É interessante o paradoxo que vivenciamos na vida quando se afirma que, chorar é bom para alma, mas por vezes ouvimos, não chore. Não faça do choro uma expressão dos seus sentimentos para se tornar refém de quem quer que seja. Não chore porque as pessoas não vão te entender e vão até querer manipular sua vida por causa disso. É o dilema existencial vivido por muitos em suas dores, seus sentimentos. Querem expressar, precisam fazê-lo, mas são tolhidos, banalizados ou simplesmente desprezados. Como poder superar a crise da alma quando precisa extravasar e colocar para fora aquilo que aperta o peito, comprime a emoção, fere no mais profundo do ser? Como não perder nossa humanidade em meio à tentativa da camuflagem quando mais precisamos continuar sendo gente que experimenta todos os seus dilemas diante dos ditames da vida?
Porém, há outros momentos
de nossa caminhada humana que depois de um tempo de choro, do extravasar da
alma, podemos ouvir a voz mansa do Mestre Jesus Cristo dizendo: “Não chore”. Em outras palavras estaria Ele dizendo para
cada um de nós: “Não precisa continuar chorando. Suas dores são minhas dores, sua angústia
tomei-a na cruz, seu pesar não tem necessidade de continuidade, porque Eu Sou e
estou aqui, junto com você”. Que alegria
podermos saber que é em meio ao chorar que podemos experimentar a manifestação
da Graça de Deus, que é em meio ao turbilhão de dúvidas e crises que podemos
ouvir sua doce voz, que é em meio à nossa humanidade vivida em sua plenitude
que podemos experimentar o gozo do descanso e da renovação da própria vida.
Chorar e não chore; nesse
dilema da vida encontra-se a beleza do ser gente e do poder perceber a
plenitude a Graça e do viver do Senhor em cada um de nós. É nesse sentido dicotômico que percebemos
nossa fragilidade e o quanto carecemos do Senhor e de sua manifestação
diretamente em nossa essência como humanos.
É nessa experiência de humanos que podemos vislumbrar um novo tempo,
novas oportunidades e quanto nossas carências são alvo da Bondade e da
Misericórdia do Senhor. É nesse dilema
de chorar e não chorar que podemos vivenciar a alegria comunitária do cuidar
uns dos outros, experimentar em toda plenitude o que é ser gente, ser humano na
mais pura expressão da palavra e de sua essência e com isso, continuar a
caminhada no processo de santificação onde, plenamente, o humano e a
manifestação da Graça de Deus se encontram e vivenciamos a doce voz do Senhor
Jesus: “Não chore, não precisa continuar chorando, ‘porque Eu estou com você
todos os dias, até à consumação dos séculos’ ”.
Gerson de Assis Perruci
Pastoral publicada no boletim da Igreja Batista das Alterosas/BH
– Domingo, 25 de setembro de 2016.