Quintus Septimius Florens Tertullianus, ou
simplesmente Tertuliano, nasceu provavelmente no ano 160 em Cartago no norte da
África; filho de uma abastada família pagã – o pai era um centurião proconsular
romano. Contrastando com a abundância
dos seus escritos (trinta e um ao todo que se conservaram) pouco ou quase nada
se sabe sobre sua vida. Sobre sua
juventude ele mesmo confessa que foi pecadora e intelligenti pauca, mas as virtudes cristãs já lhe haviam impressionado. Recebeu uma formação intelectual invejável em
Roma e lá exerceu a profissão de advogado.
E, como muitos intelectuais contemporâneos seus, deveria dominar
fluentemente o grego e o latim.
Por
volta de 195 converteu-se ao cristianismo.
Deixou então Roma e voltou para Cartago de onde não mudaria mais de
residência. Jerônimo o considerou como
sacerdote, mas esta é a única referência que temos do fato, pois até o próprio
Tertuliano se refere a si mesmo como leigo, logo não podemos ter certeza alguma
quanto a sua ordenação clerical. Mas o
rigor cristão não foi suficiente para saciar sua alma, então aderiu ao
montanismo em 207. Não se sabe
exatamente como foi seu contato com Montano e J.L. Gonzalez chega afirmar que é
impossível dizer por que Tertuliano se fez montanista. Mas a verdade é que deste período que provêm
os mais apaixonados dos seus escritos, quando ele desce a minúcias e detalhes
na defesa de seus pontos de vista. Mais
tarde rompeu com o montanismo e fundou sua própria seita – os tertulianistas –
e mais ou menos em 220 encontramos seus últimos escritos o que leva-nos a crer
que teria falecido em Cartago pouco depois deste ano, ou nele mesmo.
Seu
primeiro escrito – Ad Nationes –
apareceu por volta do ano 197 e pode ser considerado como um esboço do que
viria a ser o seu Apologeticum, que
foi escrito provavelmente no final do mesmo ano ou mais propriamente no ano
seguinte. Sem dúvida alguma o Apologeticum é a obra prima de
Tertuliano e nela ele se revela por inteiro.
O texto foi originalmente dirigido aos magistrado romanos – o senado –
mas foi rapidamente traduzido para o grego.
Eusébio de Cesaréia fez freqüentes alusões a ele na sua História
Eclesiástica. Em resumo as suas obras
podem ser divididas em três grupos: a) os escritos apologéticos, nos quais fez
a defesa do cristianismo; b) os dogmáticos, nos quais refuta as heresias e c)
os práticos-ascéticos, nos quais versa sobre a moral cristã.
Com
toda certeza Tertuliano foi o mais fecundo e rico dos pais latinos da
igreja. Ele foi mestre em língua mas não
se limitou às possibilidades que a língua lhe oferecia. Como ele supercarregou seus escritos da
emoção e do arrebatamento espiritual que freqüentemente sentia, ele abandonou o
acento romano e utilizou o sotaque africano do latim criando palavras novas
quando julgava necessário, desprezando a sintaxe quando esta não lhe era
conveniente e utilizando-se constantemente de todos os seus recursos: ora a
retórica ou a sofística clássica, ora a chicana e a casuística populares. A. Harmann assim se refere ao Tertuliano
escritor: “Este artífice do verbo triturou, renovou, adaptou, enriqueceu a
língua latina. Forjou um vocabulário
para exprimir as verdades da fé. (...)
Ele é o desespero dos tradutores”.
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