Voltando à reflexão sobre a
liberdade de escolha que nos é dada pela graça, e as implicações dela, sou
levado ao questionamento óbvio: se sou livre de modo absoluto, então nada me
impede de viver como quiser? Posso me submeter exclusivamente às minhas vontades
e caprichos? Posso me entregar a uma vida desregrada? Posso viver e deixar a
vida me levar de qualquer jeito?
Em resposta a estes
questionamentos, Paulo propõe se deter um pouco mais no tema – o que precisa
ser aqui considerado (acompanhe em Rm 6:15).
Sim, é verdade que pela liberdade
que me vem da graça sou livre para fazer qualquer escolha, mas como as
consequências e implicações das minhas escolhas são inevitáveis, então o certo
é usar do meu direito de fazer escolhas sempre de maneira sábia e coerente.
E para completar, Paulo ainda
observa que mesmo já estando livres do domínio da lei e vivendo pela graça
ainda nos restam impulsos carnais que insistem em bagunçar nossa capacidade de
escolher.
A cerca dos impulsos carnais dos quais
leio em Rm 6:19, creio que a expressão na língua original usada pelo apóstolo
pode bem ser traduzida com fraqueza ou doença.
Tais impulsos são instintos ou inclinações que naturalmente não são
ruins, mas que, por estarem infectados ainda pelo pecado, tornam-se perniciosos. Deixe-me dar três exemplos simples que ajudam
a entender o que o texto está nos dizendo.
Primeiro. A fome é um instinto básico de todo ser vivo
– inclusive de nós humanos. Mas quando o
"olho é maior que a boca" chamamos isso de gula – que é pecado. E acrescente-se diabetes, hipertensão e
outros males que são agravados por uma alimentação inadequada.
Outro. O descanso é necessário. Ninguém vive em estado de alerta eterno. Só que alguns agem de maneira inconsequente
quanto ao descanso – isto é preguiça – que também é pecado e insensatez.
E ainda outro. A intimidade sexual faz parte do conjunto das
bênçãos com as quais Deus dotou o primeiro casal ainda no Éden. É, contudo, desnecessário listar a quantidade
de variações em que este instinto básico e benéfico tem assumido, obscurecendo
o corpo e alma humana.
Assim, acompanhando o raciocínio
apostólico devo concordar com a absoluta liberdade advinda da graça. Mas também não é possível deixar de considerar
que nesta liberdade tenho a opção de escolher os caminhos que percorrerei na
minha vida, porém, uma vez tendo escolhido o caminho, não posso mudar o destino
que ele me conduz.
Ora, e se acrescentar a realidade
que todas as minhas escolhas ainda estão terrivelmente influenciadas pelas
inclinações carnais que insistem em perambular pelos corredores de minha alma,
então não tenho com descuidar do modo consciente e responsável que minha
liberdade tem para fazer escolhas.
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