quinta-feira, 29 de março de 2018

NO JARDIM DO OLIVAL


Trago hoje em minha memória a cena de Jesus no Getsêmani. Ali era um jardim onde os judeus haviam plantado várias oliveiras e para lá iam em busca de um lugar tranquilo a fim de orar e encontrar a paz.
Lucas conta que Jesus também tinha este costume (confira Lc 22:39). Mas a cena em especial que os evangelistas narram com tendo acontecido pouco antes da páscoa parece se configurar de contrastes gritantes. Na companhia de alguns dos seus discípulos mais achegados, o Mestre foi àquele lugar para se encontrar com o Pai na perspectiva da hora fatal que se aproximava. Neste sentido, o jardim antecipava o calvário e se mostrava como um drama profundamente humano.
O contraste começa a se descortinar quando comparamos o ambiente do jardim com o estado de espírito de Jesus. Na Bíblia a oliveira é sempre símbolo de alegria e o seu florescer a certeza de que Deus renovou sua bênção para com o seu povo. Um bom exemplo é a história de Noé quando, ainda na arca, recebeu a pomba de volta com um ramo de oliveira e então soube que o castigo do dilúvio tinha acabado (leia em Gn 8:11).
Entre as oliveiras do jardim, o ânimo de Jesus era exatamente o oposto. Ele disse: "minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal" (Mt 26:38). Toda a beleza e alegria que o cercava não foram suficientes para mudar o abatimento e o desconsolo que se enraizava em sua alma. O homem Jesus estava triste no meio daquela alegria.
Mas isso tinha um porquê. Aquela agonia humana de Jesus era resultado de dois outros contrastes que ele vivenciava naquele instante.
O homem Jesus era a encarnação do Verbo – a segunda pessoa divina (leia Jo 1:14). Esta afirmação implica em dizer que o Cristo na eternidade experimentara a presença íntima, a companhia que interpenetra na Trindade. Ali o homem antecipava a solidão absoluta do martírio (atente para o grito na cruz em Mt 27:46). Este contraste atormentava Jesus. E nem os discípulos o acompanhavam (estavam dormindo com diz Mt 26:40 e 43).
Mas também o Deus-Filho era o criador da vida e a sua verdadeira essência (leia ainda Jo 1:4), e mais na eternidade ele se apresenta como o que era, o que é e o que há de vir, o Todo-poderoso (em Ap 1:8) – aquele que existe por si só. Naquele momento a certeza da morte, da limitação, da finitude assombrava Jesus em flagrante contradição com sua essência imortal. E ainda viu seu suor transformado em sangue (narrado por Lc 22:44).
Naquele jardim Jesus encarnou uma humanidade: amedrontada, solitária e mortal, coabitando com a sua divindade: poderosa, solidária e eterna.
Assim, trazendo em minha memória a cena de Jesus no Jardim do Olival, louvo a Deus porque ele passou por aquilo tudo por me amar e hoje a minha própria alma pode se sentir livre daquele terror. Glória a Cristo!
(Publicado originalmente em ibsolnascente.blogspot.com – 17/09/2010.
A imagem lá em cima eu achei no Wikimapa e retrata o local atualmente)

terça-feira, 27 de março de 2018

TITULUS – A sentença da cruz


João, ao narrar a crucificação de Jesus, informa que sobre a cruz, Pilatos mandou colar uma placa com a acusação que pesava sobre aquele condenado: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS (confira Jo 19:19).
É claro que a placa original o tempo cuidou de esquecer por aí… (embora teorias várias existam sobre sua atual localização – não vou perder tempo com isso). Mas aproveito para algumas observações e curiosidades sobre ela:

1. Todos os Evangelhos fazem, referência à placa. Mt 27:37 / Mc 15:26 /Lc 23:38 / Jo 19:19.
2. A placa ficou conhecida pelo termo latino titulus e Lucas observa que ela foi grafada em letras gregas, romanas e hebraicas.
3. Sobre o suplício da crucificação, sabemos que foi criado pelo persas, introduzido por Alexandre no Ocidente e bastante utilizado pelos romanos.
4. Também era costume romano indicar o crime do condenado para impingir terror e desestimular atos parecidos nos que assistiam a cena.
5. Conta-se que no ano 71 a.C. Pompeu teria mandado crucificar 200 mil escravos num único dia.
6. Por tradição, é comum ver crucifixos hoje em dia com uma plaquinha colada em cima com as letras latinas INRI. Esta é uma abreviatura da expressão em latim: Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum.
7. Para ilustração, aí vai a acusação com letras latinas, hebraicas e gregas (com grafia modernizada – ou atualizada):



sexta-feira, 23 de março de 2018

A 13ª EMENDA – um documentário


Estou cansado de viver todo dia sob ameaça de morte
Martin Luther King –
pastor e ativista negro norte-americano
citado em "A 13ª Emenda"
Atendendo a requisitos acadêmicos, assisti recentemente um documentário na televisão: "A 13ª Emenda" (em inglês 13th) produzido e dirigido por Ava DuVernay sobre o sistema prisional norte-americano com cerca de 1h40’. O documentário foi produzido pela Kandoo Films em 2016 e lançado no mesmo ano pela rede de streaming Netflix. Deixe-me compartilhar um pouco aqui sobre ele.
O filme apresenta fatos, dados estatísticos e depoimentos tendo como mote a 13ª emenda da Constituição Americana que diz: "não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado". Assim, a partir da análise desta lei e de suas consequências, as questões raciais, históricas, socioeconômicas e culturais são apresentadas como característica marcante da nação norte-americana.
A narrativa começa com as consequências da Guerra Civil Americana ainda no século XIX quando foi promulgada a 13ª emenda à Constituição Americana. E de lá para cá, como a brecha da lei sobre a condenação por crime foi usado sucessivamente para manter o status quo daqueles que detêm o poder em detrimento dos menos afortunados.
Seguindo a mesma linha, o documentário cita a película de 1915 "O Nascimento de uma Nação" (em inglês: The Birth of a Nation) onde o negro é apresentado como figura caricata, irresponsável, indolente e sempre disposto a ações violentas. E a constatação é direta: Materiais como estes influenciaram na formação cultural dos EUA como uma nação altamente racista e desigual.
A 13ª Emenda segue com vários depoimentos e análise em primeira pessoa com o registro de sucessivos episódios como o programa Law and Order do presidente R. Nixon nos anos 1970 e seus desdobramentos no mandato do presidente Reagan. O documentário declara: "O que era retórica em Nixon passou a ser literal em Reagan". E por consequência, passou a ocorrer um verdadeiro "genocídio em comunidades pobres e de cor".
Continua citando as ações do presidente B. Clinton e os casos da ativista Angela Y. Davis – perseguida pelo FBI por suas posições contrárias às políticas racistas. Mas principalmente como o caso das drogas foi usado para legitimar as ações policiais e a exploração e exclusão perpetradas sobre negros e latinos norte-americanos.
Também merece citação aqui a boa análise da atuação da ALEC na fomentação de políticas segregacionistas e de como tais políticas têm feito enriquecer a alguns brancos e suas corporações sobre a exploração do trabalho de negros e migrantes.
Antes que descreva mais spoiler a respeito do excelente documentário, permita-me alguma reflexão pessoal sobre a impressão que ele me passou.
Em primeiro lugar, confirmou o que já sabia que toda a propaganda norte-americana sobre eles serem um país livre, justo e exemplo para o mundo nada mais é que isso mesmo: propaganda. Os EUA não são justos e nem servem de paradigma de valores cristão para o mundo que eles pretendem liderar. As chagas, mazelas e dívidas sociais internais são gritantes e com certeza o Deus que eles dizem professar vai requer o sangue do todos os inocentes americanos que eles covardemente deixaram derramar.
Mas também o documentário me trouxe a refletir sobre o Brasil e o racismo daqui, muitas vezes disfarçado, mas que tem privado muitos de nossos irmãos brasileiros de vida digna – e o pior, em diversas vezes com a aquiescência e legitimação das igrejas cristãs!
Além de recomendar o filme como material obrigatório para reflexão e análise a todos que se entendem agentes do Reino de Deus nesse tempo, quero finalizar com o questionamento que inquieta no final do documentário:
Qual o valor da vida?


terça-feira, 20 de março de 2018

A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO

Segunda parte das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

Tendo observado a trajetória que trouxe a missão da igreja desde a sua chegada às terras latino-americanas até aos impasses de hoje quando tem que se decidir entre a ênfase na tradição ou a busca pela reconstrução – tendo principalmente que encontrar um meio termo entre as duas visões por compreender que ambas são indispensáveis a integridade da missão; Costas se lança à tarefa de analisar teologicamente a missão em si em seus vários aspectos.
Um primeiro aspecto a se observar é a missão como proclamação. A Palavra de Deus – onde se fundamenta toda a fé cristã – é em última análise a proclamação de Deus ao ser humano. E esta palavra de Deus afirma que “a fé segue a mensagem, e a mensagem ao anúncio” (Rm 10:17). Toda a missão cristã principia pela proclamação, pelo anúncio. João anunciou a chegada do Messias e Jesus a chegada do Reino; daí a igreja ficou incumbida da missão de proclamar o Reino e as boas novas de Deus, Senhor do Reino, ao ser humano. A igreja é enviada a pregar, o que faz dela um arauto do reino, mas esta proclamação é efetivamente dinâmica o compromete toda a vida e a vida toda da comunidade cristã e não somente o “profissional religioso”. Além do que esta é uma tarefa “contínua e ininterrupta” (p. 30).
Ainda sobre a missão como proclamação é bom observar que o conteúdo da proclamação pode ser compreendido em três sentidos: proclamação do nome de Deus; proclamação do reino de Deus e proclamação do momento de Deus. A proclamação cristã anuncia o nome de Deus – ou seja: ele mesmo (Lv 24:11) – como sendo a razão de ser todas as coisas. A proclamação cristã anuncia o reino de Deus como uma realidade escatológica que é chegada para julgar o ser humano. A proclamação cristã anuncia o momento de Deus como um chamado a conversão e a mudança de vida.
Neste ponto, uma frase de Costas nos chama a atenção:
Não parece haver nenhuma evidência bíblica ou teológica sólida para a nítida e clara distinção que se encontra nas teologias protestantes tradicionais entre conversão e santificação. Pelo contrário, a santificação parece estar implícita na conversão e a conversão na santificação (p. 41).
Tradicionalmente a Teologia protestante tem compreendido que salvação é um ato único e histórico, resultado exclusivo da graça e a santificação como um processo transitório que cada cristão vai galgando ao longo de sua vida. Costas parece concordar com J. Stott que compreende as duas: salvação e santificação, andando lado a lado, ato e processo que precisam ser desenvolvidos.


terça-feira, 13 de março de 2018

COMPROMISSO E MISSÃO – 1ª parte


Considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

O texto de Orlando Costas trata de um assunto “velho”, mas não “ultrapassado” – como chama a atenção o Prof. Bonilla na apresentação do trabalho. Compromisso e Missão é uma reflexão sobre a missão da igreja neste mundo de incertezas em que vivemos. Esta é a proposta do livro que está contida no subtítulo e a empreitada a que Costas – um teólogo porto-riquenho – se propõe nesta obra: uma reflexão sobre os desafios e implicações de missão da igreja no contexto histórico e de vida em que ela vive. Mas o texto não é simplesmente uma observação, mesmo que criteriosa, de fatos e contextos; é uma significativa reflexão teológica sobre o papel que a igreja tem a desempenhar dentro do projeto do Reino de Deus.
Segundo o próprio Costas, “o presente tomo surge de experiências teológico-pastorais em diferentes partes da América Latina” (p. 7). Assim cada capítulo foi originalmente preparado com objetivos distintos e somente depois foram reunidos neste trabalho. O primeiro capítulo – preparado para um congresso na Costa Rica em 1977 – trata da missão cristã na América Latina hoje. Os capítulos seguintes tratam da missão como atividades a serem desenvolvidas e vivenciadas pela igreja: proclamação; discipulado; mobilização; crescimento integral; libertação e celebração. Mas a reflexão sobre a missão da igreja deve conduzir-nos a uma visão e reafirmação do compromisso da igreja em missão com aqueles os quais “o mesmo Jesus Cristo se comprometeu” (Bonilla, p. 13).
Como se apresenta na América Latina hoje a missão cristã? Como se entende e que forma toma?
Refletindo sobre estas questões Costas apresenta duas categorias que ajudam a compreender como se apresenta hoje a missão da igreja na América Latina: “tradição” e “reconstrução”. Tradição é o processo de formulação e reformulação que caracteriza a missão na sua passagem de geração a geração. Neste aspecto a missão e a tradição andam de braços dados e conduzem a uma nova reflexão sobre a igreja e seu papel dentro da história. Por isto mesmo, toda tradição missional da igreja deve conduzi-la a uma reconstrução – reconstrução tanto da sociedade que precisa ser alcançada pela missão cristã como da própria missão em si com seus vários aspectos.
Na história da missão cristã protestante na América Latina a reconstrução sempre se mostrou como a via condutora que conduziu a igreja. As missões protestantes que chegaram a América Latina formaram-se, na sua grande maioria, com propostas de modelos “civilizador” e “evangelizador” (citando J.M. Bonino, p. 17). Costas comenta:
Estes dois modelos de reconstrução missional tinham, certamente, seus pontos de contato. Ambos procediam de mesmo ambiente geográfico-cultural: o mundo anglo-falante. E ambos se haviam feito possível econômica e politicamente graças ao movimento liberal modernista do século XIX (p. 18).
Vale aqui concordar com as observações do autor. As condições sociais e histórica peculiares do século XIX conduziram o cristianismo protestante, principalmente inglês e norte americano, a engajar-se no projeto de missionário. Paralelamente ao esforço de ganhar o mundo para Cristo, a empresa missionária protestante típica do século XIX, ocupou-se na criação de orfanatos, hospitais e principalmente escolas que serviriam para divulgar e fomentar as idéias do cristianismo anglo-saxão que chegavam como proposta civilizatória. Lembrando Max Webber: a ética protestante se apresentava como a fórmula que levaria os países latinos americanos ao progresso tão almejado, como o tinha feito nos países do norte da Europa e nos EUA. É neste contexto que Costas observa que a visão evangelizadora da missão propunha uma reconstrução da “imagem da igreja como instituição centrípeta e clerocêntrica em comunidade centrífuga e laicocêntrca” (p. 21).
Aqui floresce então um pentecostalismo, como expressão de uma cristianismo carismática que irá trazer sempre a tona os impasses entre o novo e o velho na vida da igreja. Ou seja, o cristianismo que chegou com as missões protestantes traziam no seu bojo uma proposta inovadora de progresso humano e social; ao se estabelecer formulou sua própria tradição que, por isto mesmo, tende a se institucionalizar e cristalizar. Costas observa:
Essa realidade se move entre o desejo e luta por novas formas de entender e efetuar a missão cristã entre os grandes desafios continentais, e o zelo e luta por conservar o legado missional de nossos antepassados. E entre essa dialética vive (e morre) a missão cristã na América Latina Hoje (p. 26).

Leia mais:
1. A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO
2. A MISSÃO COMO DISCIPULADO
3. A MISSÃO COMO MOBILIZAÇÃO
4. A MISSÃO COMO CRESCIMENTO INTEGRAL
5. A MISSÃO COMO LIBERTAÇÃO
6. A MISSÃO COMO CELEBRAÇÃO

sexta-feira, 9 de março de 2018

JUSTIÇA E VINGANÇA EM APOCALIPSE


No contexto das batalhas do Apocalipse, principalmente quando é mostrada a queda a Grande Babilônia, aparece o tema da justiça e da vingança de Deus sobre os arrogantes, infiéis e adoradores do mal (Ap 18). Este é um tema por vezes complicado. Mas acredito que mesmo não sendo central – o importante é a verdadeira adoração ao Cordeiro – mas vale uma reflexão. Acompanhe o raciocínio.
Uma luta feroz foi travada entre os agentes da maldade – o dragão, as bestas e seus seguidores – e os que permaneceram fieis a Deus e somente a ele prestaram culto. E a Babilônia representa tudo de ruim e diabólico que pode se juntar para tentar afrontar Deus e sua dignidade única de receber adoração. É neste contexto beligerante que a justiça de Deus será exercida e a exultação dos seus ocorrerá.
De um lado estão os agentes da morte, do caos, da destruição: aquele que só vem para matar, roubar e destruir (fraseado de Jo 10:10). São estes que ao longo da história humana se concentraram na Babilônia sempre e de diversas formas para atentarem contra os que se mantiveram santos.
Do outro lado está o Cordeiro que é digno de toda adoração porque foi morto e com seu sangue comprou gente de todo canto da terra. E embora em alguns momentos até tenha parecido que o dragão da maldade estivesse ganhando a luta, a história sempre se manteve sob o controle do único que pode abrir os selos do livro da história humana (leia Ap 5:9).
Mas onde entra a vingança e a exultação neste arrazoado todo? Prossiga comigo. Há pontos a se considerar. Primeiro que a ação divina na história humana não é resultado de um intento apenas punitivo. Ou seja, Deus não almeja punir, mas purgar a terra e a humanidade decaída (considere Rm 8:18-25).
Ao contrário de Satanás que planeja se vingar de Deus destruindo sua obra-prima, o próprio Deus tem um plano para remir e trazer para junto de si toda a criação, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (o bem conhecido Jo 3:16). E enfatizo o pronome todo. Deus providenciou o meio de resgatar a sua obra das consequências do mal. Ora, isso não é vingança pura, é ato corretivo apaixonado e gratuito.
E tem mais. Apocalipse não traduz a história com olhos universais. Isso seria pura ingenuidade e certamente haveria de desconsiderar a realidade de que ao longo do tempo muitos se deixaram seduzir (embriagar) pelo poder e fascínio da besta encarnada na Babilônia (considere Ap 13:8-9 e 17:6). E contra estes Deus certamente exercerá seu justo juízo (indispensável ler Jo 3:36).
Antes de terminar, vou estender um pouco mais esta reflexão. Durante este processo de justiça e purgação que Deus tem produzido na obra criada, é certo que até os crentes fieis acabam sofrendo – e algumas vezes antes dos outros e de forma mais dura! – então, por que isso acontece?
Entendo que é na carta de Pedro que a resposta está mais clara e ajuda a entender todo este desenrolar da purificação. A epístola apostólica me diz que Deus já começou o julgamento (purificação) pelos seus (confira 1Pe 4:17) e continua: “Qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?”
Assim, volto ao Apocalipse entendendo o cântico de gratidão, alívio e principalmente louvor executado pelos santos pois finalmente chegou o momento de Deus colocar todas as coisas nos seus lugares devidos e agora a história humana pode encontrar seu destino apropriado.
Aleluia! A salvação, a glória e o poder
pertencem ao nosso Deus,
pois verdadeiros e justos
são os teus juízos.
(Ap 19:1-2)

 


Leia também o livro TU ÉS DIGNO - Uma leitura de Apocalipse.  Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada.


Disponível na:
AD Santos Editora

 

terça-feira, 6 de março de 2018

VIDAS SECAS


Lendo o livro do professor João Ferreira sobre livro "Vida cristã e participação política" (publiquei uma resenha recentemente, veja aqui), a certa altura, comentando sobre a triste realidade que a corrupção chegou ao Brasil a bordo das caravelas de Pedro Álvares Cabral – logo não pode atribuída como cria do governo petista (p. 89) – ele apresenta dois termos gregos clássicos: 'eulabeia' e 'foerbeia' (literalmente: vergonha e cabresto) para analisar o que estão querendo fazer conosco.
Lendo o texto do mestre, eis que me veio logo à lembrança a canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas composta em 1953 para criticar a atitude humilhante e pouco eficiente das elites que governaram o país por décadas e nunca resolveram o problema da seca nordestina, mas apenas nos ofereceram humilhações e discursos vazios.
Mas vou deixar toda conversa mole e apenas transcrever a letra. Ela fala por si só.

Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão

É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage

Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos