sexta-feira, 11 de setembro de 2020

LEMBRE-SE ANTES

 

Há certa poesia melancólica no final do livro de Eclesiastes (Qohelet)

Na verdade, todo esse livro do Antigo Testamento destila um sentimento de frustração e nulidade. — "Tudo é vaidade e correr atrás do vento" – esse é o mote que percorre todo esse escrito sapiencial hebreu.

Mas, no final do seu texto, o pregador deixa seu desencanto ser tocado pela beleza do entardecer e faz uma descrição do ocaso da vida, pintando-o com belas cores do poente.

No texto, o convite à alegria da juventude (Ec 11:9) contrapõe-se aos dias nos quais não restam deleites (Ec 12:1).  E segue-se a descrição desses dias, completamente carregada de melancólica poesia:

 

Reavive em sua mente o seu Criador
Enquanto você é jovem.

Antes que cheguem os dias e os anos nos quais venha a confessar
não ter mais com o que se satisfazer.

Antes que a luz do sol se obscureça.
E lua e estrelas sejam encobertas por nuvens,
mesmo depois das primeiras chuvas.

Pois vão chegar dias em que até os guardiões da casa vão tremer
E os varões vão se encurvar.

Dias nos quais os raros moedores cessarão
E pelas turvas janelas já não se verá mais o brilho

Dias quando estarão cerrados os portais externos,
Quando será difícil ouvir o ranger das moendas
E até o assobio dos pássaros parecerá silêncio.

Dias em que qualquer altura o assustará como perigos nas ruas.
Dias em que o gafanhoto será um fardo.

Quando já não se despertar, nem pulsar o desejo.

 

Reavive em sua mente o seu Criador
Enquanto você é jovem.

 

Porque vai chegar o tempo do homem voltar para a casa eterna.
É só restarão dele as lágrimas das carpideiras errantes.

 

Lembre-se daquele que o criou antes que a vida vá se pondo como um entardecer.  Antes que olhos, braços, dentes, ouvidos, passos, e desejos se esvaiam.  Enquanto há alegria e folguedo na vida, lembre-se daquele que te fez brotar em pulsos de vida.

Lembre-se agora.

 

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