terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

ESCURIDÃO E BRILHO

  


Encontrei no Instagram @hagar_ohorrivel o seguinte diálogo:

 

— Por que Deus criou a escuridão, papai?

— Não sei...  Talvez para podermos ver melhor as estrelas?

 

Brilhante!

 

Antes.  Deixe-me fazer uma confissão.  Aprendi a gostar de quadrinhos ainda bem pequeno lendo Maurício de Souza – brasileiro criador dos planos de Cebolinha e de Chico Bento e sua turma.

Depois vieram outros: o argentino Quino com sua Mafalda, os franceses Uderzo e Goscinny com Asterix e o americano Dik Browne com Hagar, entre outros.

Os gibis são universais e têm o poder de se mostrarem humanos – nos mostrarmos com somos humanos.

 

Aqui volto a tirinha de Hagar, o horrível.

 

— Por que Deus criou a escuridão?

 

Na noite escandinava, surge a pergunta das motivações de Deus em deixar algo escondido, obscuro, disfarçado da penumbra.

E ouço ecoar o texto sagrado cristão.

Eu leio ali que Deus é luz e que nele não há trevas nenhuma, mas também que, para sua criação mortal, tal luz é inacessível (em 1Jo 1:5 e em 1Tm 6:16).

Então, por quê?

A resposta de Hagar conduz a conversa na direção certa.  A teologia do guerreiro viking, apesar de ele ser bruto, é sensível o bastante para captar a essência da verdade.

 

— Para ver as estrelas!

 

A questão não é o que gera a noite, mas como a graça pode transformar as trevas em anúncio da graça.

A escuridão, as sombras, as trevas não são frutos das divinas mãos criativas.  Elas não são, elas faltam.  Elas não acontecem, elas carecem.

Mas é em meio à escuridão que posso enxergar melhor os pequenos brilhos das estrelas.  Os lampejos de um Deus que graciosamente nos toca são percebidos em meio a ausência.

 

Deus não criou nem a escuridão, nem o vazio.  Mas é exatamente ali que as estrelas podem ser vistas.  É de noite que elas nos fascinam.

 

Entendi, Hagar.  Deus está cintilando mesmo em meio à minha noite.

 

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