Na
pequena epístola a Filemon, Paulo se apresenta unicamente como prisioneiro:
para o objetivo que tinha em mente pouco importava a autoridade do título de
apóstolo. Ele tinha uma oportunidade
ímpar de colocar em prática seu evangelho e não iria perder a chance.
Alguns
comentaristas vêem neste texto uma acomodação de Paulo diante da escravidão ou
até um desinteresse em enfrentar o problema de frente. Isto devido ao fato de que, segundo os mesmos
comentaristas, o apóstolo simplesmente ter mandado de volta o escravo à casa de
seu senhor. Mas é significativo notar
que Paulo não escreve ao escravo pedindo que aceite a sua situação com
resignação, mas escreve ao senhor pedindo que este receba de volta um escravo
que se tornou irmão.
Paulo
teria muitas maneiras mais eficazes para resolver o problema de Onésimo. Talvez se tivesse comprado a sua liberdade
encerraria o caso: qualquer um faria isso.
Concordo com J. Comblin quando diz que “Paulo quer mostrar na casa de
Filemon que um novo mundo fundado na ͗αγάπη não
somente é possível mas é uma realidade.
Ele não estava interessado numa libertação do tipo da ocorrida da
América, e em especial no Brasil, no século XIX mas em propor e colocar em
prática a força revolucionária do amor.
Porém
não se deve confundir aqui o conceito contemporâneo de amor – que não passa de
um disposição subjetiva do indivíduo – com o que Paulo realmente tinha em
mente: ele vai além. Amor não é simples
disposição do sujeito, mas um tipo de relacionamento social, tipo este
traduzido na solidariedade. Não é, pois,
de se estranhar que ele afirme que o cumprimento da Lei é a ͗αγάπη (Rm
13:10).
A
proposta de Paulo era que o evangelho seria capaz de destruir todo o sistema
social de dominação não pela força da lei (tanto que nem manda, mas pede), nem
pelo abandono dela, nem muito menos com uma revolução armada, mas que os cristãos
fossem capazes de inaugurar hic et nunc
um novo mundo, uma sociedade, um reino de liberdade regido pelo amor. Reino este onde não há mais δουλοι e sim διάκονοι e onde
o serviço é comum a todos e para todos e expresso através da colaboração
mútua. No Reino de Deus todos são livres
e todos são iguais (Gl 3:28).
Outro
detalhe é que o amor para Paulo não é uma coisa espontânea. Ele é produto da fé e do poder do Espírito
Santo de Deus. No evangelho pregado por
Paulo andam paralelamente o amor e o poder, sem imposições mas livres. No entanto sobre isso convém ouvir as
palavras de Agostinho de Hipona:
"Não
somos livres para escolher entre o amor e o poder, somente somos livres para
escolher as alianças entre eles: ou o poder do amor ou o amor ao poder"
(citado por Rubem Alves).
E Paulo
vai além: a irmandade cristã alcança o ser humano nas suas entranhas (σπλάγχα – v.
20) e na carne (σάρξ – v. 16), ou seja, atinge o
ser humano no seu interior e daí fluindo para todo o seu ser. Para Paulo o homem não é uma ilha, e o
evangelho que prega, portanto, atinge-o na sua comunidade produzindo nela novas
relações sociais baseadas na ͗αγάπη e na πίστιϛ no
Senhor Jesus (v. 5).
Você pode ler um ensaio completo sobre esse tema no livro ENSAIOS TEOLÓGICOS
Disponível no:
Clube de autores
amazon.com
Conheça também
outros livros:
TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
DE ADÃO ATÉ HOJE – Um estudo do Culto Cristão
PARÁBOLA DAS COISAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário