sexta-feira, 18 de março de 2016

O SINAL DA CRUZ

Desde o segundo século de nossa era, grupos cristãos fazem uso do gesto do sinal da cruz.  No início limitava-se apenas a traçar uma cruz com o polegar sobre a testa, podendo ou não ser acompanhado de uma prece específica.
Numa época em que os recursos eram mínimos e os acessos a instrução escassos, a inclusão de rituais, como este, entre as práticas cristãs ajudava a fomentar o espírito cristão e a doutrinar os neófitos.
O sinal da cruz ajudava a lembrar o valor e o poder da cruz para a fé cristã e o que significou o evento do madeiro como centro de nossa crença e razão de ser de nossa esperança.
Com o passar dos anos, o ritual simbólico se espalhou do oriente ao ocidente, o gesto se ampliou para a cabeça, o peito e o ombros (e sim, claro, há bastantes variações) e hoje cristãos de matizes diversas usam o sinal nas mais variadas situações: ao ouvirem uma blasfêmia, antes de começar algo arriscado, diante de algum ícone sagrado ou um templo, e por aí vai.  Em muitos casos, por puro ritual, completamente desassociado das implicações que advenham da cruz para meus compromissos cristãos.  Parece que virou algo como um amuleto ou recurso místico adicional – ao estilo das superstições populares.
É certo também que minha tradição protestante-evangélica não valoriza este ritual – e até o rejeita – e por isso muito pouco se fala e pensa sobre este costume extremamente enraizado no jeito de ser fiel brasileiro.  Vou seguir assim.  Como ritual em si, talvez pouco acrescente à minha fé, mas como simbolismo representa um princípio cristão que vale repensar.
O apóstolo Paulo, escrevendo ao cristãos de Corinto, observa que tanto os judeus pedem sinais, como os gregos procuram sabedoria; nós, entretanto, proclamamos a Cristo crucificado, que é motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios (confira 1Co 1:22-23).
A cruz é o motivo da minha fé e tem que ser o centro de minha mensagem, pois sem cruz não haveria evangelho, não haveria igreja, não haveria salvação, nem haveria cristianismo.
E tem mais – voltando a lembrar dos primeiros passos de nossa caminhada cristã – num mundo romano em que a cruz era o símbolo máximo de tortura, degredo e maldição, insistir em apontar a cruz como marca que identificava os seguidores de Cristo era uma afronta deliberada contra o poder instituído.  Usar a cruz era como dizer ao poderoso Império Romano: não tenho medo de suas armas e de seu controle ideológico-religioso! – um tapa na cara.
A cruz nos identificou, demarcou nossos espaços sagrados, deu-nos sentido histórico e esperança escatológica.  A cruz nos fez o que somos: cristãos.
Mas aos poucos temos adocicado nossa fé e a cruz, quando muito, tem virado souvenir.  O escândalo dos judeus e a loucura dos gregos parece que já não nos identifica.  E a questão não é um gesto ritual que leva meus dedos à testa, ao peito e aos ombros e sim o que a cruz realmente aponta para nós, suas implicações, suas exigências de renúncias e confiança exclusiva.
E que o sinal da cruz seja realmente para nós o chamado e vocação dos santos.


3 comentários:

  1. Profundo, edificante e maravilhoso texto. Deus continue abençoando sua vida de tal forma que textos como este, dentre outros aqui nos sirvam como verdadeiras ferramentas de reflexão e repensar/reafirmar a nossa fé. Pr. Paulo Sérgio.

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    1. Obrigado pelas palavras, querido.
      A glória seja a Cristo, a quem sempre agradecemos pela cruz.
      Abs

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