Penso que talvez um dos bagos mais necessários nos dias de hoje seja a paciência. Na versão tradicional em português, Almeida traduz como longanimidade – termo cuja pronúncia já parece nos desafiar a paciência, não só por que para sair certo precisa ser lido devagarzinho, como também por que sempre soa como interminável.
Comparando à fruta, paciência – ou longanimidade – é aquela característica própria de deixar um grude ou visgo na mão e na boca depois de se comer um bocado (sim, eu sei que a mangaba seria um exemplo mais marcante, mas vou continuar com minha jaca, que também tem visgo!). Quanto ao Espírito, é a capacidade de se esticar sem romper, esperar firme enquanto a tempestade passa, dobrar-se sem quebrar e depois de tudo ainda manter o gosto inconfundível na boca.
Como disse no início, penso que este bago da jaca do Espírito é indispensável para hoje. Não é preciso argumentar que vivemos num mundo caótico, corrido e estressado. Foi-se o tempo da conversa tranquila, do abraço demorado e das outras histórias. A gente vive com pressa, agenda lotada, e sempre cercado de pessoas esbaforidas. A vida está escoando por entre os dedos e o pior é que até nossas igrejas estão entrando neste círculo vicioso. Haja paciência!
Mas quem já pegou na jaca do Espírito um dos seus bagos sabe como a paciência gruda nos dedos e na boca. Realmente não é fácil se acabar com ela. Fica ali e não tem como disfarçar. Quem tem o Espírito de Deus está marcado pela longanimidade. E aqui eu tomo duas palavras de Paulo para entender melhor como isso acontece.
Em Rm 12:12 ele exorta a que sejamos pacientes na tribulação. Isso não é fácil, mas no Espírito acontece. Some-se a isso a previsão de Jesus de que no mundo as aflições são inevitáveis (confira Jo 16:33) então teremos o quadro de que diante das agruras pelas quais passamos: doenças do corpo e do espírito como gemidos doídos, ausência insistente dos queridos a gritar sua solidão, o mês que sobra no fim do salário cuja contabilidade insiste em não harmonizar necessidade com realização – além daquele chato que teima em sempre aparecer; diante disto só a paciência da jaca do Espírito para nos manter saudáveis e viçosos.
Mas há outra citação paulina. Em Rm 5:3-4 o apóstolo diz que toda esta aporrinhação pós-moderna, quando temperada com o amor de Deus derramado em nós, haverá de produzir uma paciência esperançosa que não nos decepciona. É no meio de todo este turbilhão da vida que me atravessa onde eu posso confiar naquele que deixa o Espírito como penhor da minha herança (importante a citação de Ef 1:13-14). Aqui sou realmente marcado pelo bago de jaca tornando-me inabalável.
Que eu e você sejamos inquebráveis diante desta vida louca, longânimes e pacientes como é próprio da jaca de Espírito que marca a alma e a história.
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