sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

AUTOR E CONSUMADOR


Geralmente nós tomamos esta época de fim-de-ano como tempo de reflexão, quando avaliamos o que fizemos e projetamos o que devemos corrigir para alcançarmos nossos objetivos e metas.  Para a última reflexão do ano quero fazer um pouco isto também e com certeza vou me incluir entre aqueles que precisam de tal análise.  É como se dissesse: antes de escrever para outros, tomo primeiramente para mim as palavras que vão compondo o texto!
Devo me embasar em Hb 12:1-3 que tem seu ponto central na declaração de Jesus como o autor e consumador da nossa fé.
Mas antes de ler e compreender o texto e a expressão com a qual Hb apresenta Jesus, deixe-me fazer um destaque importante do contexto da declaração: o verso 1º fala que estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas.  Isto é verdade!  Basta olhar para o que Deus fez neste ano.  Realmente há entre nós muitas testemunhas daquilo que o Senhor é capaz e de quanto ele nos ama.  Tenho louvado bastante a Deus por minha Igreja.
Por outro lado, o texto também me diz que, apesar das bênçãos, há ainda o pecado que se avizinha.  Ou seja, mesmo diante de tudo o que Deus já fez, mas ainda estou sujeito ao pecado, à falha e ao deslize.  Infelizmente é verdade que nosso adversário continua tentando nos derrubar.  Assim continuo fazendo minha a exclamação e prece de Paulo em Rm 7:22-25.
É neste contexto que volto a considerar a sentença do texto e ela ganha contornos e força peculiares.  Meus olhos devem estar fitos em Jesus, e em mais ninguém ou em nada.  Embora as testemunhas sejam importantes para o crescimento e fortalecimento mútuo – e agradeço a Deus por elas; embora também o pecado e o diabo venham a turvar meu caminho – e suplico pela clemência divina; somente Jesus deve ser o modelo e alvo de minha jornada cristã.
O autor bíblico fala de Jesus como o autor da minha fé.  Ele é quem faz nascer e acontecer a fé e a firmeza em minha alma.  Só posso crer em Deus e confessá-lo porque, através do Espírito, Jesus a plantou dentro de mim.  Também é ele o alvo do que eu creio: o consumador.  Só a Cristo devo voltar-me como objeto de minha fé, culto e adoração, porque dele e para ele são todas as coisas (veja Rm 11:36).
Neste fim-de-ano, que seja Cristo Jesus, e não as pessoas ou as circunstâncias, quem domine minha vida e minha fé.  Para glória maior dele.
(Adaptado de reflexão publicada do sítio http://ibsolnascente.blogspot.com em dezembro de 2009)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Salmo 112 - uma leitura


Aleluia!
Como é feliz o homem que teme
o SENHOR
e tem grande prazer em seus
mandamentos.
(Sl 112:1)
Com estas palavras o Salmo 112 inicia um poema construído em ordem alfabética e que procura descrever qual deve ser o comportamento do homem que teme ao Senhor.
Como atitudes pessoais o salmo destaca:
> Empresta com generosidade (v. 5);
> Com honestidade conduz os seus negócios (v. 5);
> Reparte generosamente com os pobres (v. 9);
Como qualidades, vemos:
> Tem grande prazer nos mandamentos do Senhor (v. 1);
> A sua justiça dura para sempre (v. 3 e 9);
> O seu coração está seguro e nada temerá (v. 8);
E como resultado de sua conduta:
> Seus descendentes serão poderosos na terra (v. 2);
> Serão uma geração abençoada, de homens íntegros (v. 2);
> O justo jamais será abalado (v. 6);
> Seu poder será exaltado em honra (v. 9).
Estes atributos podem muito bem ser encontrados em Davi, quando demonstrou o valor da lealdade.  Diante de um homem assim devemos então prestar uma palavra de louvor ao nosso Deus: Aleluia! Deus seja louvado nas vidas de seus servos!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

É NATAL, MAS PREFIRO A PÁSCOA!


Chegando ao final do ano, as casas e a cidade vão ficando enfeitadas, a agitação e as expectativas de festas, celebrações e comemorações já são bem vívidas.  Também é momento de reavaliações, projetos e reafirmações.  Isso sem falar nos presentes, lembranças, ceias e tudo o mais...  Natal é sempre assim!
Mas prefiro a páscoa!  Não tenho nada contra a festa natalina; ela também é bonita e gostosa.  Mas meu espírito cristão se inclina em especial para a festa pascoal.
Se me permite, acompanhe comigo.
Que a festa de Natal não é originalmente cristã, isso é verdade.  Os cristãos primitivos nem sequer citavam tal celebração e somente muito tempo depois tais festividades foram incorporadas ao calendário litúrgico cristão.  Mas não creio que seja este o problema.  Assim como as pessoas, as celebrações nascidas pagãs podem se tornar cristãs pela força transformadora do evangelho – e eu creio piamente nisto! (já leu Rm 12:2 nesta perspectiva?).
No Natal se celebra o nascimento virginal de Cristo, a encarnação, o cumprimento de profecias antiquíssimas.  Isso também não pode ser o problema, pelo contrário, é bom saber que no seu tempo Deus cumpriu sua palavra (veja Gl 4:4) e, afinal, o Deus-feito-homem é o centro de nossa história e isso só foi possível com o evento de Belém.
Paralelamente festejamos no Natal a união, a fraternidade e o companheirismo entre mulheres e homens e entre os povos.  É claro que tal espírito coincide profundamente com a mensagem cristã, e isso é válido! (como é significativo Jo 17:22).
Então, onde reside o ponto da preferência?  Veja o que o Natal me evoca, como sentimento associado (seria o tal espírito natalino?): troca, reciprocidade, cumplicidade; mas também opulência, prosperidade, grandiosidade e sucesso.  Nesta época sobressaem as grandes campanhas publicitárias, as imagens iluminadas, as mesas fartamente recheadas e decoradas, os presentes comprados e os sorrisos encomendados – isso sem falar na neve que meus olhos nordestinos insistem em estranhar!
Por outro lado, a Páscoa sempre me traz à memória a renúncia, a entrega apaixonada pelos que precisam da graça e nada têm a oferecer.  Natal é nascimento, Páscoa é morte.  Natal é berço, Páscoa é cruz.  Natal é expectativa, Páscoa é realização.  Natal é cristão, Páscoa é mais cristão ainda.  Natal é festa da humanidade, Páscoa é serviço cristão.
Sim, o Natal é lindo, mas eu prefiro a Páscoa.  Não vou me aborrecer com a festa ou com quem, a partir dela, celebra (e penso que até vou comer alguma ceia por aí); mas deixe-me preferir o sacrifício único do meu amado e lembrar que a todo instante do meu ano (e da minha vida), sem o Calvário, a estrebaria seria só mais uma data entre tantas outras a se incluir em nosso calendário de celebrações. 
Celebro o Natal: com os anjos canto as boas novas glorificando a Deus (o louvor dos anjos está em Lc 2:14); mas prefiro a páscoa celebrando-a com os anciãos na eternidade: "digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!" (lá em Ap 5:12).  E convido a todos a celebrar comigo.
(Publicado originalmente em www.batistasdesergipe.com em dez/2009)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Parábola das coisas – o motor



Na vida dita moderna, como a vivemos hoje em dia, todo mundo conhece um motor.  Mesmo que você não seja engenheiro mecânico ou não esteja familiarizado com seu funcionamento e muito menos se sinta capaz de construí-lo ou consertar um deles; você conhece um motor e deve estar cercado de alguns neste momento.
Para efeito de nossa consideração nesta parábola não quero pensar num motor qualquer, mas num motor à explosão como aqueles que equipam os carros que enchem nossas cidades e vias.  Assim, devo comparar a igreja e a tradição que a ela diz respeito a um carro e ao seu respectivo motor.  Acompanhe comigo – mas deixe-me dizer logo que também não sou engenheiro nem mecânico.
O ponto de partida da comparação é a realidade de que o motor é sempre parte de um todo maior.  Não faz sentido ter um motor que não esteja devidamente colocado em um carro.  E nem aquele conjunto de coisas será de verdade um automóvel sem que nele esteja colocado um motor.
Por agora creio que já deu para entender que sendo a igreja um carro e a tradição o seu motor; esta última terá como única função dar dinâmica e movimento à primeira, enquanto aquela lhe dar abrigo, razão e objetivo.  Mas continuemos a comparação.
É verdade que existem diferentes tipos de igrejas e tradições, como existem diferentes tipos de carros e motores: uns sãos barulhentos, outros silenciosos.  Alguns mais potentes, outros mais delgados.  Uns se destacam na carenagem do carro, outros quase não são percebidos.  Uns exigem um acompanhamento mecânico mais presente, outros funcionam quase que sem que mãos especializadas o toquem.  Alguns consomem muito combustível, enquanto outros são bem econômicos.  Todos, contudo são igualmente motores à explosão e também de modo igual foram colocados ali para cumprirem um papel: fazer do carro um automóvel.
Outro detalhe a se considerar é que alguns motoristas consideram o motor o item mais importante na hora de escolher ou valorizar um carro a ser avaliado, enquanto outros talvez sequer tenham se dado o trabalho de levantar o capô para verificar se há mesmo uma máquina ali.  Mas seja qual for o caso, um carro sem motor é sempre apenas uma carcaça inútil.
Importantíssimo também é destacar quatro outras características indispensáveis a um motor à explosão quanto ao seu funcionamento no conjunto do carro.  Primeiro: para trabalhar e gerar a força motriz que o carro precisa, o motor precisa de energia e principalmente combustível.  O mais bonito, potente e bem equipado motor para nada vai servir se não houver nele gasolina que o faça explodir para trabalhar.
Segundo: independente das características que tenha o motor do carro, ele nunca trabalhará sozinho.  No conjunto do automóvel o motor à explosão deve estar ligado a outras partes mecânicas que fazem a força gerada lá dentro de suas câmaras serem efetivamente transformadas em movimento e velocidade para o carro.
Terceiro: também precisa todo e qualquer motor ser dirigido – comandado.  Por mais moderno e auto-suficiente que um motor de carro possa parecer, ele sempre dependerá que alguém decida acioná-lo para que ele funcione.  Isto quer dizer que pode ser simples ou eletronicamente complexo, um motor sempre carecerá de controle.
E quarto.  Não deve ser esquecido que um bom motor exige manutenção e principalmente um bom óleo lubrificante para que suas partes interajam sem comprometer nem a elas mesmas nem o todo da máquina.  É o óleo que dará durabilidade ao motor e propiciará as condições para que ele resista às explosões internas sem fundir ou danificar-se.
Volto a dizer: igreja não é tradição – como carro não é motor.  Mas não dá para separar uma da outra.  Assim, para que sua igreja continue automotora, cuide do estofamento, da lataria e dos faróis, eles são importantes, mas principalmente levante o capô, avalie e cuide do motor que o Senhor colocou nela.

 

Você encontra textos como esse no livro PARÁBOLA DAS COISAS

 


Disponível no:
Clube de autores
Google Play
amazon.com

Conheça também outros livros:
TU ÉS DIGNO - Uma leitura de Apocalipse
DE ADÃO ATÉ HOJE - Um estudo do Culto Cristão


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

VIDEIRA VERDADEIRA


"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor. (...) Eu sou a videira; vós sois as varas."  Estas palavras são do próprio Cristo e podem ser lidas em Jo 15:1 e 5.  Com elas, Jesus se apresenta como a árvore de onde cada discípulo tira a seiva vital para sua vida e seu sustento.   Esta é a certeza gloriosa que nós em Cristo e Ele em nós, ligados como caule e ramos, temos garantia de podermos usufruir toda sorte de dádivas e traz consigo implicações:
Jesus observa que, mesmo ligados a Ele, há as varas que dão frutos e há as que não dão.  Assim é na igreja: há os crentes que frutificam e há os que não frutificam, ou seja, alguns trabalham e outros dão trabalho!
Aos que, estando ligados à seiva divina e frutificam, Jesus diz que limpa, poda e cuida para que possam dar mais frutos.  Aqui está demonstrado todo amor e carinho do Mestre para os seus servos que se mostram comprometidos com o Reino de Deus.  Ou seja: aqueles que estão ocupados, ganhando almas, cuidando do próximo, servindo em adoração, ensinando, em resumo, cumprindo a grande comissão; estes estão sempre a receber uma atenção especial de Cristo, demonstrada em bênçãos cada vez maiores – são crentes viçosos e bonitos!
Mas há os que, ainda ligados a Cristo, vivem de maneira infrutífera.  Jesus diz que estes ele corta.  Aqui é evidente que é uma referência à mão de Deus que pesa sobre os servos negligentes.  Ou seja: aqueles que vivem sem ocupação ou compromisso com o Reino de Deus, sem fazer nada de útil para glória de Deus; estes estão sempre carentes de realizações e bênçãos – são crentes raquíticos e feios!
Como crentes, estamos ligados à fonte da vida que é Jesus, isto deve nos fazer poder viver uma vida frutífera que em si gere mais vida e mais frutos e por fim a exaltação e glória plena do Senhor, afinal é para isto que vivemos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Salmo 84 – uma leitura


Sabemos que o Livro dos Salmos – ou Saltério – recebeu a composição final, no formato em que conhecemos hoje, para servir como hinário e manual litúrgico do segundo templo, construído na volta do exílio.  Contudo, também sabemos que seus diversos poemas individualmente refletem a progressão espiritual do povo de Deus desde muito cedo.  Neste aspecto, temos salmos que expressam como o povo, ao longo de sua história desejou estar diante do Senhor em sua casa:
Sei que a bondade e a fidelidade
me acompanharão todos os
dias da minha vida,
e voltarei à casa do SENHOR
enquanto eu viver.
(Sl 23:6)
Eu amo, SENHOR, o lugar da tua
habitação,
onde a tua glória habita.
(Sl 26:8)
Uma coisa pedi ao SENHOR;
é o que procuro:
que eu possa viver na casa do SENHOR
todos os dias da minha vida.
para contemplar a bondade do SENHOR
e buscar sua orientação no seu templo.
(Sl 27:4)
Os justos florescerão como a palmeira,
crescerão como cedro do Líbano;
plantados na casa do SENHOR
florescerão nos átrios do nosso Deus.
(Sl 92:12-13)
Alegrei-me com os que me disseram:
“Vamos à casa do SENHOR!”
(Sl 122:1)
Há um salmo dos coraítas – levitas encarregados por Davi pelas portas da Casa do Senhor – que reflete de maneira admirável o desejo pelo lugar da habitação do Senhor dos Exércitos: o Sl 84.
O tema central do salmo é a alegria por estar continuamente servindo no templo (veja os versos 1 e 4).  O salmo, contudo vai além, expressando o desejo por este momento; e o faz de maneira poética:
A minha alma anela, e até desfalece,
pelos átrios do SENHOR.
(Sl 84:2)
O desejo, a vontade maior, o sonho do salmista é poder – como ele observa os pardais e as andorinhas (veja Sl 84:3) – fazer ninho e morar na Casa do Senhor.  Com toda certeza não há lugar melhor para se estar que na Casa de Deus, em sua presença.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

HINOS INSTRUMENTAIS


Achei na Internet e baixei para meu computador um arquivo com mais de uma centena de músicas em formato MIDI intitulado "Hinos Antigos".  Dei uma busca procurando informações por direitos autorais, quem gravou, quem é (ou são) o instrumentista ou qualquer outra que fosse relevante e sinceramente não as encontrei (então, neste caso, vou me resguardar o direito de apenas comentar sem indicar o sítio de origem).
São todos arquivos de músicas instrumentais tocadas no que me parece ser um velho harmônio acompanhado apenas de um piano e, em alguns poucos casos mais um ou outro instrumento de percussão.  Não é difícil reconhecer o que está sendo executado – até porque eles estão nomeados com o número do hinário correspondente e o título.  Há hinos do amado Cantor Cristão e de sua releitura, o HCC (mas sei que eles são comuns a vários outros hinários evangélicos tradicionais).
Mas vamos ao que realmente interessa: o som que me delicio ouvindo.  Como não há letra ou canto – lógico! – as melodias se impõem por si só.  E para citar alguns, são hinos do quilate de Fonte És Tu de Toda Bênção (17 HCC); Mestre, o Mar se Revolta (408 HCC); Amigo Incomparável (81 CC); Rude Cruz (132 HCC); Servir Alegremente (420 CC); Jesus Pastor Amado (566 HCC), Meu Senhor Sou Teu (361 HCC) entre outros igualmente valorosos.
Alguns de tais hinos têm uma linha melódica simples, harmonia previsível e ritmo repetitivo enquanto outros apresentam soluções musicais bem mais ricas e elaboradas, mas com certeza todos são herdeiros de uma mesma tradição evangélica na qual gerações sucessivas de crentes foram doutrinados e louvaram de alma sincera diante do Senhor. 
Ouvi-los assim me traz a confortante certeza do sentimento de pertencer a tão significativa história.  Eles me dizem que eu não estou perdido ou largado na vida e no tempo, mas estou inserido em algo bem maior que eu mesmo e minha curta linha de vida: não sou efêmero!  Reconhecer estes acordes realmente faz bem a minha alma.
Antes prosseguir, contudo, não resisto em comentar algo teórico sobre o conceito e a importância de religião.  Como definição é o religare, aquilo que me liga a dá significado a minha existência.  Como conteúdo é o perfeito amálgama entre tradição e nova vitalidade onde ambos são igualmente indispensáveis.
Voltando aos velhos hinos, eles também são um impressionante testemunho de uma outra época e de uma outra agenda teológica da qual nos referimos às vezes com certo ar de nostalgia ou de verdadeira saudade, mas com certeza que já não consta da maioria de nossas canções modernas (não que eu seja contra estas últimas, pelo contrário, acho que há ainda hoje contribuições que só enriquecem nossa hinódia).
É certo que cantamos o que cremos (pelo menos deveria ser assim); bem como o inverso é verdadeiro: somos levados a crer naquilo que cantamos.  E se pouco cantamos hoje que no serviço do meu Rei eu sou feliz talvez seja porque isto já não esteja entre nossas prioridades cristãs.
Mas continuo ouvindo num moderno computador ressoar a melodia antiga que já faz parte de minha própria história de fé e nem preciso que a letra esteja ali para que eu me sinta familiarmente em espírito de adoração: Canta minha alma, canta ao Senhor, rende-lhe sempre ardente louvor.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ANTES DO BURBURINHO



Como de costume, hoje eu acordei antes do burburinho da cidade.  Em especial hoje quem me tirou da cama foi o despertador, mas não vejo isso como um problema, pois temos uma cumplicidade amigável.  Muitas vezes eu o antecipo e quando ele rompe o silêncio do resto de madrugada eu já estou me aprontando para a primeira tarefa do dia.
Antes dos compromissos da agenda profissional; antes da rotina do filho na escola; antes mesmo do quebra-jejum matinal; eu me reservo a um hábito que procuro manter com religiosa sacralidade, pois sei que o Inefável sempre desce para tabernacular pessoalmente comigo nas primeiras horas do dia – e como eu gosto disso e me faz bem!
No fundo de minha casa mantenho armada uma rede onde posso me reclinar nestes momentos preciosos.  Não gosto de me balançar com vigor (em geral me dá tontura), mas o suave marear, embalado pela brisa da manhã, ajuda a me sentir aconchegado em divinos braços paternos.  São momentos como este em que não há palavras nem liturgias, mas a alma é curada.
Entre o concreto que já cerca e abafa a casa onde moro, deitado na rede, ainda posso vislumbrar um pedaço precioso do firmamento.  E nesta manhã o céu está quase intocável, resta apenas um tênue floco de nuvem que mais parece um resto de algodão que foi lavado pelo vento à espera de que alguém o colha.  Cores não são o meu forte – nunca foi – mas o azul da manhã me parece de uma profundidade cativante.  E me sinto convidado e envolvido pelo resto de infinito que me inunda os olhos.
Agora, nada se compara ao canto dos pássaros.  Sou realmente agraciado com uma profusão de inúmeras e diferentes melodias que estes fantásticos cantores entoam toda manhã.  Sei que eles não o fazem para mim em especial.  Eles louvam o Criador.  Mas, como não me sentir celebrante da vida por poder desfrutar de tão esfuziante sinfonia!  Não existe ouro que valha estes minutos!
Então as palavras de Cristo são sussurradas ao meu ouvido: observem as aves do céu.  O Pai celestial as alimenta.  Agora elas são mais que tradição e letra morta; elas estão repletas de significado e atualidade e me dou o direito de simplesmente respirar fundo (antes que a poluição do dia torne isto impraticável) e deixo escapar uma exclamação sincera: Louvado seja teu nome, amado Senhor!
É porque o dia começou em tão sagrada presença que o stress das outras horas, a loucura do trânsito cada vez mais caótico, a correria da agenda insistentemente lotada, as intermináveis filas e contas para pagar, a futilidade das vitrines multicoloridas, a impaciência da convivência urbana impessoal, tudo isso se mostra miraculosamente transformado em apenas um tempo de espera para o próximo encontro pessoal com Cristo amanhã de manhã.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

UM RICO INSENSATO


Em uma certa ocasião um homem no meio da multidão pediu para Jesus arbitrar uma questão de herança entre ele e seu irmão.  De pronto o Senhor respondeu que não tinha sido para isso que desenvolvera sua missão, e completou com a seguinte recomendação:
Tenham cuidado e fiquem cabreiros com toda e qualquer avareza ou somiticaria; pois a vida do homem não se resume à quantidade de coisas que se ajunta (mesmo que se coloque um adesivo no vidro do carro dizendo que foi Deus quem deu!).
Antes de prosseguir a narração de Lucas (estou acompanhando Lc 12:13-21), deixe-me atinar para o fato que o relacionamento doentio do ser humano com o dinheiro, as riquezas e afins ocupou uma parte considerável do ministério e das pregações de Jesus Cristo.
Voltemos à narrativa do Evangelho.
No mesmo contexto da advertência quanto à ganância, o Mestre propôs a seguinte parábola (que aqui me dou a liberdade de recontar, como já venho fazendo com o texto em si).
A terra de certo homem rico produziu muito.  As commodities do agro-negócio lhe foram bastante favoráveis, e isso aliada a uma taxa de produtividade significativa, o que fez com que os recordes de sua safra rendessem lucros exorbitantes e consideráveis.  Aquele homem julgou então ter chegado o momento de rever suas estratégias e métodos: prosperidade e celeiros cheios exigiam depósitos maiores e tendas mais largas.  A segurança financeira possibilitava tomar posse de alguns confortos.
Então o rico e próspero homem tomou a seguinte resolução: agora tenho o direito de fazer o capital trabalhar para mim.  Viver apenas da renda já me é possível; pois, agora que estou na posição de cabeça, posso deixar àqueles que restam na cauda trabalharem para mim.
Neste ponto da parábola Jesus propositadamente dá um corte radical na sequência da narração, inserindo uma sentença divina que soa como um mistura de advertência e condenação:
— Homem!  Larga de tolice!  Essa noite você vai seguir o destino de todos os homens!  E tudo o que você juntou, vai ficar para quem?
E por fim, o próprio Mestre é quem oferece a aplicação da parábola: é isso o que acontece com aqueles que acumulam e guardam para si riquezas e propriedades, mas não conseguem ser ricos para com Deus.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

BARTIMEU, A MULTIDÃO E JESUS


Os três Evangelhos sinóticos contam que, na porta de entrada da cidade de Jericó, o cortejo que acompanhava Jesus encontrou um homem cego mendigando à beira do caminho (confira em Mt 20:29-34; Mc 10:46-52; Lc 18:35-43). 
Nenhum detalhe da narração ou das circunstâncias parece estranho ou absurdo.  Mendicantes ao longo das vias eram comuns na empobrecida Judeia do século I.  As multidões acompanharam Jesus com relativa frequência pelos mais diversos motivos.  E também é verdade que Jesus desenvolveu seu ministério de forma itinerante.  Mas olhando de per si os três personagens, quero destacar como cada um lidou com a situação e de que modo ainda hoje cada um de nós também o faz.
O primeiro personagem é o cego mendicante.  Marcos o chama de Bartimeu.  Segundo a narrativa dos evangelistas, o cego ao perceber a multidão, se inteirou do que se tratava; e ao saber que era Jesus, o Nazareno, se pôs a chamá-lo com veemência: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!" Por saber da sua situação e por crer que estava diante dele a única possibilidade de restauração, o cego clamou. 
Ao longo do caminhar da história, por vezes sou também levado à mendigar por migalhas de vida.  Mesmo não me faltando a subsistência material, o vazio e a carência existencial insistem em me colocar à margem.  Em tal situação é preciso aprender com Bartimeu e ter convicção e fé que somente Jesus pode mudar a minha história.  Então eu devo clamar também com veemência.
Como segundo personagem sou apresentado à multidão.  Os Evangelhos contam que eles estavam convivendo com Jesus há algum tempo e já tinham experimentado do seu poder e de suas maravilhas.  Mas agora estavam diante da concorrência do cego.  Aqui a multidão mostrou não ter ainda compreendido corretamente as lições do Mestre: com o desejo de possuir a exclusividade do Messias, eles foram incapazes de demonstrar amor e cuidado para com o próximo.
Vivendo com Cristo, tenho também sido agraciado com as bênçãos dele.  Mas é preciso confessar que ainda sou tentado por um ciúme doentio para com as coisas sagradas.  Nestes momentos é preciso deixar de lado a multidão e aprender a compartilhar a minha fé e atrair pessoas para o convívio evangélico.
Então aparece o próprio Jesus, o terceiro e principal personagem da história.  Ele apenas mandou chamar o cego e lhe perguntou o que queria.  Jesus conseguiu ouvir a voz de Bartimeu no meio da multidão e demonstrou real interesse pela sua situação: "Que queres que eu te faça?"  Sendo Filho de Deus e detentor de todo o poder, Jesus se dispôs a ajudar em qualquer que fosse o problema. 
Nunca foi a quantidade da multidão que atraiu Jesus, mas a voz dos indivíduos que clamam.  Ainda hoje, Jesus continua mais interessado em pessoas que em números ou estatísticas.  Por isso ele continua a ouvir qualquer filete de oração que eu lhe dirija.  Por outro lado, como tal poder e disposição ainda hoje estão ao meu alcance, pois o Cristo ainda tem amor e cuidado para com todos, então posso ter certeza que ele se apresenta para mim como meu ajudador.
Que deste encontro com o Mestre, meus olhos sejam abertos para a glória dele.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Salmos 24 e 96 - uma leitura


Vários salmos bíblicos expressam a alegria e o reconhecimento pelo poder real que podemos experimentar em nosso ato de adoração ao Senhor, e sem dúvida, eles podem representar o espírito exaltado e a alegria incontida de Davi naquele dia quando ele liderou o povo na entronização da arca em Jerusalém.
Quem é este rei da glória?
O SENHOR dos Exércitos;
ele é o Rei da glória.
(Sl 24:10)
Dêem ao SENHOR
a glória devida ao seu nome,
e entrem nos seus átrios
trazendo ofertas.
Adorem o SENHOR
no esplendor da sua santidade;
tremam diante dele todos os
habitantes da terra.
(Sl 96:8-9)
Mas há um Salmo de gratidão de Davi que o livro das Crônicas registra como tendo sido entoado exatamente quando a Arca chegou a Jerusalém (1Cr 16:8-36).  Neste salmo pelos menos dois aspectos nos sobressaem aos olhos:
(a) Em toda a estrutura do salmo, verbos no imperativo dão o tom da composição: dêem graças...  divulguem...  cantem...  gloriem-se...  olhem...  rendam graças...  adorem...  sendo inclusive repetidos ao longo do texto.  Isto nos aponta para a necessidade de mover nossa vida e adoração sempre em busca de cumprir o imperativo de reconhecer e louvar o Senhor com alegria e celebração pelo que Ele é e pelo que Ele tem feito em nossas vidas.
(b) Também percorrendo a composição do salmo encontramos o reconhecimento de que o louvor só cabe ao Senhor e que diante dele sempre haverá a necessidade de se expressar uma alegria infinita e um temor reverente:
Pois o SENHOR é grande
e muitíssimo digno de louvor;
Ele deve ser mais temido
que todos os deuses.
(1Cr 16:25)