Desde o segundo século de nossa
era, grupos cristãos fazem uso do gesto do sinal da cruz. No início limitava-se apenas a traçar uma
cruz com o polegar sobre a testa, podendo ou não ser acompanhado de uma prece
específica.
Numa época em que os recursos eram
mínimos e os acessos a instrução escassos, a inclusão de rituais, como este,
entre as práticas cristãs ajudava a fomentar o espírito cristão e a doutrinar
os neófitos.
O sinal da cruz ajudava a lembrar
o valor e o poder da cruz para a fé cristã e o que significou o evento do
madeiro como centro de nossa crença e razão de ser de nossa esperança.
Com o passar dos anos, o ritual
simbólico se espalhou do oriente ao ocidente, o gesto se ampliou para a cabeça,
o peito e o ombros (e sim, claro, há bastantes variações) e hoje cristãos de
matizes diversas usam o sinal nas mais variadas situações: ao ouvirem uma
blasfêmia, antes de começar algo arriscado, diante de algum ícone sagrado ou um
templo, e por aí vai. Em muitos casos,
por puro ritual, completamente desassociado das implicações que advenham da
cruz para meus compromissos cristãos. Parece
que virou algo como um amuleto ou recurso místico adicional – ao estilo das
superstições populares.
É certo também que minha tradição
protestante-evangélica não valoriza este ritual – e até o rejeita – e por isso
muito pouco se fala e pensa sobre este costume extremamente enraizado no jeito
de ser fiel brasileiro. Vou seguir assim. Como ritual em si, talvez pouco acrescente à
minha fé, mas como simbolismo representa um princípio cristão que vale
repensar.
O apóstolo Paulo, escrevendo ao
cristãos de Corinto, observa que tanto os judeus pedem sinais, como os gregos
procuram sabedoria; nós, entretanto, proclamamos a Cristo crucificado, que é
motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios (confira 1Co
1:22-23).
A cruz é o motivo da minha fé e
tem que ser o centro de minha mensagem, pois sem cruz não haveria evangelho,
não haveria igreja, não haveria salvação, nem haveria cristianismo.
E tem mais – voltando a lembrar
dos primeiros passos de nossa caminhada cristã – num mundo romano em que a cruz
era o símbolo máximo de tortura, degredo e maldição, insistir em apontar a cruz
como marca que identificava os seguidores de Cristo era uma afronta deliberada
contra o poder instituído. Usar a cruz
era como dizer ao poderoso Império Romano: não tenho medo de suas armas e de
seu controle ideológico-religioso! – um tapa na cara.
A cruz nos identificou, demarcou
nossos espaços sagrados, deu-nos sentido histórico e esperança escatológica. A cruz nos fez o que somos: cristãos.
Mas aos poucos temos adocicado
nossa fé e a cruz, quando muito, tem virado souvenir. O escândalo dos judeus e a loucura dos gregos
parece que já não nos identifica. E a
questão não é um gesto ritual que leva meus dedos à testa, ao peito e aos
ombros e sim o que a cruz realmente aponta para nós, suas implicações, suas
exigências de renúncias e confiança exclusiva.
E que o sinal da cruz seja
realmente para nós o chamado e vocação dos santos.
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TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
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Profundo, edificante e maravilhoso texto. Deus continue abençoando sua vida de tal forma que textos como este, dentre outros aqui nos sirvam como verdadeiras ferramentas de reflexão e repensar/reafirmar a nossa fé. Pr. Paulo Sérgio.
ResponderExcluirObrigado pelas palavras, querido.
ExcluirA glória seja a Cristo, a quem sempre agradecemos pela cruz.
Abs
Amém querido.
ResponderExcluirAbs