A
reposta sobre Judas pode ter uma resposta simples. Mas, a partir dela, pode indicar outras
direções de reflexão.
A leitura direta e objetiva do texto bíblico – isso
é o que importa de verdade – não traz uma resposta simples para essa
questão. Não há sim ou não
inquestionável no texto sobre a predestinação de Judas!
Na verdade, esse é um tema que o texto sagrado
nunca trata como central em sua teologia.
Mas vamos olhar
um pouco sobre o que os Evangelhos nos dizem sobre o Judas:
# Ele foi escolhido diretamente por Jesus para o
ministério apostólico (Jo 3:16-19 / Lc 6:13-16);
# Junto a Simão Pedro, Judas é o apóstolo que mais
vezes é citado pelo nome nos Evangelhos (cerca de 20 vezes);
# João cita que Judas fez objeção à oferta do
perfume derramado para Jesus – sugerindo uma oferta para os pobres (Jo 12:4-5);
# João ainda lembra que era a responsabilidade de
Judas tomar conta da bolsa – finanças e numerários – do grupo dos discípulos
(Jo 13:29);
# Marcos, ao narrar a iniciativa da traição, diz
apenas que Judas Iscariotes, um dos Doze, dirigiu-se aos chefes dos
sacerdotes a fim de lhes entregar Jesus e que a proposta interessou os
líderes religiosos (Mc 14:10-11);
# E Mateus acrescenta o valor – trinta moedas – e
que Judas, a partir daí, passou a buscar uma oportunidade de entregar Jesus (Mt
26:16);
# Também Mateus fala do remorso de Judas após a
traição, tendo devolvido as moedas e manifestado intenção de suicidar-se (Mt
27:3-10);
# Finalmente, o livro dos Atos – por ocasião da
escolha de Matias como sucessor apostólico – observa que Judas abandonou este ministério
indo para o lugar que lhe era devido (At 1:25).
Então chegamos ao ponto da traição: sua motivação,
intenção e impulso. Novamente vamos ler
o texto sagrado:
Ao narrar o episódio da última ceia celebrada
entre Jesus e seus discípulos, o evangelista João afirma que o diabo induziu
Judas a trair Jesus (Jo 13:2) e que tão logo Judas comeu o pão, Satanás
entrou nele (Jo 13:27). Ou seja, a
influência e intenção satânica só se apossou do apóstolo Iscariotes após a
celebração pascoal, embora já o tivesse induzido a isso antes.
Uma digressão importante: Tiago, em sua epístola, é enfático em afirmar
que cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta
arrastado e seduzido. E o texto
segue: então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado,
após consumado, gera a morte (Tg 1:14-15 – o destaque é meu).
— Judas vendeu Jesus pelo livre arbítrio ou estava
predestinado a tal?
Como disse: a resposta não é explicita sobre se
Judas estava “amarrado” histórica e situacionalmente ao destino da
traição, embora fale da indução diabólica para tal vilania.
Também no texto – e isso é o importante – o que
sobressai é a responsabilização do ser humano pelas consequências de suas
próprias intenções e ações.
A oração que fica é que o próprio Senhor nos livre
de trair àquele que nos chamou e confiou o ministério e que nos ama até o fim –
apesar do que somos (Jo 13:1).
†† Aproveito para sugerir alguns outros textos que escrevi – e publiquei aqui no Escrevinhando – sobre os temas da Predestinação e do Livre Arbítrio:
# TUDO ME É PERMITIDO –
estudo dos textos de 1Co 6:12 e 10:23 – link
# EU SOU LIVRE – relato da experiência do Coral da Cristolândia cantando em Aracaju – link
# A SOBERANIA DE DEUS – uma análise do Rm 9:20-24 – link
# BATISTAS,CALVINISTAS e a SOBERANIA DE DEUS – estudo sobre a relação entre os princípios batistas e as doutrinas calvinistas – link