sexta-feira, 3 de maio de 2019

SOB A PERSPECTIVA PROFÉTICA


O centro do culto no AT era o sistema de sacrifícios e holocaustos; através dos seus rituais os seres humanos se tornavam aptos para comparecerem na assembleia, diante de Deus, tinham seus pecados perdoados, sua adoração aceita e orações respondidas.
Era na imolação de animais que o adorador encontrava refúgio no Senhor, e este se lhe tornava favorável (veja o caso do altar construído por Davi na eira de Araúna em 2Sm 24:25).
Mas aquilo que era para ser instrumento tornou-se um fim em si mesmo, e o rito passou a ocupar – ele mesmo – a finalidade da adoração.
É neste contexto que Deus veio através do profeta recolocar as coisas nos seus devidos lugares. Primeiramente Oseias apresentou a proposta do Senhor: o centro do culto e da adoração não está no ritual ou na forma em que ele se desenrola e sim na atitude do coração com que o adorador se achega ao altar (leia Os 6:6. Jesus vai afirmar que o Reino de Deus deve estar dentro do adorador – Lc 17:21).
No oráculo profético está a advertência contra aqueles que se confiavam no fato de os ritos continuarem sendo ministrados, para poderem viver suas vidas de maneira irresponsável perante a Lei.
Deus diz através de Oseias que seu desejo é realmente que seus fieis o conheçam e mantenham um coração misericordioso. Tendo primeiro estabelecido estes princípios, então os ritos poderiam ser executados e aceitos perante o Senhor.
Para entender melhor a extensão desta palavra de Oseias, deixe-me fazer uma leitura de outro profeta. Amós é mais duro e incisivo em suas críticas à religiosidade ritual e superficial:
Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não lhes darei a menor atenção. Afastem de mim o som de suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!”
(Am 5:21-24).
Neste texto de Amós, Deus está dizendo que cansou – está farto – das celebrações, festividades e cultos apresentados pelos filhos de Israel.
O culto em si, por melhor que seja e se apresente, não era garantia de ser aceito pelo Senhor. Pelo contrário, um culto que não expressasse a vida do adorador diante do altar chegava a irritar a Deus!
Não era que o culto estava ritualmente errado, ou a forma e a liturgia do culto precisasse ser reavaliada, ou melhor trabalhada. Numa interpretação em linguagem mais livre, é como se Deus dissesse:
Vocês entenderam tudo errado!
A palavra profética ao avaliar o culto israelita não ia em direção a análise da forma, do estilo, do que poderia ou não ser oferecido como elemento sacrificado. O profeta trouxe e expôs a necessidade de haver coerência entre o culto apresentado ao Senhor e a vida de ética pessoal e responsabilidade social.
O mesmo Deus que instituiu as leis referentes ao culto e sua forma é quem exigia amor ao próximo e conduta reta e santa como prerrogativas do culto.


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