terça-feira, 29 de setembro de 2020

PONTO RETORNO

 
 


Tem se falado muito nesses dias sobre o novo normal.  Serão novos tempos, novos valores, novos padrões, novos paradigmas.

E a pergunta inicial é essa: — Seremos novos humanos?Nova sociedade?

Sinceramente não acredito que o dito novo normal por si só vai fornecer respostas satisfatórias para essas perguntas iniciais.  E tenho uma justificativa simples: de semente de pimenta não nasce goiabeira!  Por mais que se adube a terra!

Mas não sou pessimista.  Pelo contrário: tenho um gene que insiste em acreditar naquele que há de vir.  Aí teremos novos céus, nova terra e certamente novo normal.

Então, sem perder essa perspectiva, vou esmiuçar um pouco esse quadro.

 

Bem, aqui resolvi eu mesmo tomar um ponto retorno.  Já tinha escrito vários outros parágrafos bem sérios e áridos sobre o como e o porquê do novo normal.  Tinha falado sobre objetividade, perspectivas, ressignificação e seguia por aí.

Apaguei tudo.  Estava bem chato e com cara de apenas textão de internet.

 

Então, vou apenas concluir essas poucas letras com uma certeza.  Aceito que chegamos a um ponto de retorno no qual precisamos decidir o que fazer com nossa caminhada.  Para onde estou indo e para onde está apontado meu oriente.

É verdade que não se muda sedimentos de séculos acumulados em meses de com máscaras no nariz.  Não se dá cavalo de pau em transatlântico!

Mas, agora nesse ponto retorno da história, que roteiro tomarei?

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

TEM PÃO NO CÉU?

 


Mexendo em coisas de cozinha, André me veio com essa:

— Tem pão no céu?

E de pronto, sem nenhum tipo reflexão ou análise teológica eu respondi:

— Tem sim. Jesus é o pão da vida.  E ele está no céu!

 

Passou-se algum tempo.  As ideias ficaram lá num canto qualquer da cabeça.  Ocupei-me com outras tarefas.  E agora, retomo as cogitações.

 

Pensando bem: teologia e comida são irmãs.  Talvez até não tenham nascido do mesmo útero, mas com certeza foram embaladas no mesmo colo.

 

Então, e quanto ao pão no céu?  Vamos trabalhar com o conceito para chegar a uma resposta.

 

A Bíblia nunca forneceu uma cartografia precisa do porvir, nem deu detalhes do cardápio que será servido nas bodas do Cordeiro.  Mas é fácil notar que a percepção do paraíso perdido nutriu a idealização do céu e o recheou de ilustrações.  A nostalgia do Éden arquitetou o céu.

O Éden é pura fruição, é a delícia que nos sacia, é o lar que nos acolhe.  O céu é a esperança de sua restauração.  Então aquilo que a queda nos tirou, a graça nos concederá.

E assim os filhos de Israel – que viviam cercados das areias do deserto – descreveram seu paraíso como um jardim.

Se fossem siberianos citariam uma morada quentinha e aconchegante.

Mas a vida não se resume a geografia.  A vida se faz mais que isso.  E o Éden do náufrago é a terra firme, do órfão é o colo materno, do solitário é o abraço fraterno, do faminto é a mesa farta.

Esse vazio imenso que me consome por dentro como uma fome de vida, eu sei que receberei como um banquete eterno.

— Tem pão no céu?

— Sim. E tem mais. No céu tem jardim, tem morada quentinha, tem terra firme, tem colo materno, tem abraço fraterno e tem mesa farta.

 

"Porque ele vai enxugar toda lágrima que ainda molha seu rosto. Daí não haverá mais nem morte, nem choro, nem lamento, nem dor. É que tais coisas ficaram para trás" (Ap 21:4).

 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

CAUDILHOS ECLESIÁSTICOS

 


Segundo o dicionário, caudilho é um chefe militar, geralmente de forças irregulares que lhe são fiéis; um chefe político que possui uma força militar própria.

Essa prática política herdada da dominação ibérica se caracterizou por um lado pelo uso da força e violência em defender latifúndios e grupos conservadores, e por outro por sempre se revestir de um discurso populista e paternalista.

Em nossa história latino-americana ela foi quase hegemônica no século XIX vindo depois a perder força ao longo do século seguinte.  Vimos vários caudilhos se sucederem na dominação de nosso povo, desde Manuel Oribe no Uruguai e López de Santa Anna no México, passando por Fulgêncio Batista em Cuba e pelos Duvalier no Haiti.

 

— Aqui mando eu e vocês têm que se curvar à minha vontade.  Eu tenho direitos e vocês obrigações.  Eu cuido de vocês se me forem fiéis!

 

Quando eu olho hoje para algumas igrejas e comunidades de fé tenho visto se repetir esse padrão.  Há caudilhos em nossas instituições religiosas e eclesiásticas. — Aqui mando eu ...

Ressalva importante: não tenho dados estatísticos para atestar minhas observações, mas quero manter a esperança e crença de que os caudilhos eclesiásticos são exceção, embora reconheça que atitudes como essas não são exatamente novidade na história da igreja – infelizmente.

Esse fenômeno, contudo requer análise mais amiúde.  Em linhas gerais vou listar dez atitudes e posturas que caracterizam um caudilho eclesiástico e como identificá-lo.

 

1.      Administra e controla a sua comunidade de fé a partir da imposição do poder das regras religiosas.  Excesso de legalismo e rigidez normativa.  Usa sempre a lei e a sua interpretação ao seu favor.

2.      Apresenta-se com o representante oficial da divindade tendo com isso uma autoridade personalista e individual.  Toda a ligação entre o sagrado e a comunidade tem que passar por seu crivo.

3.      Seu discurso se baseia em ameaças de terror e medo imposto.  As condenações divinas e o castigo são usados como um instrumento controle comunitário.

4.      Mantém uma atitude paternalista, comportando-se como o pai /patriarca na fé que supre as necessidades e tem todas as respostas espirituais do rebanho.  É sempre ele, e somente ele ou seus prepostos, quem cuida e tem o alimento espiritual para a comunidade e quem faz a leitura e interpretação particular da Bíblia.

5.      Estabelece uma rígida hierarquização da comunidade de fiéis, separando-os entre mais e menos santos/espirituais/doutrinados.  Oferece pouco espaço para leigos. Valoriza cargos e títulos, mesmo que espirituais.  Ele mesmo se posiciona em relação a outras lideranças como sendo de uma casta superior.

6.      Ênfase excessiva em números, resultados e performance tanto social, como espiritual e institucional.  Leva a comunidade a se comprometer com seus alvos, metas e projetos e sua visão única da fé e do cristianismo.

7.      Estabelece limites de convívio e contato dos seus fiéis com outros líderes e comunidades cristãs.  É exclusivista.  Não tolera comparações, e nem permite que sua igreja seja vista dentro de um espectro maior e histórico da igreja.

8.      Carismas e manifestações espirituais são mantidos sob controle rígido.  Estimulando ou rechaçando; incentivando ou proibindo de acordo com seus próprios critérios.  Consequente manipulação das bênçãos.

9.      Conservadorismo em assuntos de liturgia e costumes.  Ao estabelecer um padrão de forma de culto, louvor e adoração, esse deve ser repetido e mantido inalterado.  Da mesma forma as regras de costumes, moda, linguajar e relacionamentos.

10.  Não concede nenhum espaço para reflexão ou crítica de nenhuma forma.  Tudo que é dito, pregado ou ensinado deve ser acatado, seguido e defendido sem qualquer tipo análise ou avaliação – nem teológica, nem histórica, nem bíblica.

 

Cada um desses pontos possibilitaria uma desconstrução a partir do longo e rico lastro que o cristianismo nos legou, mas vou apenas ler o nosso texto sagrado, nossa única regra de fé e prática individual e eclesiástica, e a partir da sua ótica estabelecer critérios.

O apóstolo Pedro na sua primeira carta instrui aos presbitérios que pastoreiem e cuidem de seus rebanhos sem ganância, mas com a atitude de serviço.  E nunca ajam como caudilhos daqueles que lhes foram confiados pelo Supremo Pastor (1Pe 5:1-4).

E o Mestre estabeleceu o critério de vivência e relacionamentos na igreja que ele fundou, e o posicionamento a ser esperado de sua liderança: "o padrão entre vocês será o seguinte: mais prestígio terá quem se submeter, e vai liderar quem servir". E o exemplo é o próprio Cristo (Lc 22:26-27).

Que nos dê o Senhor da igreja líderes com espírito servil para a sua glória.

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

DEMONSTRANDO PODER

  


Uma maneira de Jesus evidenciar o Reino de Deus foi através de operação de milagres, curas e outras demonstrações públicas de seu poder e autoridade.  Não que com isso Jesus estivesse interessado em transformar seu ministério em espetáculo, mas com a realização de tais atos sobrenaturais, Jesus estaria tanto atendendo as pessoas em suas necessidades quanto atestando sua autoridade.

É interessante, contudo, observar que a cada nova manifestação de poder, as reações eram sempre diferentes.  Embora acompanhadas de temor e admiração.

Note alguns: a) quando acalmou a tempestade, seus discípulos questionaram seu poder (em Lc 8:25); b) quando tratou do endemoniado gadareno, seus conterrâneos pediram que se retirasse (em Lc 8:37); c) quando ressuscitou a filha de Jairo, este ficou maravilhado (em Lc 8:56); d) igualmente os pais do jovem possesso que foi liberto (em Lc 9:43); e e) a multidão ficou saciada depois de se alimentar com os pães e peixes multiplicados (em Lc 9:17).

Ou seja, é impossível ficar indiferente diante da manifestação do poder e autoridade de Jesus e do que ele realiza na vida de seus discípulos.  Alguns sempre perceberão o que Jesus tem realizado e, tomados de temor, o reconhecerão como o verdadeiro Cristo, o filho de Deus; enquanto outros, por causa de igual temor, procurarão fugir e não se comprometer com ele.

(Extraído da Revista “Lucas” – Editora Sabre)

terça-feira, 15 de setembro de 2020

TABELA DE MEDIDAS BÍBLICAS – Distância e área

Ainda oferecendo recursos para um estudo mais detalhado da Bíblia e do seu contexto, apresento aí uma tabela com as principais medidas de distância e área utilizadas no tempo em que o texto foi escrito.


 

 

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

LEMBRE-SE ANTES

 

Há certa poesia melancólica no final do livro de Eclesiastes (Qohelet)

Na verdade, todo esse livro do Antigo Testamento destila um sentimento de frustração e nulidade. — "Tudo é vaidade e correr atrás do vento" – esse é o mote que percorre todo esse escrito sapiencial hebreu.

Mas, no final do seu texto, o pregador deixa seu desencanto ser tocado pela beleza do entardecer e faz uma descrição do ocaso da vida, pintando-o com belas cores do poente.

No texto, o convite à alegria da juventude (Ec 11:9) contrapõe-se aos dias nos quais não restam deleites (Ec 12:1).  E segue-se a descrição desses dias, completamente carregada de melancólica poesia:

 

Reavive em sua mente o seu Criador
Enquanto você é jovem.

Antes que cheguem os dias e os anos nos quais venha a confessar
não ter mais com o que se satisfazer.

Antes que a luz do sol se obscureça.
E lua e estrelas sejam encobertas por nuvens,
mesmo depois das primeiras chuvas.

Pois vão chegar dias em que até os guardiões da casa vão tremer
E os varões vão se encurvar.

Dias nos quais os raros moedores cessarão
E pelas turvas janelas já não se verá mais o brilho

Dias quando estarão cerrados os portais externos,
Quando será difícil ouvir o ranger das moendas
E até o assobio dos pássaros parecerá silêncio.

Dias em que qualquer altura o assustará como perigos nas ruas.
Dias em que o gafanhoto será um fardo.

Quando já não se despertar, nem pulsar o desejo.

 

Reavive em sua mente o seu Criador
Enquanto você é jovem.

 

Porque vai chegar o tempo do homem voltar para a casa eterna.
É só restarão dele as lágrimas das carpideiras errantes.

 

Lembre-se daquele que o criou antes que a vida vá se pondo como um entardecer.  Antes que olhos, braços, dentes, ouvidos, passos, e desejos se esvaiam.  Enquanto há alegria e folguedo na vida, lembre-se daquele que te fez brotar em pulsos de vida.

Lembre-se agora.