Mesmo
já tendo passado o momento das celebrações da Páscoa, volto a refletir sobre o
tema da cruz. O que me trouxe de volta hoje a ele foram as palavras do
apóstolo Pedro em seu discurso na manhã do Pentecostes: "Este homem, vocês o mataram, pregando-o na
cruz" (leia todo o discurso em At 2 – a citação é do verso 23).
A
acusação é forte e desafiadora (mesmo tendo em vista a Ceia memorial)! As
palavras proferidas há cerca de dois mil anos ainda soam como uma sentença
inapelável e de uma crua realidade: não foram os judeus, nem foram os romanos,
eu matei Jesus!
Com
este peso na alma é que me volto às páginas sagradas para ser confrontado com a
certeza de que sou um pecador. Não somente por que sou herdeiro do pecado
original (como disse Paulo em Rm 5:12), ou por que viva entre pecadores (como
se sentiu Isaías em Is 6:5). Sou pecador por que eu pequei contra os céus e contra Deus (veja a ênfase na
primeira pessoa na confissão do filho pródigo em Lc 15:21). É por isso
que eu matei Jesus. Foi meu pecado que o levou ao madeiro e por minhas
culpas eternas foi sentenciado.
É claro
que não posso deixar de falar sobre o amor de Cristo que escolheu assumir a
minha culpa de sangue livrando-me da condenação. Mas isso só torna mais
relevante a minha sentença de que levei aquele santo à crucificação.
E tem
mais. O autor aos Hebreus me acusa mais ainda de que torno a cravar Jesus
na cruz quando me enlameio e me envolvo em pecados. Sou novamente réu
cada vez que desprezo a graça e me entrego ao pecado sujeitando-o à vergonha
pública pelas minhas faltas e pecados (leia com cuidado Hb 6:4-6).
Contudo,
glória ao Senhor que a história não acaba com a acusação apostólica.
Embora o pecado tenha sido real e tenha efetivamente provocado o Gólgota, mas
Deus com isso provou que seu amor é maior que minha culpa, livrando-me dela e
resgatando-me da morte (veja o tamanho da graça em Rm 5:8-11).
Diante
desta acusação que pesa sobre mim e a grata constatação de que, mesmo tendo
abundado em pecado, superabundou a graça (expressão de Paulo em Rm 5:20), que
devo fazer? Leio na Bíblia duas respostas: a primeira vem do sábio que
diz para assumir diante de Deus o pecado – confissão – e abandonar esta atitude
– arrependimento (em Pv 28:13); e a segunda sobre glorificar a Deus porque,
apesar do pecado, em todos as coisas somos mais que vencedores e isto somente
por meio daquele que nos amou (em Rm 8:37). Vivamos para sua glória!
(Publicação original em ibsolnascente.blospot.com em 16/04/2010. A imagem lá em cima é óleo sobre madeira
pintada pelo alemão Matthias Grunewald no século XVI e atualmente encontra-se Museu
de Unterlinden – França)