terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Tertuliano de Cartago

Quintus Septimius Florens Tertullianus, ou simplesmente Tertuliano, nasceu provavelmente no ano 160 em Cartago no norte da África; filho de uma abastada família pagã – o pai era um centurião proconsular romano.  Contrastando com a abundância dos seus escritos (trinta e um ao todo que se conservaram) pouco ou quase nada se sabe sobre sua vida.  Sobre sua juventude ele mesmo confessa que foi pecadora e intelligenti pauca, mas as virtudes cristãs já lhe haviam impressionado.  Recebeu uma formação intelectual invejável em Roma e lá exerceu a profissão de advogado.  E, como muitos intelectuais contemporâneos seus, deveria dominar fluentemente o grego e o latim.
Por volta de 195 converteu-se ao cristianismo.  Deixou então Roma e voltou para Cartago de onde não mudaria mais de residência.  Jerônimo o considerou como sacerdote, mas esta é a única referência que temos do fato, pois até o próprio Tertuliano se refere a si mesmo como leigo, logo não podemos ter certeza alguma quanto a sua ordenação clerical.  Mas o rigor cristão não foi suficiente para saciar sua alma, então aderiu ao montanismo em 207.  Não se sabe exatamente como foi seu contato com Montano e J.L. Gonzalez chega afirmar que é impossível dizer por que Tertuliano se fez montanista.  Mas a verdade é que deste período que provêm os mais apaixonados dos seus escritos, quando ele desce a minúcias e detalhes na defesa de seus pontos de vista.  Mais tarde rompeu com o montanismo e fundou sua própria seita – os tertulianistas – e mais ou menos em 220 encontramos seus últimos escritos o que leva-nos a crer que teria falecido em Cartago pouco depois deste ano, ou nele mesmo.
Seu primeiro escrito – Ad Nationes – apareceu por volta do ano 197 e pode ser considerado como um esboço do que viria a ser o seu Apologeticum, que foi escrito provavelmente no final do mesmo ano ou mais propriamente no ano seguinte.  Sem dúvida alguma o Apologeticum é a obra prima de Tertuliano e nela ele se revela por inteiro.  O texto foi originalmente dirigido aos magistrado romanos – o senado – mas foi rapidamente traduzido para o grego.  Eusébio de Cesaréia fez freqüentes alusões a ele na sua História Eclesiástica.  Em resumo as suas obras podem ser divididas em três grupos: a) os escritos apologéticos, nos quais fez a defesa do cristianismo; b) os dogmáticos, nos quais refuta as heresias e c) os práticos-ascéticos, nos quais versa sobre a moral cristã.
Com toda certeza Tertuliano foi o mais fecundo e rico dos pais latinos da igreja.  Ele foi mestre em língua mas não se limitou às possibilidades que a língua lhe oferecia.  Como ele supercarregou seus escritos da emoção e do arrebatamento espiritual que freqüentemente sentia, ele abandonou o acento romano e utilizou o sotaque africano do latim criando palavras novas quando julgava necessário, desprezando a sintaxe quando esta não lhe era conveniente e utilizando-se constantemente de todos os seus recursos: ora a retórica ou a sofística clássica, ora a chicana e a casuística populares.  A. Harmann assim se refere ao Tertuliano escritor: “Este artífice do verbo triturou, renovou, adaptou, enriqueceu a língua latina.  Forjou um vocabulário para exprimir as verdades da fé.  (...) Ele é o desespero dos tradutores”.

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