sexta-feira, 11 de maio de 2018

EU JÁ FIZ MINHA ESCOLHA – 1ª parte


Antes de refletir um pouco sobre a declaração de Josué e suas implicações para minha vida e da minha casa e igreja, sou levado a constatar que, em geral, a expressão bíblica é usada pelo nosso povo num sentido distinto daquele em que foi proferido inicialmente em Siquém.
Do jeito que ouvimos hoje a formulação: "eu e a minha casa serviremos ao Senhor" como jargão na boca, em adesivos, camisas ou em outros souvenir e badulaques, beira a uma formulação de magia (algo como wicca de crente!) usada para proferir promessa ou profecia autodeclarada. É como se ao pronunciar as palavras sagradas, Deus – e o próprio universo – estivesse sendo submetido à obrigação de agregar todos da minha casa à minha fé.
Parece absurdo, mas tem sido assim... contudo, deixemos a crítica de lado, e vamos ao texto, sua análise e às suas lições, pois é o que realmente nos interessa.
Dando-me à liberdade de uma tradução mais livre do verso bíblico eu diria: Eu já fiz a minha escolha. Eu e os da minha casa nos comprometemos em servir ao Senhor. Lendo o contexto, esta opção de tradução se esclarece melhor. Vejamos.
O grande Josué tinha consciência que estava no final de sua jornada, e por isso convocou os chefes nacionais para as últimas tratativas (confira Js 23:14). E o texto diz que líderes, juízes e oficiais de Israel compareceram diante de Deus (no primeiro verso do capítulo 24).
Todos estavam ali não para ouvir um velho a murmurar ou resmungar: no meu tempo... pelo contrário, eram os anos de experiência de Josué com o seu Deus que lhe conferiam os requisitos indispensáveis para conduzir o povo na presença do Senhor e desafiar a cada um deles a uma tomada de posição. Afinal, Deus estaria ali em Siquém. Josué o sabia. Israel também.
O discurso daquele dia teve como ponto de partida as poderosas ações de Deus na história do povo. Esta é uma prática que se tornaria padrão entre os homens e mulheres de Deus na Bíblia. Josué aprendeu desta maneira com seu mentor Moisés (atente Dt 32:7) e, depois dele, a história foi repetida em canções e serviu de base para a palavra profética (por exemplo o Sl 136 e Ez 20). E no NT Estevão usou o mesmo método (veja At 7).
A verdade é que nosso Deus sempre intervém e age na história dos seus, isso é graça e faz toda a diferença! Josué sabia disso por experiência própria.
Por ora, preciso confessar que, em nossos ajuntamentos, sinto falta de narrações que se inspirem na Revelação e transpirem para a história e não que vagueiem de um extremo da caatinga argumentativa para o aguaceiro da experiência. Aprendi que Deus está é no encontro da viração do dia no jardim (como é significativa a descrição deste encontro em Gn 3:8).
Prosseguindo com o contexto. Foi exatamente a experiência de Josué em liderar o povo que indicou que algumas escolhas fundamentais na vida não podem ser impostas de maneira arbitrária e autoritária. Por isso então ele apontou caminhos, deu opções. Com base na história, o povo deveria escolher: o deus dos pais, o deus da terra, ou Deus da história.
Ainda hoje ainda uma escolha deve ser feita. Diante de nós está a necessidade de escolhermos entre o deus estável da tradição (seja qual a for configuração religiosa ou espiritual com a qual ele se apresente), o deus sedutor da modernidade (com toda sorte de promessas ou experiências que descortinem), ou o Emanuel, o Deus que se fez história e habitou entre nós, cheio de graça e verdade (compare Mt 1:23 com Jo 1:14).
É neste ponto que a liderança de Josué se destaca mais uma vez. Antes que qualquer um dos chefes de família dissesse algo, ele tomou a dianteira e afirmou com convicção: Eu já fiz a minha escolha. Eu e os da minha casa nos comprometemos em servir ao Senhor. Ele não rogou bênção ou maldição (até porque já as tinha ouvido da boca de Moisés como ainda hoje eu leio em Dt 11:26-28). Também não apelou para acalantos espirituais ou bradou impropérios. Ele tomou uma decisão baseada no conhecimento que tinha da revelação de Deus e sua atuação na história de Israel.
Continua ...
(Da revista "EDUCADOR" – ano XXII – nº 85 – 2T14)

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