Estive
ocupado em tarefas domésticas e, enquanto as desenvolvia, algumas
migalhas de lembranças começaram a se intrometer em minhas ideias.
Deixei-as germinar. Lembrei um estudo que ouvi quando ainda
seminarista no qual uma mestra atualizava a figuração paulina dos
diversos vasos que servem de utensílios em uma casa: vasos de honra
e vasos de desonra (o texto seria Rm 9:20-21). Na atualização
proposta, em vez de se referir aos vasos ela se referiu aos diversos
panos de uma casa.
Assim,
mesmo não conseguindo reunir mais que fragmentos das lembranças, ou
já nem podendo diferenciar entre lembranças e elaboração
posterior (nem o nome da professora eu tenho mais certeza, daí, para
evitar imprecisão, devo propositadamente omitir), vou tentar
compartilhar algo sobre panos de honra.
O
texto bíblico diz: "Ou
não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um
vaso para honra e outro para desonra?".
Quem decide para qual objetivo cada vaso será utilizado é o oleiro
– ou a dona da casa.
Da
mesma forma, em qualquer casa ainda hoje há diversos panos
confeccionados para distintas utilizações. Todo enxoval de uma
casa deve conter panos de uso comum ou apenas pessoal: toalhas,
lençóis, panos de prato, flanelas, panos de chão, colchas,
guardanapos, fronhas e por aí vai...
Além
das visíveis diferenças de tamanho e proporção, os distintos usos
dos panos de uma casa nos ajudam a compreender melhor os ensinamentos
bíblicos. E para não precisar citar todos tipos e usos, podemos
tomar apenas dois como exemplo: há panos de prato e panos de chão.
Então,
atentando para este dois panos em casa, tiremos lições.
Primeiro.
Em geral a matéria prima é a mesma: algodão. Do mesmo algodão,
é possível fazer diversos tipos de panos – e mais roupas
delicadas ou grosseiras e outras tantas aplicações. Mas note, já
na confecção de cada tecido, mesmo a partir de um mesmo algodão, o
pano de prato e o de chão são diferenciados: a delicadeza da trama
dos tecidos e os detalhes de acabamento sugerem qual destinação
cada um terá.
O
texto bíblico aqui quer enfatizar a soberania de Deus em fazer e
escolher tudo e todos a partir de sua vontade absoluta. Deus escolhe
fazer um pano mais fino e outro mais rústico, e ninguém tem nem o
direito nem a prerrogativa de questioná-lo. Fomos feitos por Deus
para sermos exatamente conforme a sua vontade.
No
nosso caso, a Palavra do Tecelão nos garante que fomos criados para
a glória de Deus (leia a constatação profética em Is 43:7). Deus
nos teceu caprichada e cuidadosamente, cheio de amor e boa vontade,
para sermos panos de honra e assim habitarmos em lugar de destaque em
sua casa e o exaltarmos em sua glória.
Segundo.
Mesmo sendo feitos para a honra, o desgaste e as intempéries da
vida e do uso acabam por indicar à dona da casa que um tecido de
origem mais nobre deve ser desonrado e rebaixado à condição de
pano de chão. E o que tinha sido criado para ser uma toalha ou uma
colcha agora é retalhado para servir como pano de chão e passe a
cumprir tal papel.
É
fácil fazer a associação com o sal que para nada mais presta e só
lhe resta o destino de ser pisado pelos homens (Jesus usou esta
ilustração em Mt 5:13). Assim, o pano é rebaixado às funções
desonrosas de limpar chão de banheiro ou de outras imundícies
quaisquer numa casa, conforme o uso e a necessidade da própria dona
de casa.
E
novamente olhando para o nosso caso, mesmo vivendo no mais desonroso
que um ser humano possa chegar, o milagre pode acontecer (considere a
parábola do filho pródigo em Lc 15). A dona de casa – na
parábola, o Pai – pode nos receber de volta em casa e devolver à
situação de honra que perdemos e nos restaurar à destinação para
o qual fomos criados.
Deus
nos criou para sermos panos de honra. O pecado nos despiu e
envergonhou, condenando-nos ao chão e à desonra. Mas o próprio
Senhor, por sua misericórdia e poder sempre está disposto a
manifestar sua graça sobre nós devolvendo a honra de vivermos para
sua glória.