sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

UM CORDEIRO PARA OFERTA

 


     0 episódio do sacrifício de Abraão no Monte Moriá (narrado no capítulo 22 do livro do Gênesis) é um dos mais marcantes e impressionantes na história do patriarca.

A narrativa começa com a declaração de que o próprio Deus decidiu aplicar um teste em Abraão. 

Não é todo momento que Deus quer esmiuçar de que se constitui o coração humano.  Mas, quando isso ocorre, também não deve ser motivo de susto ou medo.  Moisés reconhecia que o objetivo do teste era para impedir o pecado (confira Êx 20:20).  E um milênio depois do patriarca, Davi suplicou por passar em um teste desse (no Sl 26:2).

 

Voltemos nosso olhar para a narrativa no Gêneses, ali a instrução é direta:

– Tome seu filho e o ofereça em holocausto.

 

Na manhã seguinte, Abraão se levantou cedo – para obedecer é melhor começar logo – pegou os apetrechos necessários, chamou Isaque, seu filho, e seguiu em direção a Moriá.  Três dias de viagem.

 

Durante a caminhada, o garoto perguntava:

– Aqui estão fogo e lenha para o sacrifício.  Mas onde está o animal?

 

A resposta na ponta da língua era: “Deus vai providenciar”.  Mas parece que estou sentindo o coração, alma e mente do velho patriarca sendo rasgados.  Dilacerados.  A questão do filho se agigantava!  Atormentava!

Recuar não era opção.  Detalhar para o garoto só aumentaria a dor.  Procurar atalhos, descaminharia para desobediência.  

 

 Onde está o animal?  Por que não trouxemos aquela ovelhinha do nosso rebanho que a cevamos para a oferta?  Ela viajaria calma e docilmente para ser imolada!

 

E a prova da fé foi sendo forjada na solidão da obediência.  É que os embates travados nas profundezas silenciosas da alma são os que produzem as mais significativas vitórias.  Elas aquietam o coração (assim cantou o salmista no Sl 42:11).

 

Já no lugar indicado: um altar foi construído, a lenha amarrada em cima e o filho colocado como oferta.

 

E no momento fatal, a intervenção divina indicou que Abraão passara no teste:

 Não toque no garoto.  Estou vendo que sua fé é em mim e não nas minhas bênçãos!

 

Então Abraão olhou e percebeu que estava ali um carneiro montês embaraçado pelos chifres.  A força bruta do animal selvagem estava domada para servir de oferta substitutiva.  Oferta providenciada pelo próprio Deus. 

Deus não queria Isaque – ele era dádiva graciosa ao patriarca.  Também não queria uma ovelha de rebanho.  Ele queria Abraão, subjugado em sua alma depois de travada a luta e provada a obediência – como um cordeiro bravo preso em seus chifres, vencido e vulnerável.

O patriarca era a oferta, e ele estava agora ali no altar naquele cordeiro.  Um cordeiro agora recebido como dádiva e providência do próprio Deus e a ele devolvido, como oferta de consagração de uma vida completamente embaraçada no altar.

(Mais tarde o Senhor iria estabelecer que oferta igual fosse apresentada para consagração dos sacerdotes a oficiar diante dele – vá a Lv 8:22).

 

E, finalmente, tendo feito a (auto-)oferta no altar de Moriá ao Javé-Jiré, que tudo providencia, Abraão voltou para a vida.

 

(Na imagem lá em cima, um frame de um carneiro montês do Monte Moriá
– crédito:
wikipédia.com)

 

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