Há certa poesia melancólica no final do livro de Eclesiastes (Qohelet)
Na verdade, todo esse livro do Antigo Testamento destila um sentimento de frustração e nulidade. — "Tudo é vaidade e correr atrás do vento" – esse é o mote que percorre todo esse escrito sapiencial hebreu.
Mas, no final do seu texto, o pregador deixa seu desencanto ser tocado pela beleza do entardecer e faz uma descrição do ocaso da vida, pintando-o com belas cores do poente.
No texto, o convite à alegria da juventude (Ec 11:9) contrapõe-se aos dias nos quais não restam deleites (Ec 12:1). E segue-se a descrição desses dias, completamente carregada de melancólica poesia:
Reavive em sua mente o seu Criador
Enquanto você é jovem.
Antes que cheguem os dias e os anos nos
quais venha a confessar
não ter mais com o que se satisfazer.
Antes que a luz do sol se obscureça.
E lua e estrelas sejam encobertas por nuvens,
mesmo depois das primeiras chuvas.
Pois vão chegar dias em que até os guardiões
da casa vão tremer
E os varões vão se encurvar.
Dias nos quais os raros moedores cessarão
E pelas turvas janelas já não se verá mais o brilho
Dias quando estarão cerrados os portais
externos,
Quando será difícil ouvir o ranger das moendas
E até o assobio dos pássaros parecerá silêncio.
Dias em que qualquer altura o assustará como
perigos nas ruas.
Dias em que o gafanhoto será um fardo.
Quando já não se despertar, nem pulsar o desejo.
Reavive em sua mente o seu Criador
Enquanto você é jovem.
Porque vai chegar o tempo do homem voltar
para a casa eterna.
É só restarão dele as lágrimas das carpideiras errantes.
Lembre-se daquele que o criou antes que a vida vá se pondo como um entardecer. Antes que olhos, braços, dentes, ouvidos, passos, e desejos se esvaiam. Enquanto há alegria e folguedo na vida, lembre-se daquele que te fez brotar em pulsos de vida.
Lembre-se agora.
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