Esta semana estive pensando nas palavras de Paulo aos cristãos de Corinto: Tudo me é permitido (ditas duas vezes em 1Co 6:12 e 10:23). Na verdade não sei se as ideias apostólicas seguiram na mesma linha que as minhas, quando escreveu aquelas palavras; mas não tenho dúvida sobre a Palavra de Deus contida no texto bíblico que é rica o suficiente para me permitir navegar em sua profundidade explorando novos (ou não) significados e extensões.
Então me deixe dá vazão um pouco àquilo que foi trazido a minha mente diante das palavras bíblicas. Antes, contudo, quero reconhecer que Paulo sinceramente não propôs aos seguidores do evangelho uma vida de anarquia ou anomia ou, com diriam os franceses, um completo laissez-faire. Entendo que as implicações são outras, o que está em jogo é o conceito de liberdade cristã e suas reais amarrações.
Por que tudo me é permitido não vivo comprimido ou vigiado por um Deus grande de atitude sempre policialesca como um big brother. Eu sei que o olho de Deus tudo vê (Davi atestou isso no Sl 139), mas tal verdade não quer dizer que sou tolhido pela divindade. Diante de toda onisciência ainda me é permitido dá as costas a Deus.
Também não me deparo com uma existência absolutamente pré-determinada e não há regras arbitrárias pré-fixadas. Há sim liberdades. E também sei que a colheita é inevitável (o mesmo Paulo asseverou isso em Gl 6:7), mas, por dispor de permissão, a vida não é exclusivo produto ou resultado do presente como uma sucessão inexorável de eventos. Diante da passagem do tempo humano me é cabível reinventá-la e propor novos desdobramentos.
Ainda nesta linha, não estou sob uma ditadura da sociedade, da cultura ou, num vocabulário inglês, do establishment – embora reconheça sua força de coerção. Sim, ainda sei que Jesus me quer no meio deste mundo (posso compreender isso a partir de Jo 17:15), mas com certeza me é possível desafiar e contrapor os conceitos e preconceitos deste tempo, por mais arraigados que eles estejam.
É verdade que em todos os casos citados, devo assumir as consequências e correr todos os riscos daí advindos, porém nada anulará a verdade que tudo me é permitido. Mas, vamos adiante mais um pouco nesta permissão e liberdade, e com isso quero me referir a dois desdobramentos destes conceitos:
Um. Eu faço minhas escolhas. Sendo obviamente livre e seguramente responsável pelas escolhas da minha vida, eu as tomo como bem entender, mas não sou sequer dominado por elas. Dois. Eu teço minha história. Minhas decisões podem ser coerentes ou não, tomada de modo passivo ou ativo, mas também não estou arrastado pela linha inquebrável do tempo.
Tudo me é permitido. Ainda sou livre e toda possibilidade está aberta para mim (tenho que citar Jo 8:36). E hoje creio que o apóstolo Paulo também se compreendia assim – ele era livre – e, embora não se sentisse obrigado a nada, entendeu que algumas coisas nem lhe eram convenientes nem jamais podiam dominá-lo. Então ele fez a escolha livre que pessoal e intimamente julgou apropriada: "esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus" (leia em Fl 3:13-14).
E quanto a mim mesmo, como encarnarei minha permissão cristã? Que escolhas farei? Como tecerei minha história?
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