terça-feira, 22 de julho de 2025

SEPARAÇÃO IGREJA x ESTADO – um pouco de história

 


A Reforma Protestante que chegou a Inglaterra nos séculos XVI e XVII foi provocada originalmente pela opção política do rei Henrique VIII de romper com a Igreja de Roma e assumir o controle da estrutura eclesiástica no seu país insular.  Ele não visava nenhuma questão doutrinária ou moral, pelo contrário, tinha como pano de fundo a justificativa de legitimar a quebra de seus votos conjugais.

Nesse contexto alguns sinceros cristãos ingleses entenderam que seria preciso deixar a tutela da igreja estatal inglesa e produzir uma verdadeira reforma que purificasses as congregações e seus fiéis dos erros históricos que foram acumulados, trazendo de volta a igreja a sua fidelidade primitiva. 

Entre esses cristãos estavam o ministro John Smyth e o advogado Thomas Helwys, que, num exílio na Holanda, deram início a um movimento que se entendia a partir da herança comum bíblica e do Credo Apostólico e se sentia familiarizado com as Solas postuladas pelo movimento da Reforma Protestante.  Contudo se firmaram e distinguiram por adoção de princípios gerais que os nortearam.

Entre esses princípios, é importante destacar: a suficiência das Escrituras; a liberdade de opinião; o sacerdócio universal de todos os salvos; a autonomia da igreja local; e a separação entre a igreja e o estado.

Com tais princípios gerais o grupo, que logo foi apelidado de Batistas – em referência a prática do batismo praticado por imersão – se expandiu e estruturou mantendo seus valores fundamentais.

O primeiro e principal princípio batista que nos distingue desde a origem é a intransigência quanto ao apego à Bíblia como única regra de fé e pratica.  Entre nós não há Credo preestabelecido por Concílio autorizado por poder superior, mas a Palavra de Deus nos é suficiente para estabelecer e embasar todos os nossos princípios de crença e conduta, de teologia e de ética, de doutrina e relacionamentos.

Partindo dessa compreensão bíblica, os batistas afirmaram como princípio desde a sua origem – os identificando como grupo cristão distinto – a afirmação de que cada crente em si exerce o seu sacerdócio diretamente diante de Deus com quem se relaciona também diretamente, prestando contas somente a ele como Senhor de sua vida – mesmo vivendo em comunidade eclesiástica.

Derivando também daí, afirmou-se primordialmente a liberdade de cada ser humano de expressar livremente suas mais diversas opiniões quanto às questões que tocam sua vida e sua comunidade – inclusive quanto ao tema da fé.  Em consequência, os crentes que seu reúnem em uma igreja local devem ter a autonomia suficiente para tratar, administrar e resolver suas questões locais, sem que nenhuma autoridade superior e alheia lhe determine como agir e proceder e crer.

Por extensão na defesa das liberdades individuais, como princípio fundante dos batistas sempre esteve a defesa de que a Igreja, enquanto instituição local e histórica, nunca deveria se submeter a que o rei – ou o poder político temporal – determinasse seu sistema de crenças e valores.  Nem deveria a instituição social – igreja – interferir nas decisões estatais.  Ficando cada uma a exercer seu domínio no seu campo específico.

Continuando na caminhada histórica, depois do primeiro momento europeu do grupo batista, e buscando encontrar um lugar para poder viver livremente seus princípios, parte do grupo migrou para a América do Norte.  Ali ajudou de maneira indelével na formação moral e social da nação a ponto de que alguns de seus princípios fossem incorporados como valores nacionais.

Essa influência batista, na formação dos Estados Unidos, foi tão forte – inclusive na questão das liberdades individuais e da separação da igreja e estado que foi atestada por Thomas Jefferson, um dos pais fundadores da nação.  Disse ele: “eu contemplo com reverência soberana que age de todo o povo americano, que declarou que sua legislatura deve 'fazer nenhuma lei respeitando um estabelecimento da religião, ou proibindo o seu livre exercício', assim, construindo um muro de separação entre Igreja e Estado”.

E, a partir daí, esses valores e princípios passaram a nortear todo o ocidente, onde se compreende que o estado deve se manter equidistante das questões de fé.  Inclusive no Brasil, que inseriu em sua Constituição de 1988, no seu artigo 5º – inciso VI, que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”

(Da Revista DIDASKAIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

 

terça-feira, 15 de julho de 2025

O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE O FIM

 



Reflexão bíblica baseada na profecia do Apocalipse analisando o que o texto sagrado diz sobre o fim dos tempos e da história.


quarta-feira, 9 de julho de 2025

DECRETOS E ONISCIÊNCIA

 


A doutrina da onisciência de Deus está entre as fundamentais de nossa Teologia Cristã.  Ela precisa ser entendida em sua essência.  Mas, como em sua colocação você alinhou aos decretos divinos, vamos tentar emaranhar o assunto – talvez ajude.

Antes: a sua frase de que “Deus sabe de todas as coisas porque ELE decretou tudo” não é uma citação literal das Escrituras Bíblicas – talvez apenas por inferência.  Mas, digo logo, como método teológico, vejo dificuldade.

Quanto ao Salmo 139, é realmente uma das melhores citações quando buscamos compreender a onisciência divina.  Por isso é salutar caminhar com ele.

O poema sagrado – atribuído a Davi – é composto como uma oração, uma declaração direta afetuosa dirigida a um Deus criador, onipresente e onisciente.  É um EU buscando um TU.

Para melhor compreensão, deixe-me dividir em partes.  Em resumo: nos versos 1 a 6 há uma afirmação explícita de que o Senhor conhece todas as coisas e não há limitação para o seu saber.  Porém a compreensão dessa verdade “é grande demais para eu compreender” (Sl 139:6).

Nos versos 7 a 12 o salmista expõe sua certeza que o Senhor está em todo lugar e por isso é impossível escapar de sua presença.  Mas tal verdade não o assusta, já que em todo lugar “tua mão me guiará e tua força me susterá” (Sl 139:10).

Entre os versos 13 e 18 o poema segue reconhecendo o amor criativo de Deus.  E mais: ELE não é apenas um Criador alheio, mas alguém que me forjou “de um modo tão extraordinário” (Sl 139:14).

 

Aqui chegamos ao verso #16 –

Teus olhos me viram ainda informe,
e no teu livro estavam escritos todos os meus dias
mesmo antes de terem sido tecidos
.”
(Sl 139:16)

 

Talvez aqui esteja uma sinalização de convergência entre a onisciência de Deus e seus decretos – como você sugeriu. 

O Salmo, porém, ainda vai me levar adiante.  Nos versos seguintes, depois do reconhecimento humilde da grandiosidade divina, Davi constata que, em relação aos pensamentos e conhecimento de Deus, eu “não sou capaz de contá-los; são mais numerosos que os grãos de areia” (Sl 139:18).

Aqui, na minha compreensão do Salmo, o salmista em sua poesia se rende diante da certeza da completa impossibilidade de sequer avaliar, comparar, dimensionar ou enumerar a mente e os pensamentos divinos.  E textos como Ec 11:4, Is 55:9 e Rm 11:34 vão na mesma direção.

Temos então demarcada essa verdade bíblica: para nós humanos é impossível estabelecer um padrão, mínimo que seja, de comparação entre a mente divina e sua forma de arquitetar seus pensamentos e nossas ideias, ciências e teologias limitadas.  Cito Agostinho de Hipona – provavelmente o que melhor descreveu esse abismo:

“Em Deus não há, como em nós, a previsão do futuro, a visão do presente e a recordação do passado.  É totalmente diferente a sua maneira de conhecer, ultrapassando, muito acima e de muito longe, os nossos hábitos mentais” (in Cidade de Deus).

Voltamos à sua questão lá em cima:

Os decretos de Deus são baseados em sua onisciência?
Ou sua onisciência está baseada em seus decretos?

Numa resposta simplória eu diria que nem uma coisa nem outra.  Deus é onisciente porque é Deus e ELE é Deus porque é onisciente.    Deus promulga seus decretos porque é Deus e ELE é Deus porque promulga seus decretos. 

Assim, mesmo todos os atribuídos divinos sendo intercambiáveis entre si, ELE os administra absolutamente de acordo com a sua vontade somente, não estando subordinado a nada nem a nenhum conceito. 

E mais.  Onisciência é um atributo essencial e intrínseco de Deus (incomunicável, na linguagem teológica tradicional) e os seus decretos ELE os dá por ser “regente e governador de todas as coisas” (no fraseado de Calvino), logo pelo seu amor relacional com a humanidade.

E, para terminar, uma citação a partir do profeta Ezequiel:

 

“Quando passei por você outra vez, vi que já tinha idade de amar.  Então eu a envolvi com meu manto para cobrir sua nudez e pronunciei meus votos de casamento.  Fiz uma aliança com você, diz o Senhor Soberano, e você se tornou minha.”
(Ez 16:8).

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Ceando na intimidade com Jesus

 

Reflexão bíblica baseada na celebração da última ceia entre Jesus e seus discípulos na sala íntima, destacando o lava-pés e a disposição do Mestre em se relacionar com os seus. 


Baseado em João 13