: o mundo anglo-falante. E ambos se haviam feito
possível econômica e politicamente graças ao movimento liberal
modernista do século XIX (p. 18).
Vale
aqui concordar com as observações do autor. As condições sociais
e histórica peculiares do século XIX conduziram o cristianismo
protestante, principalmente inglês e norte americano, a engajar-se
no projeto de missionário. Paralelamente ao esforço de ganhar o
mundo para Cristo, a empresa missionária protestante típica do
século XIX, ocupou-se na criação de orfanatos, hospitais e
principalmente escolas que serviriam para divulgar e fomentar as
idéias do cristianismo anglo-saxão que chegavam como proposta
civilizatória. Lembrando Max Webber: a ética protestante se
apresentava como a fórmula que levaria os países latinos americanos
ao progresso tão almejado, como o tinha feito nos países do norte
da Europa e nos EUA. É neste contexto que Costas observa que a
visão evangelizadora da missão propunha uma reconstrução da
“imagem da igreja como instituição centrípeta e clerocêntrica
em comunidade centrífuga e laicocêntrca” (p. 21).
Aqui
floresce então um pentecostalismo, como expressão de uma
cristianismo carismática que irá trazer sempre a tona os impasses
entre o novo e o velho na vida da igreja. Ou seja, o cristianismo
que chegou com as missões protestantes traziam no seu bojo uma
proposta inovadora de progresso humano e social; ao se estabelecer
formulou sua própria tradição que, por isto mesmo, tende a se
institucionalizar e cristalizar. Costas observa:
Essa
realidade se move entre o desejo e luta por novas formas de entender
e efetuar a missão cristã entre os grandes desafios continentais, e
o zelo e luta por conservar o legado missional de nossos
antepassados. E entre essa dialética vive (e morre) a missão
cristã na América Latina Hoje (p. 26).
Leia mais:
1. A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO
2. A MISSÃO COMO DISCIPULADO
3. A MISSÃO COMO MOBILIZAÇÃO
4. A MISSÃO COMO CRESCIMENTO INTEGRAL
5. A MISSÃO COMO LIBERTAÇÃO
6. A MISSÃO COMO CELEBRAÇÃO
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1. A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO
2. A MISSÃO COMO DISCIPULADO
3. A MISSÃO COMO MOBILIZAÇÃO
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6. A MISSÃO COMO CELEBRAÇÃO
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