Em três versículos, Lucas introduz o
tema da celebração da última Ceia entre Jesus e os seus discípulos (toda a
narrativa da última Ceia está em Lc 22:7-23 e os versos em destaque são do 14 a
16). Nestes versos o evangelista parece
captar algumas lições preciosas daquilo que o Mestre estava realizando com o
seu círculo mais próximo.
Eu lhe convido então a ler comigo estes três
versículos para buscar entender porque eu gosto tanto desta celebração na vida
cristã.
No verso 14 eu leio: "quando chegou a hora,
Jesus e os seus apóstolos reclinaram-se à mesa". Comer e beber desta Ceia foi a celebração de um
momento de intimidade entre Jesus e seus seguidores. Estavam todos ali reclinados à mesa
desfrutando da companhia uns dos outros e da maravilhosa presença do Mestre. Ninguém deve cear sozinho e naquele salão
mobiliado eles celebravam o fato de estarem juntos.
Expandindo esta ideia, observo também a mesa como significando estarem todos compartilhando de uma singular igualdade. Mesmo que a imagem que você forme em sua
mente daquele episódio seja a pintura de Leonardo da Vinci (penso que não tinha
toda aquela pompa), você vai concordar comigo: ao se reclinarem juntos,
os discípulos assumiam que entre eles não havia hierarquia formal.
A partir do verso 15 Jesus começou a falar: "Desejei
ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer". É como se Jesus estivesse dizendo que estava
completamente tomado pelo desejo de que esta Páscoa fosse comida entre
eles. A vontade soberana de Deus era
partilhar daquela passagem com seu povo.
Em outras palavras, entendo como se Jesus nos estivesse
dizendo claramente que a celebração de sua Paixão – aqui antecipada na Ceia –
era parte do seu desejo especial. Alguma
coisa moveu o Senhor a deixar sua glória eterna e vir me resgatar, e isto foi
seu desejo desde sempre. E nas palavras
daquela celebração me sinto tocado pela transpiração da paixão divina.
E no verso 16 Jesus completou: "... não comerei
dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus". Com isto Cristo dá a entender que aquilo que
eles estavam celebrando era apenas o provisório, enquanto se aguarda o
definitivo que haverá de se manifestar: o Reino de Deus. Nos elementos ali presentes estava a
declaração de fé e certeza do estabelecimento do reino e domínio eterno.
O Mestre instruiu a celebrar o passado como quem
anuncia o futuro. Não como saudade ou
nostalgia vazia, mas como quem, com ousadia, anuncia a antecipação da
superprodução – o trailer de um
verdadeiro blockbuster, para usar a
moderna linguagem cinematográfica – que tem o próprio Cristo como produtor,
realizador e personagem principal e do qual também faremos parte.
Assim Jesus Cristo celebrou com os seus discípulos,
logo antes de completar a sua missão, em comunidade, desejando que seu gesto
fosse repetido pela igreja, celebrando-o e anunciando-o. Assim, verdadeiramente
gosto e me realizo quando o faço em minha comunidade de fé. Celebremo-lo desta forma.